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Preocupação com coronavírus persiste


Falta fôlego no mercado internacional para ampliar o rali dos últimos dois dias, à medida que o feriado na sexta-feira em boa parte do mundo se aproxima e as preocupações em relação ao combate ao coronavírus se avolumam. Com isso, os ativos de risco não exibem uma direção única lá fora, o que pode interromper a euforia nos negócios locais, que vêm ignorando a escalada dos números da Covid-19 no país bem como os conflitos políticos.


As principais bolsas europeias iniciaram o dia em queda, apesar do sinal positivo ensaiado pelos índices futuros das bolsas de Nova York e após uma sessão mista na Ásia. No velho continente, o aumento na taxa de mortalidade pela doença na França, Espanha e no Reino Unido assustam, sendo que o país ibérico vinha registrando queda há quatro dias. Já na Itália houve uma diminuição no número de mortes e de infecções.


Ao mesmo tempo, o dólar ganha terreno em relação ao euro e a libra esterlina, mas a força da moeda norte-americana não inibe os ganhos do petróleo. Já Wall Street está dividido entre o tom otimista na fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o aumento no total de óbitos pela pandemia, principalmente na cidade de Nova York. E o fato de o coronavírus continuar reivindicando mais vidas em todo o mundo pesou na Ásia.


A previsão é de que mais mortes por Covid-19, que já matou mais de 82 mil pessoas, estão a caminho. E mais miséria econômica também está no horizonte, tanto através do aumento da fila de desemprego quanto na queda do lucro ou na falência de muitas empresas. Ou seja, apesar da pequena recuperação dos mercados no curto prazo, ainda falta consistência nas estimativas sobre o desempenho das economias em um cenário posterior à doença.


Vira-lata argentino


Enquanto o mercado internacional se valeu no início desta semana da percepção de que a curva de contágio e de mortes de coronavírus iniciou uma descida na Europa e de que os Estados Unidos estão se aproximando, lentamente, desse ponto de inflexão da doença; no Brasil, a Covid-19 inicia a escalada, com mais de 110 mortes e de 1,6 mil casos confirmados em 24 horas, somando 667 e 13.717, oficialmente.


Mesmo assim, os ativos de risco domésticos pegaram carona no rali de dois dias dos mercados no exterior, como se o que acontecesse lá fora em relação à disseminação (e ao combate) do vírus fosse se passar também em terra brasilis. O Ibovespa, por exemplo, subiu mais de 20% em relação ao fundo atingido em meados de março, seguindo o movimento em Wall Street, onde os touros (bull market) têm dominado.


Trata-se, portanto, de um caso raro de “complexo de vira-lata às avessas”. Ao invés de se colocar em situação de inferioridade em face ao restante do mundo, em um típico fenômeno de viralatismo, os brasileiros parecem ter superado o trauma de anos e mais se assemelham agora aos vizinhos argentinos, que têm a fama de se acharem superiores em tudo, mesmo quando não são.


E o problema é que a crise do coronavírus tende a golpear a saúde pública e a atividade econômica de forma mais drástica nos chamados “países em desenvolvimento” do que nas abastadas nações mais ricas do mundo. Ainda mais quando a cena política se mistura com os esforços de contenção do vírus, com disputas de ego pessoal se inflando em um momento em que o protagonismo deveria ser o de combate (e controle) da doença.


Aliás, embora muitos tenham tomado partido do presidente Jair Bolsonaro, a crise criada por ele mesmo na investida contra o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, escancarou a pouca governabilidade do Palácio do Planalto. A falta de apoio - inclusive dos militares - mostrou que não havia capital político para tal decisão e esse isolamento pode arruinar as pretensões de reeleição em 2022.


Além disso, enquanto alguns se arriscam e saem às ruas - seja porque a ajuda financeira do governo não vai chegar e precisam trabalhar ou porque acreditam que se trata apenas de uma “gripezinha” - pesquisas recém divulgadas mostram que a grande maioria dos brasileiros discorda da estratégia de enfrentamento ao coronavírus defendida por Bolsonaro. Essa parcela prefere seguir as recomendações das autoridades de saúde.


Afinal, enquanto não houver a certeza de que os hospitais terão leitos em condições adequadas para tratar vários pacientes ao mesmo tempo e todos os casos suspeitos conseguirem ser testados, rastreando os contatos daqueles confirmados, nem houver uma redução sustentada de casos por 14 dias, o coronavírus continuará circulando livremente pelo país - ainda que já esteja sob controle no restante do mundo.


Ata do Fed em destaque


A ata da reunião emergencial realizada pelo Federal Reserve no dia 15 de março, um domingo, antecipando-se ao encontro que estava previsto para aquela mesma semana (dias 17 e 18), é o grande destaque da agenda econômica do dia. O documento será publicado às 15h.


Nele, o Fed pode esclarecer os motivos que levaram a mais um corte na taxa de juros norte-americana - o segundo em duas semanas, situando-a próxima a zero. Ainda nos EUA, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados (11h30). No Brasil, será conhecido mais um indicador de atividade, desta vez, sobre o setor de serviços (9h).


A agenda doméstica do dia traz também dados regionais sobre a inflação ao consumidor (IPC) e a produção industrial, pela manhã, além da primeira prévia deste mês do IGP-M (8h) e dos dados semanais do Banco Central sobre o fluxo cambial, com a entrada e a saída de dólares do país (14h30).


Aliás, chama a atenção o fato de que, apesar de o Ibovespa ter subido mais de 20% em relação à mínima do ano, o dólar não devolveu nada do rali. Ao contrário, a moeda norte-americana é cotada acima de R$ 5 há mais de 15 sessões, acumulando valorização por sete semanas seguidas, apesar das intervenções do Banco Central.


O movimento reflete tanto a retirada de recursos externos do Brasil, principalmente pela via financeira, quanto a estratégia dos investidores locais de buscar proteção (hedge) em dólar, enquanto continuam comprando risco no mercado de ações. Já os “gringos” sacaram mais de R$ 65 bilhões da Bolsa brasileira só neste início de ano - um recorde.





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