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Coronavírus e petróleo pautam mercados


O mercado financeiro volta do feriado prolongado com as atenções divididas entre a pandemia de coronavírus e o acordo histórico em torno do petróleo. De um lado, o número de casos confirmados da doença no mundo superou 1,8 milhão, sendo 560 mil só nos Estados Unidos, e alcançou mais de 110 mil mortos, com o Brasil representando 0,01% do total de óbitos, oficialmente. De outro, os países produtores da Opep e aliados decidiram cortar a produção diária de petróleo em quase 10 milhões de barris.


O grande acordo selado ontem entre 23 países - entre eles, Arábia Saudita, Rússia, EUA e México - irá reduzir em 9,7 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) a oferta global da commodity a partir de maio, pondo fim à guerra de preços entre sauditas e russos. Após junho, o corte será reduzido para 7,6 milhões por dia até o fim do ano e, em seguida, para 5,6 milhões de 2021 até abril de 2022.


Em reação, o barril dos tipos WTI e Brent altera altas e baixas desde ontem, o que também provoca um comportamento errático em Wall Street, com os investidores vendo o corte como insuficiente para compensar a demanda mais fraca devido a paralisações de negócios e viagens por causa da pandemia.


Com isso, o sinal negativo prevalece nesta manhã nos índices futuros das bolsas de Nova York, onde as atenções também estão voltadas para os resultados trimestrais de grandes bancos, a partir de amanhã. Na Ásia, o pregão foi perdas, exceto em Hong Kong. Já na Europa, as principais bolsas permanecem fechadas, ainda por causa do feriado da Páscoa.


Entre as moedas, o euro e o iene caem, enquanto a libra sobe. O dólar também ganha terreno em relação às moedas de países emergentes. Nos demais mercados, o minério de ferro oscilou em alta e o ouro se enfraquece, enquanto o rendimento dos bônus norte-americanos estão de lado.


A ver, então, como comportamento do mercado internacional irá influenciar os negócios locais. No último pregão, na quinta-feira passada, a Bolsa brasileira não teve forças para acompanhar os ganhos apurados em Wall Street e interrompeu três altas consecutivas, sucumbindo à realização, com o feriado prolongado trazendo cautela. O dólar, por sua vez, caiu pela quarta sessão, quebrando uma sequência de sete semanas de valorização.


“É a economia, idiota”


Por aqui, a postura do presidente Jair Bolsonaro contra as medidas de combate ao coronavírus somada à queda na adesão ao isolamento social no Estado de São Paulo e à carreata com buzinaço de manifestantes contra o governador João Doria nas ruas da capital refletem a dificuldade que o país enfrenta para conter a pandemia.


Ontem, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cobrou uma “fala única” sobre o combate à disseminação do novo coronavírus, o que pode reservar novas tensões políticas em Brasília. Mas o fato é que a dubiedade nas orientações deixa a população confusa, aflorando motivações políticas em uma questão de saúde pública.


Como resultado, o Brasil é o 14º no mundo em casos da doença, com mais de 22 mil confirmados oficialmente. A taxa de letalidade é de 5,5% - maior que a dos EUA, que lideram o número de infectados e de óbitos por Covid-19. Mas como o Brasil é o país o que menos realiza testes entre o 15 mais atingidos pela doença, a subnotificação é grande.


Ainda assim, a narrativa de Bolsonaro e seus apoiadores é previsível. Ao eleger o custo econômico do isolamento social como a maior preocupação, ao invés do combate ao vírus, essa parcela da população sabe que, em alusão à campanha presidencial do então candidato Bill Clinton em 1992, “é a economia, idiota” o que realmente importa.


E ao fazer tal escolha, seja qual for o resultado pós-pandemia, essa ala pode levar a melhor. Afinal, se houver uma tragédia, em termos de mortes, o presidente irá reiterar que o “confinamento em massa” não adiantou. Mas se as medidas de restrição adotadas nos estados derem certo, vai reforçar o discurso de que se tratava apenas de uma “gripezinha”.


Ainda assim, em ambos os casos, os indicadores econômicos seguirão péssimos. Já se houver menos mortes que o esperado, ele vai dizer que o isolamento social era desnecessário e irá acuar os governadores - seus adversários em 2022 - pelo cenário caótico da economia.


Bolsonaro poderá ainda dizer que tinha as soluções, mas que não foi ouvido, ao defender o uso da cloroquina como se fosse uma vacina e incentivar a exposição ao vírus, relegando a eficácia controversa e os graves efeitos colaterais desse medicamento. Seja como for, os estragos na economia estarão lá.


O fato é que essa estratégia do presidente (e seus apoiadores) exime a responsabilidade do governo federal em agir para amenizar os impactos econômicos da pandemia de coronavírus. Afinal, só uma ampliação dos instrumentos de transferência de renda e de ajuda às empresas é capaz de manter o emprego e o poder de compra da população.


Ao fazer assim, as pessoas não precisariam sair de casa e garantir o sustento, como defende Bolsonaro, para não sofrerem destruição de renda sob o risco de serem contaminadas. Mas essa não é a escola do ministro Paulo Guedes. O Chicago oldie não sabe como fazer para liberar dinheiro e desconhece por completo o que é um Estado forte.


Por isso, Guedes quer barrar a pauta “bomba” de auxílio a governadores e prefeitos, que deve ser votada hoje na Câmara. A equipe econômica deve encaminhar uma proposta para transferir até R$ 40 bilhões a estados e municípios para enfrentar a pandemia. Em troca, os reajustes salariais de servidores públicos deve ser suspenso por dois anos.


China em destaque


A agenda econômica desta semana traz como destaque os números do Produto Interno Bruto (PIB) da China no primeiro trimestre deste ano, que deve trazer os reflexos do surto de coronavírus no país, que paralisou praticamente toda a economia no período. Juntamente com os dados saem o desempenho da indústria e do varejo chinês, em março.


Os dados são esperados para a noite de quinta-feira. Na manhã do mesmo dia é a vez da produção industrial na zona do euro. Um dia antes, nos EUA, saem os números da indústria e do varejo. Ainda na quarta-feira, serão conhecidos os resultados trimestrais de grandes bancos norte-americanos, a começar pelo JP Morgan, na terça-feira.


Já no Brasil, a agenda econômica está bem mais fraca, trazendo como destaque apenas o índice de atividade do Banco Central (IBC-Br), amanhã. Hoje, merece atenção a pesquisa Focus do BC, que deve trazer novas revisões para baixo do PIB brasileiro em 2020, aproximando-se cada vez mais da queda de 5% estimada também pelo Banco Mundial.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília


Segunda-feira: A volta do fim de semana prolongado em boa parte do mundo ainda se dá em ritmo lento, com a agenda econômica trazendo como destaque apenas as tradicionais publicações do dia, a saber, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h).


Terça-feira: O calendário econômico segue mais fraco e traz, durante o dia, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro e os preços de importação e de exportação nos EUA em março. No fim do dia, a China deve anunciar os dados da balança comercial em março. Já a safra de balanços norte-americana ganha força, com os bancos JP Morgan e Wells Fargo dando início à temporada de resultados hoje. Também é resultado o resultado trimestral de Johnson & Johnson.


Quarta-feira: A produção industrial e as vendas no varejo dos EUA em março são os destaques do dia, que traz também o Livro Bege do Federal Reserve e os balanços trimestrais de Citigroup, Bank of America, Goldman Sachs e UnitedHealth Group. No Brasil, saem o IGP-10 e os dados semanais do fluxo cambial.


Quinta-feira: O dia traz como destaque os números do PIB chinês nos três primeiros meses de 2020. Porém, os dados só serão conhecidos à noite, quando também saem os números de março da produção industrial, das vendas no varejo e os investimentos em ativos fixos. Pela manhã, saem a produção industrial em fevereiro na zona do euro e os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA, além de dados do setor imobiliário norte-americano e do balanço de Bank of New York Mellon. No Brasil, a agenda econômica está esvaziada.


Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo apenas a leitura final da inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro, os indicadores antecedentes de março nos EUA e a segunda prévia de abril do IGP-M.


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