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Sexta-feira 13 da alegria



A sexta-feira 13 chegou, mas a sessão de terror no mercado financeiro começou há algum tempo, na Quarta-feira de Cinzas, quando o coronavírus chegou na Europa (e no Brasil) e Wall Street entrou em correção, avançando em direção ao território dos ursos (bear market). Por isso, após o pânico que tomou conta dos negócios pelo mundo ontem, o dia hoje é de alegria, com os investidores indo às compras, em busca de pechinchas.


Os índices futuros das bolsas de Nova York sofreram para firmar uma direção para o dia, mas amanheceram com ganhos acelerados, de mais de 4%, zerando as perdas exibidas durante a madrugada e sinalizando uma recomposição após o pior dia desde a Segunda-feira Negra (Black Monday), em 1987. As principais bolsas europeias também abriram em forte alta, depois que as ações na região registraram o pior pregão da história.


Na Ásia, as bolsas se recuperaram ao longo da sessão, reduzindo boa parte da queda. Tóquio, por exemplo, chegou a cair 10%, mas acabou fechando em queda de 6%. As bolsas da Tailândia e da Índia também recuaram 10% durante o pregão, mas conseguiram encerrar com ganhos, após terem uma suspensão temporária das negociações. Na China, Hong Kong e Xangai cederam menos, à medida que o país se recuperação do pior sobre o vírus.


Nos demais mercados, o petróleo também tem alta firme, com o preço do barril dos tipos WTI e Brent ficando acima de US$ 30, depois de fecharem em queda acelerada ontem, tendo o conflito entre sauditas e russos como fator agravante. Nas moedas, o dólar avança em relação ao iene e mede forças frente às moedas europeias, ao mesmo tempo em que abre espaço para uma recuperação das correlacionadas às commodities.


Esse comportamento dos mercados no exterior tende a favorecer uma recuperação dos ativos locais, um dia após o Ibovespa ter uma sessão de duplo circuit breaker pela primeira vez desde o início de outubro de 2008. Foi a quarta vez que o mecanismo foi acionado só nesta semana, mostrando que a velocidade da queda é muito mais intensa do que o visto durante a crise financeira global há mais de dez anos.


Com isso, a Bolsa brasileira renovou a maior queda diária desde a crise russa, em 1998, fechando em nível pré-eleitoral, em junho de 2018. Já o dólar, conseguiu fechar abaixo de R$ 4,80, após o Banco Central oferecer US$ 5,75 bilhões das reservas internacionais em vários leilões ao longo do dia de ontem. Já os juros futuros "engordaram", embutindo prêmios de risco ao longo de toda a curva a termo.


Mas as incertezas em torno da pandemia continuam e não há nenhuma notícia aparente que justifique tal melhora ensaiada pelos mercados, a não ser o fato de os ativos de risco terem sido duramente amassados, tornando-os atrativos para compra. Ou seja, a volatilidade ainda reina soberana. Ao mesmo tempo, os investidores tentam se apoiar em um aparente esforço de governos e bancos centrais para combater a doença.


A questão é que não há garantias quanto à eficácia do que tem sido feito no mundo diante do pânico com o coronavírus, que coloca em risco não só a atividade, mas a vida de boa parte da população mundial. Por ora, tudo o que vem sendo feito tem sido inócuo. Afinal, os países foram rápidos em cortar o transporte de/para a China, mas pouco fizeram internamente para uma contenção estrutural da doença, evitando que o vírus se espalhasse de maneira irrestrita e que a situação se agravasse.


E foi aí, que os ursos acordaram, depois de um longo inverno hibernando.


Os ursos chegaram…


O mercado financeiro resolveu, então, entrar em pânico. Irracional. Mas só agora. Afinal, não é de hoje que os então chamados “profetas do caos” vinham alertando das dificuldades que os investidores estavam tendo para ler “a história do vírus” logo que ela surgiu, no fim de janeiro, na cidade chinesa de Wuhan.


Enquanto o governo chinês adotava medidas draconianas para combater a doença às vésperas do principal feriado do país, os investidores apostavam na continuidade do mercado de alta (bull market), confiantes de que tudo ficaria bem em semanas, ou que a doença ficaria localizada a alguns países - especialmente na China.


Esses otimistas também acreditavam na capacidade dos bancos centrais em adotar medidas para combater o impacto da doença nos ativos financeiros e na economia real - como se a injeção de liquidez a partir de uma ação coordenada e uma nova rodada de estímulos monetários, nos moldes do que se viu em 2008, seria capaz de “afogar” o vírus.


Com isso, o mercado financeiro foi se desviando de um “cisne negro” que sobrevoava os negócios, ignorando o grande impacto nos preços dos ativos e potencial transformador que tal evento imprevisível teria no cenário econômico global. O fato é que os investidores queriam continuar vivendo um momento de “exuberância irracional”. Afinal, todo mundo é gênio em mercado de alta.


Portanto, não se pode dizer que o mercado financeiro foi pego de surpresa. Não foi, de repente, que os investidores se depararam com um “rinoceronte cinza”, após passarem semanas relegando os perigos iminentes (e óbvios) da doença em relação à oferta e à demanda, que vinham sendo subestimados, apesar de vários alertas.


E eles foram muitos - inclusive aqui. E não era, nem é, o caso de agir como “doutores da alegria”, que tentam animar pacientes em casos de risco de vida, visando minimizar os efeitos da doença, mascarando a realidade. O momento ainda é de entender as ameaças à economia real causadas pelo vírus. Afinal, só a desaceleração brusca na China, em um momento já frágil das principais economias centrais, poderia levar o mundo a uma recessão severa.


Agora, diante de uma pandemia de coronavírus, a situação ainda pode piorar mais, antes de melhorar - tal qual foi na China, que só ontem superou o pico da doença. O risco, agora, é de que mais países também tenham de adotar medidas restritivas, fechando fábricas, escolas etc. e mantendo as pessoas em casa, de quarentena, afundando ainda mais a atividade econômicas ao longo de todo este semestre.


Outros países europeus - como França, Alemanha, Espanha - e também os EUA parecem ser os casos mais críticos. Aqui no Brasil, a situação também pode piorar nos próximos dias, causando um dano maior para economia doméstica, que já vinha capegando na virada para 2020 - e antecipar metade do 13º salário aos aposentados não combate o vírus, mas ajuda a comprar remédios.


Dia de agenda fraca


A semana chega ao fim com uma agenda econômica esvaziada, no Brasil e no exterior, o que tende a manter as atenções concentradas nas medidas de bancos centrais e governos. Ainda assim, merecem atenção a leitura preliminar deste mês do índice de confiança do consumidor nos EUA (11h), medida pela Universidade de Michigan, e os preços de importação e exportação no país em fevereiro (9h30).


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