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Casa Branca sob nova direção


Biden derrota Trump e quebra série de presidentes reeleitos nos EUA, deslocando foco do mercado financeiro para a economia, em meio ao recorde de casos da covid-19


Donald Trump tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a não conseguir se reeleger desde Bush pai e perdeu o mandato para Joe Biden, com 290 delegados a favor do democrata e votação popular recorde. Embora o republicano ainda não tenha reconhecido a derrota, prolongando a disputa e criando uma saia justa dentro do próprio partido, o mercado financeiro já dá a eleição como definida e recorre ao lema da campanha que ajudou Bill Clinton a ganhar em 1992 porque “é a economia, (…)!” que preocupa.


O fato de os EUA terem registrado quatro dias consecutivos de recorde de casos da covid-19, desde que superou a marca sombria de 100 mil registros diários na quarta-feira, acendeu o sinal de alerta entre os investidores, com o fortalecimento da pandemia podendo ameaçar a recuperação econômica ora em curso. Talvez por isso, Biden prometeu, em seu discurso de vitória, uma estratégia completamente diferente para combater a disseminação do coronavírus, com decisões amparadas na ciência e reatando o laço com a OMS.


Para combater os impactos econômicos da doença, o democrata prometeu um pacote fiscal robusto, da ordem de US$ 3 trilhões, e um plano de investimentos de infraestrutura, visando a geração de emprego. Biden também falou em reverter cortes de impostos às empresas feitos por Trump e em promover uma reforma fiscal, fazendo com os mais ricos paguem mais tributos. E é aí que o mercado financeiro mostra tranquilidade, pois acredita que o alcance e a aprovação de novas medidas tendem a ser limitados.


Divisão de Poder


Rapidamente se fundiu entre os investidores o consenso de que um governo dividido mantém um cenário de difícil gestão na Casa Branca, ainda que sob nova direção. A disputa no Senado está empatada, com 48 cadeiras para cada partido, mas com os republicanos a frente em três das últimas quatro vagas em aberto. Sem o controle democrata no Senado, Biden pode enfrentar um importante obstáculo para cumprir grande parte das suas promessas e precisará de uma nova narrativa.


A esperança do presidente eleito está na Geórgia, onde os democratas podem conquistar as duas cadeiras em jogo, igualando o placar com 50 assentos, cada. Nesse caso, o desempate é feito pela vice-presidente eleita, Kamala Harris, a primeira mulher e negra a ocupar o cargo. Mas se os republicanos mantiveram o controle da ala norte do Capitólio, depois de já terem avançado a ocupação na Câmara, ficam descartadas mudanças mais drásticas - como reversão ou novos impostos e uma agenda ambiental agressiva.


Só que a eleição nos EUA não se torna oficial até que várias etapas sejam superadas. A principal é a recontagem de votos em estados onde a diferença entre os candidatos foi pequena. Mas é improvável que o resultado seja revertido. De qualquer forma, a data limite para que a contagem seja concluída é 8 de dezembro. No dia 14, as autoridades locais certificam o apoio dos delegados no colégio eleitoral, elegendo efetivamente o presidente. Em janeiro, o Congresso ratifica o resultado, abrindo caminho para a posse, no dia 20.


Até lá, o governo brasileiro vai precisar rever a postura diante da alternância de poder nos EUA para evitar sofrer maior constrangimento. Mostrando-se como um fiel escudeiro, o presidente Jair Bolsonaro ecoa o silêncio de Trump e tampouco reconheceu a vitória de Biden. Outros líderes mundiais - incluindo aliados do republicano, como Boris Johnson (Reino Unido) e Benjamin Netanyahu (Israel) - e figuras políticas nacionais já parabenizaram o democrata. China e Rússia também não se manifestaram ainda.


Otimismo Externo


Diante desse cenário político, é interessante observar como os investidores irão se posicionar e como se movimentará o fluxo global de recursos. A expectativa de novas rodadas de estímulos fiscais e monetários por parte dos principais governos e bancos centrais tende a elevar o apetite por risco, o que pode beneficiar o Brasil. Ainda mais diante dos sinais de acúmulo de pressão inflacionária vindos do atacado e do varejo e dos riscos de furar o “teto dos gastos”, que também deve demandar uma ação enérgica do BC local.


É esse panorama que trouxe o Ibovespa de volta aos 100 mil pontos na semana passada, acumulando a maior valorização semanal desde junho, e derrubou o dólar para abaixo de R$ 5,40 ao final da última sexta-feira, voltando ao menor nível em dois meses. Esse desempenho doméstico deve ter uma impulso extra hoje, diante do otimismo que prevalece no exterior, na primeira oportunidade dos mercados de reagir à vitória de Biden.


Os índices futuros das bolsas de Nova York e as principais bolsas europeias amanheceram com alta firme, de mais de 1%, com as ações globais caminhando para níveis recordes após registrarem ganhos expressivos na semana passada, ao passo que o dólar estende as perdas de forma generalizada, o que favorece o petróleo. Os investidores mostram-se animados com as perspectivas sob a presidência democrata nos EUA.


Na Ásia, os investidores também foram embalados pelos dados robustos da balança comercial chinesa. As exportações da China aceleraram em outubro e cresceram 11,4%, em base anual, voltando aos níveis pré-coronavírus pela primeira vez, enquanto as importações desaceleram a 4,7%, deixando um superávit de US$ 58,4 bilhões no mês passado. Em setembro, as altas haviam sido de +9,9% e +13,2%, respectivamente.


Os números mostram que a segunda maior economia do mundo permanece em destaque em um cenário pós-pandemia, enquanto a Europa enfrenta uma segunda onda de contágio e o total de casos do coronavírus nos EUA se aproxima de 10 milhões, sem redução à vista. No Brasil, os dados da covid-19 estão incompletos há dias, com alguns estados, entre eles São Paulo, não atualizando os números às vésperas das eleições municipais.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações do dia, a saber, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25), e os dados semanais da balança comercial (15h). No exterior, a agenda econômica está esvaziada, trazendo apenas no fim do dia dados sobre a inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) chinês em outubro.


Terça-feira: O calendário doméstico traz a primeira prévia deste mês do IGP-M e um novo levantamento da safra agrícola. Lá fora, saem o relatório Jolts sobre as contratações e demissões nos EUA em setembro e o índice de sentimento econômico na zona do euro em novembro.


Quarta-feira: As vendas no varejo brasileiro em setembro são o destaque da agenda do dia.


Quinta-feira: Mais um indicador de atividade, desta vez, no setor de serviços, será conhecido no Brasil, enquanto no exterior merecem atenção a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) dos Reino Unido no terceiro trimestre e o desempenho da produção industrial na zona do euro em setembro. Já nos EUA, sai o CPI no mês passado.


Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo o índice de atividade compilado pelo Banco Central (IBC-Br), a leitura preliminar do PIB da zona do euro no trimestre passado, o PPI nos EUA e a prévia da confiança do consumidor norte-americano.

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