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Tensão política e véspera de feriado trazem cautela


O feriado nacional amanhã (Tiradentes) enxuga a liquidez dos mercados domésticos nesta segunda-feira. Mas, nem por isso, o pregão deve ser tranquilo, após o fim de semana de carreatas contra o isolamento social em São Paulo e com discurso do presidente Jair Bolsonaro durante ato antidemocrático em Brasília, com pautas a favor da intervenção militar e do fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso.


Com isso, a maior beligerância na relação entre o Executivo e os demais Poderes tende a trazer cautela entre os investidores, com o noticiário político mais negativo dificultando a tentativa do Ibovespa de reaver a faixa dos 80 mil pontos e sustentando o dólar acima de R$ 5,00. O cenário tenso na capital federal também eleva a preocupação com a aprovação de pautas-bombas do ponto de vista fiscal.


Tudo isso deixa em segundo plano o avanço da Covid-19, que já se aproxima do ponto mais crítico no Brasil. O número oficial de casos confirmados da doença já se aproxima da marca de 40 mil, com cerca de 2,5 mil mortes. Pouco se ouviu do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre as medidas de combate ao coronavírus. O que se sabe é que ele falou em “alinhamento” com Bolsonaro, no qual saúde e economia “não se competem”.


Portanto, deve prevalecer a visão do presidente de redução do isolamento social, em nome da retomada econômica, o que também tende a manter o clima tenso entre ele e governadores e prefeitos, por causa das medidas de “confinamento”. O mais provável é que as lideranças continuem batendo cabeça nas ações contra a disseminação do coronavírus, deixando claro que o controle da doença no país tornou-se uma disputa política.


Além do horizonte


Essa indefinição na cena política local somada ao feriado nacional amanhã tende a manter os negócios locais na defensiva hoje, enquanto os mercados internacionais não exibem uma direção única para o dia. A sessão foi mista na Ásia, com alta em Xangai (+0,5%) e queda em Tóquio (-1,2%), enquanto as principais praças europeias alternam altas e baixas. Já os índices futuros das bolsas de Nova York estão sob pressão desde ontem.


A queda livre de quase 20% nos preços do barril do petróleo tipo WTI, que é cotado abaixo de US$ 15, no menor valor desde março de 1999, pesa em Wall Street, onde os investidores também aguardam uma grande semana, em termos de resultados corporativos. O dólar, por sua vez, se fortalece, ganhando terreno em relação ao euro, a libra e ao iene, enquanto o rendimento (yield) do títulos norte-americano de 10 anos (T-note) recua.


Lá fora, os investidores já se preparam para a reabertura das principais economias no Ocidente e estão mais atentos às medidas de flexibilização dos bloqueios (lockdown) em diversos países. Nesse caso, os ativos no exterior minimizam os riscos de uma segunda onda de contágio, bem como os impactos já causados à economia real durante o isolamento. Afinal, como já dito, não se pode presumir que a volta à normalidade prescreve o cenário anterior à pandemia.


Há evidências de “bloqueios voluntários”, com os consumidores ficando em casa mesmo após o fim da restrição, do lado da demanda. Do lado da oferta, enquanto especialistas discutem diferentes possibilidades, prevendo que a recuperação econômica no cenário pós-coronavírus será em forma de “V”, “L” ou “W”, muitos já se lembram daquela palavra com a letra “D”.


E isso significa que uma depressão econômica também pode ocorrer. Tal período é caracterizado pela redução drástica do Produto Interno Bruto (PIB), refletindo um volume anormal de falência de empresas; crescimento em massa do desemprego, em direção a taxas de dois dígitos; escassez de crédito (e do dólar); baixo nível de produção e investimentos; queda das transações comerciais, entre outros. Há, portanto, uma crise de confiança generalizada e um cenário mais severo do que uma “simples” recessão.


E os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que alcançaram a marca de 22 milhões de reivindicações nas últimas quatro semanas, desfazendo todos os empregos criados no país desde a última crise, em 2008 - portanto, há mais de uma década -, dão os primeiros sinais do que está por vir. Provavelmente, a taxa de desemprego nos EUA caminha para atingir algo entre 15% e 20% já neste mês.


No entanto, a divulgação do próximo relatório oficial em emprego nos EUA (payroll) está prevista apenas para o dia 8. Resta saber se, até lá, haverá uma queda súbita na demanda dos 22 milhões de recém-desempregados, sem novas solicitações maciças nas semanas seguintes, e se irá se sustentar o otimismo com o início da flexibilização das políticas de isolamento em várias economias e os avanços nas buscas por tratamentos da covid-19.


Até porque, é bom lembrar, o próximo mês é conhecido por um velho jargão em Wall Street que diz para “vender em maio e ir embora”, curtir as férias de verão (no Hemisfério Norte), após um período com os melhores retornos para os touros (bull market). Mais que nunca, trata-se de um importante aviso aos investidores, principalmente após uma longa quarentena durante o inverno, que despertou até os ursos (bear market).


Semana de agenda fraca


O feriado pelo Dia da Inconfidência (Tiradentes), amanhã, esvazia a agenda econômica doméstica desta semana, além de manter o mercado brasileiro fechado. Com isso, o foco dos investidores deve ficar concentrado no noticiário político em Brasília e em torno do coronavírus.


Já no exterior, o calendário econômico também perde força. O ponto alto fica reservado para quinta-feira, quando saem indicadores preliminares sobre a atividade em abril na Europa e nos EUA, que devem contribuir para mensurar o tamanho do impacto das medidas de distanciamento social na economia.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília


Segunda-feira: O dia espremido entre o fim de semana e o feriado nacional traz como destaque as tradicionais publicações, a saber, o boletim Focus do Banco Central (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h).


Terça-feira: O mercado doméstico permanece fechado hoje, enquanto os negócios lá fora funcionam normalmente. Mas a agenda econômica do dia tem poucos destaques, trazendo o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha e dados do setor imobiliário nos EUA.


Quarta-feira: O mercado doméstico volta a funcionar hoje, mas o calendário econômico segue fraco, com os dados semanais do BC sobre o fluxo cambial e novos números do mercado de imóveis norte-americano.


Quinta-feira: A agenda econômica, enfim, ganha força, trazendo dados preliminares deste mês sobre a atividade na indústria e no setor de serviços na zona do euro e nos EUA. Também merecem atenção os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA.


Sexta-feira: A semana chega ao fim sem grandes destaques. Enquanto aqui no Brasil saem a prévia do índice de confiança da indústria em abril e os dados da contas externas em março, lá fora, merecem atenção o índice IFO de sentimento econômico na Alemanha, a encomenda de bens duráveis nos EUA e o dado final sobre a confiança do consumidor norte-americano neste mês.


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