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Copom decisivo em meio ao caos


Enquanto os Estados Unidos resgatam medidas adotadas em 2008, dando sinais de que os impactos econômicos da pandemia de coronavírus têm os mesmos moldes da maior crise desde 1929, o Brasil continua deixando todo o trabalho de estímulo para o Banco Central. Mas a decisão de hoje (18h) do Comitê de Política Monetária (Copom) será a mais importante (e difícil) dos últimos anos.


Afinal, com o dólar flertando a marca de R$ 5,00, qualquer corte adicional na taxa básica de juros, que já está no piso histórico de 4,25%, tende a renovar a pressão na moeda norte-americana. Atento a isso, o BC já contratou para hoje a oferta de US$ 2 bilhões em leilão de linhas (venda com compromisso de recompra). A medida repete a operação realizado ontem e na última sexta-feira, indicando que há demanda por liquidez.


Ao mesmo tempo, a atuação da autoridade monetária no câmbio abre espaço para especulações quanto ao tamanho da queda da Selic hoje, que pode ser mais agressiva em relação à dosagem da última reunião, em fevereiro, de 0,25 ponto, ou mesmo no encontro final de 2019, de meio ponto. Afinal, depois dos dois cortes emergenciais do Federal Reserve nos juros norte-americanos, no total de 1,5 pp, o BC precisa ser mais ousado.


Ainda mais diante da inação do governo federal para combater a doença no país, em meio à falta de espaço fiscal. Mas o Palácio do Planalto encontrou um “jeitinho” para elevar os gastos públicos, sem furar o teto de gastos, e deve encaminhar hoje ao Congresso o pedido de reconhecimento de estado de calamidade pública. Com isso, a meta fiscal prevista para este ano, de déficit de até R$ 124,1 bilhões, não precisa ser cumprida.


Por tudo isso, a decisão do Copom é aguardada com ansiedade. Além do corte em si, que pode vir com algum dissenso, é grande a expectativa pelo comunicado. O texto deve trazer atualizações sobre o cenário global, o repasse cambial, a política fiscal e a forma como tudo se traduz em termos inflacionários. Com isso, considerações sobre as reformas devem ser periféricas e quanto às mudanças no mercado de crédito/capitais, dispensáveis.


Contudo, não será uma queda de, no mínimo, meio ponto, ou até o dobro disso, com a Selic indo a 3,25%, que irá estimular a economia brasileira. A atividade já vinha titubeando na reta final de 2019 e esses ventos contrários vindos do coronavírus, com os esforços para combater a doença se estendendo até o segundo semestre, podem derrubar o Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano para zero - ou menos que isso.


Hoje é o dia da baixa


Lá fora, o mercado financeiro reavalia o pacote de estímulos de US$ 1 trilhão anunciado ontem pelo governo Trump e se dá conta de que o resgate às empresas dos Estados Unidos para evitar uma depressão global precisa ser ainda maior, chegando a US$ 2 trilhões - ou 0,1% do PIB do país. Afinal, a economia chinesa deve se contrair na casa dos dois dígitos, enquanto a Europa já está em uma severa recessão.


Com isso, os ativos de risco voltam a testar o fundo do poço, com os investidores tentando encontrar um “preço justo” nesse novo cenário econômico global trazido pelo Cisne Negro, em meio ao fluxo de notícias que mudam rapidamente. Mas, claramente, a queda dos mercados ainda não chegou ao fim e uma recuperação sustentável do apetite por risco só acontecerá quando os casos confirmados por Covid-19 no mundo alcançar o pico.


No levantamento mais recente, o total infectados pela doença no mundo soma pouco mais de 116 mil, com um aumento de 12,3 mil. Desse total, mais de 4,6 mil morreram. A China ainda concentra boa parte desses números, com mais de 81 mil pessoas infectadas e 3,2 mil óbitos. Mas é visível como o país está vencendo a infecção, com 286 cidades sem casos de Covid-19, de um total de 337. Epicentro do vírus, Wuhan segue bloqueada.


Assim, após o rali de ontem, os índices futuros das bolsas de Nova York atingiram novamente o limite de baixa, caindo quase 4%. As bolsas europeias abriram em queda acelerada, depois de uma sessão de perdas na Ásia. Hong Kong figurou entre os destaques negativos (-4,1%), enquanto Xangai e Tóquio recuaram quase 2%. Na Austrália, a Bolsa de Sydney caiu quase 6,5%, devolvendo os ganhos do dia anterior.


Nos demais mercados, a busca por proteção em ativos seguro impulsiona os bônus, com o rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) seguindo acima de 1%, enquanto o dólar se fortalece, ganhando terreno em relação às moedas rivais. Já o petróleo tipo WTI é cotado abaixo de US$ 30 e o cobre, abaixo de US$ 5 mil por tonelada.


Dia de agenda cheia


A decisão de política monetária do Copom é o grande destaque do dia, depois que o Fed antecipou no início deste mês e no último domingo os eventos previstos para hoje, cancelando a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) e adiando para junho a atualização das projeções para as principais variáveis econômicas.


Entre os indicadores, por aqui, saem a segunda prévia deste mês do IGP-M (8h) e números parciais de março sobre a entrada e saída de dólares (fluxo cambial) no país (14h30). Já no exterior, serão conhecidos dados do setor imobiliário nos EUA em fevereiro (9h30), além dos estoques semanais norte-americanos de petróleo (11h30). Logo cedo, sai a leitura final de fevereiro da inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro .




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