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Uma crise para chamar de sua


Não bastasse a pandemia de coronavírus, que provoca uma inédita quarentena simultânea no mundo e produz impactos econômicos globais ainda difíceis de serem mensurados, o governo Bolsonaro resolveu criar sua própria crise. A saída explosiva de Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública trouxe instabilidade adicional aos mercados domésticos, aprofundando as incertezas em um cenário já desafiador.


E o noticiário do fim de semana não melhorou o ambiente em Brasília. Ao contrário, houve trocas de acusações entre o agora ex-ministro e o presidente Jair Bolsonaro, mantendo a situação política ainda delicada e projetando um longo período de instabilidade pela frente, o que deve renovar a postura defensiva dos negócios locais hoje, apesar do apetite por risco que prevalece no exterior nesta manhã. Atenção especial às ações da Embraer, após a Boeing desistir da fusão de US$ 4,2 bilhões com a fabricante brasileira.


Às portas da “bancarrota” por causa dos erros de fabricação do 737-MAX, cuja produção foi suspensa, e em meio aos prejuízos causados pela pandemia, a Boeing pulou fora do negócio e, agora, já se fala em reestatização da Embraer, o que deve agitar a Bolsa. Na última sexta-feira, no pior momento do dia, o Ibovespa quase acionou a interrupção dos negócios (circuit breaker), enquanto o dólar chegou a encostar na marca de R$ 5,75.


De volta ao front político, as principais dúvidas giram agora em torno dos desdobramentos das graves acusações feitas por Moro, que “caiu atirando” e sugeriu que o chefe do Executivo cometeu crimes de responsabilidade, o que pode incorrer em um processo de impeachment. Uma abertura de inquérito já foi pedida na Suprema Corte (STF) para investigar as acusações do ex-juiz da Operação Lava-Jato. Além disso, surgiram denúncias na imprensa de que o escolhido para comandar a Polícia Federal, pivô da crise, é amigo de um dos filhos do presidente, 02.


Mas o maior medo é sobre a continuidade de outro “superministro”. Paulo Guedes é considerando o segundo pilar de sustentação do governo Bolsonaro, mas na semana passada surgiram especulações sobre sua saída após a equipe econômica ter ficado de fora do programa “Pró-Brasil”, de perfil intervencionista e com elevados gastos públicos - algo que não faz parte da Escola de Chicago. O temor dos investidores é de que a agenda liberal-reformista seja deixada de lado, enfraquecendo a figura de Guedes.


Na última sexta-feira, durante um pronunciamento no mínimo confuso do presidente para responder às acusações do agora ex-ministro da Justiça, chamou atenção a presença destoada de Guedes - com máscara e sem terno, nem sapatos - entre os demais que compunham a ala ministerial. Ficou a sensação de que ele já não faz mais parte do time e estava ali de “figurante”, apenas para compor a cena.


Por tudo isso, não se sabe qual é o futuro do governo e do mandato do presidente, fazendo rememorar a crise política de 2016. A única certeza é que as credenciais de Bolsonaro foram colocadas em xeque. Eleito por quase 60 milhões de brasileiros em 2018, ele chegou ao poder como alguém que desmantelaria o establishment político, eliminando a corrupção endêmica e conduzindo uma agenda de reformas liberais necessárias à economia.


Agora, esse discurso está corrompido e a imagem do presidente, desgastada, levando junto boa parte da popularidade dele. Enquanto isso, o número de mortes por coronavírus no país já ultrapassou a marca de 4 mil, totalizando mais de 60 mil casos confirmados da doença, segundo dados oficiais. Mas sabe-se que a quantidade real de óbitos e pessoas contaminadas é muito maior, por causa da realização insuficiente de testes.


Exterior descolado


Já no exterior, os mercados internacionais estão mais preocupados com os sinais crescentes de uma recessão global. O ritmo ainda lento de retomada da demanda e a postura ainda cautelosa do setor produtivo levanta dúvidas sobre a capacidade de recuperação rápida da atividade, uma vez que o quadro geral ainda é ruim. E os indicadores econômicos desta semana podem lançar luz sobre este cenário.


Enquanto aguardam uma série de eventos e divulgações relevantes, os investidores se apoiam nas sinalizações de reabertura da economia nos Estados Unidos e na Europa agora em maio, relegando os riscos de uma segunda onda de contaminação e minimizando os impactos da atual política de isolamento social. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta e as principais praças europeias têm ganhos acelerados.


Na Ásia, o sinal positivo também prevaleceu, com destaque para o avanço de quase 3% da Bolsa de Tóquio, após a decisão do Banco Central do Japão (BoJ) de elevar o limite de compra de títulos soberanos do governo japonês (JGBs) e aumentar as compras de papéis comerciais e os empréstimos aos bancos. O iene está de lado em relação ao dólar, que perde terreno para as moedas europeias e correlacionadas às commodities. Já o petróleo segue em queda livre.


O anúncio do BoJ se antecede às reuniões do Federal Reserve e do Banco Central Europeu (BCE) nesta semana, quando também devem anunciar medidas adicionais de estímulo monetário. Aliás, antes de chegar ao fim, o mês de abril reserva uma agenda intensa de indicadores e eventos econômicos relevantes, no Brasil e no exterior, enquanto maio começa com um feriado em boa parte do mundo.


Semana de agenda cheia


O destaque por aqui é, sem dúvida, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15), amanhã, que deve calibrar as expectativas em relação a novos cortes na taxa básica de juros (Selic). Mas também merecem atenção os índices de confiança em vários setores produtivos, ao longo dos próximos dias. Também merecem atenção os dados sobre o mercado de trabalho (Pnad) no país até março.


Já no exterior, as atenções se dividem entre os números do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano nos EUA e na zona do euro e as reuniões de política monetária do Fed e do BCE, seguidas de entrevistas coletivas de seus respectivas presidentes, Jerome Powell e Christine Lagarde. Os eventos nos EUA acontecem na quarta-feira e, no dia seguinte, é a vez da Europa.


Além disso, a temporada de balanços nos EUA segue a pleno vapor nesta semana, trazendo os resultado trimestrais das “peso-pesado” Exxon, Amazon, Microsoft, Boeing e McDonald's.


Apesar de todos esses destaques no calendário econômico, a semana será encurtada por um feriado (Dia do Trabalho), que mantém os mercados no Brasil e em boa parte da Ásia e da Europa fechados na sexta-feira. Portanto, os anúncios dos indicadores e eventos estarão concentrados entre hoje e quinta-feira, garantindo intensa volatilidade nos negócios globais e agitando o pregão, que deve oscilar aos sabor das divulgações.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com a divulgação de duas sondagens da FGV (8h), trazendo os índices de confiança do consumidor e no comércio em abril, além das tradicionais publicações do dia, a saber, o boletim Focus do Banco Central (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h). No exterior, o calendário econômico está esvaziado.


Terça-feira: Novas sondagens da FGV, desta vez, sobre a confiança nos setores de serviços e da construção civil em abril serão conhecidas hoje. Mas o destaque doméstico fica com a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15). Também será divulgada a nota do BC sobre as operações de crédito em março. No exterior, destaque para a leitura final da confiança do consumidor norte-americano, enquanto o Federal Reserve inicia sua reunião de política monetária de dois dias.


Quarta-feira: O calendário doméstico segue carregado, trazendo o resultado deste mês do IGP-M e a leitura final do índice de confiança da indústria. Na semana passada, a sondagem preliminar apontou queda mensal histórica do setor, para o menor nível da série. Também serão conhecidos os dados semanais do BC sobre o fluxo cambial. Lá fora, merecem atenção a primeira estimativa do PIB dos Estados Unidos no início deste ano e a decisão de juros do Fed, seguida da entrevista coletiva de Powell. Destaque ainda para os dados semanais sobre os estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados. No fim do dia, a China informa os índices dos gerentes de compras (PMI) dos setores industrial e de serviços, enquanto o Japão pára devido a um feriado.


Quinta-feira: Abril chega ao fim trazendo, no Brasil, o índice de preços ao produtor (PPI) e os dados do mercado de trabalho (Pnad), ambos referentes a março. No exterior, é a vez da leitura preliminar do PIB da zona do euro nos três primeiros meses de 2020 e da decisão de juros do BCE, seguida de entrevista da Lagarde. Ainda na região da moeda única, sai o dado final da inflação ao consumidor. Já nos EUA, serão conhecidos os números sobre a renda pessoal e os gastos com consumo no mês passado, além dos pedidos semanais de auxílio-desemprego. Na Ásia, as bolsas de Xangai, Hong Kong e de Seul não abrem, devido a um feriado.


Sexta-feira: O feriado pelo Dia do Trabalho mantém os mercados domésticos fechados. A maioria das praças na Europa e na Ásia também não tem pregão hoje. Já nos EUA, as bolsas de Nova York funcionam normalmente e saem os índices PMI e ISM sobre a atividade no setor industrial.


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