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Mundo em guerra, mercados em paz


Enquanto o mundo tenta combater um inimigo invisível e fatal, que já infectou quase 1,3 milhão de pessoas e matou cerca de 70 mil, e sauditas e russos mantêm a guerra de preços do petróleo, o mercado financeiro já vislumbra um cenário animador tanto em relação à pandemia de coronavírus quanto à cotação da commodity. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York e as praças europeias têm alta firme, de até 4%, em meio aos sinais de estabilização do surto nos Estados Unidos e de desaceleração dos casos na Europa.


Os investidores preferem apoiar-se na mensagem otimista do presidente norte-americano, Donald Trump, ontem, apesar dos alertas para o país se preparar para dias difíceis, em termos de novos casos confirmados e número de mortes relacionados ao coronavírus. Segundo Trump, será um ponto em que as coisas começarão a mudar para melhor. Os EUA lideram a lista da doença, com mais de 330 mil contaminadas.


Da mesma forma, as bolsas europeias amanheceram no azul, após a taxa de crescimento de novos casos e mortes por coronavírus na região ter diminuído no fim de semana, com a taxa de mortalidade caindo na Itália e na Espanha. Londres avançava um pouco menos, monitorando o estado de saúde do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que foi hospitalizado por “precaução” ontem, dez dias após ter sido diagnosticado com Covid-19.


Na Ásia, a sessão foi esvaziada por um feriado na China, de onde os investidores buscam pistas para saber quanto tempo leva para a economia voltar ao normal após o surto desaparecer. Nos demais mercados, destaque para o petróleo, que reduziu as perdas de mais de 6% e exibe queda ao redor de 2%, após a reunião que visa selar uma trégua entre Arábia Saudita e Rússia, prevista para hoje, ter sido adiada - talvez para quinta-feira.


Assim, o mercado financeiro desafia o noticiário mais negativo que abre a primeira semana cheia de abril e ensaia uma recuperação das fortes perdas vistas na última sexta-feira, quando os investidores pareciam já se antecipar ao fluxo de más notícias sobre o coronavírus e o petróleo. Com isso, os investidores mostram uma melhora do apetite por ativos de risco, indicando um início de semana positivo - ao menos por enquanto.


Apesar da crise


Se seguir o mote dos mercados internacionais, de relegar o noticiário negativo e buscar uma recuperação, os ativos domésticos também devem ser embalados hoje. Isso após o Ibovespa encerrar a semana passada abaixo da faixa dos 70 mil pontos e do dólar cravar a sétima semana seguida de valorização, renovando a máxima histórica (nominal) pelo terceiro pregão consecutivo e seguindo acima de R$ 5,00 há 15 sessões.


A ver, então, se, assim como lá fora, os negócios locais terão forças para ignorar a previsão catastrófica do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de queda de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, de uma expectativa de expansão de 2,4% antes da pandemia. Segundo ele, o cenário “altamente recessivo” da economia brasileira reflete, entre outros fatores, a saída recorde de recursos externos do mercado acionário nacional.


Também será importante observar se os ativos locais vão conseguir se desviar dos ruídos políticos criados pelo presidente Jair Bolsonaro. As renovadas ameaças dele ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta em um momento em que o Brasil deveria concentrar os esforços para conter a disseminação do coronavírus no país elevam o temor em relação ao controle da doença - que pode virar endêmica por aqui.


Já são mais de 11 mil casos confirmados e quase 500 mortes, mas existe uma fila de exames que aguardam análise, além de uma escassez de testes que geram subnotificação e de falta de equipamentos para socorrer pacientes e proteger profissionais da saúde. Enquanto isso, Bolsonaro está mais preocupado com integrantes do seu governo que “viraram estrelas” e diz não ter “medo de usar a caneta” para “o bem do Brasil”.


Ele quis deixar claro, então, que não se trata de “nada pessoal meu”. Dias antes, o presidente já havia declarado guerra aberta contra Mandetta, dizendo que eles não estavam “se bicando”, que ninguém é “indemissível’ e que faltava “humildade” ao ministro da Saúde. Bolsonaro tem divergido das medidas de distanciamento social para combater a pandemia e defende a flexibilização das medida restritivas.


Mas mesmo quem concorda com a retomada das atividades, via um isolamento vertical, reprova a atitude de Bolsonaro, que está em um processo contínuo de desgaste. Tanto que a aprovação da condução da crise do coronavírus pelo Ministério da Saúde é duas vezes maior que a do presidente. Nos bastidores, os ministros Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) apoiam Mandetta e as medidas de “confinamento” da população.


Dados de atividade e inflação no radar


A agenda econômica desta semana está carregada de indicadores relevantes, sendo que o feriado hoje na China (Dia dos Mortos) e na sexta-feira (Paixão de Cristo) em boa parte do Ocidente concentra as divulgações entre amanhã e quinta-feira. Ainda assim, nesta segunda-feira merece atenção as previsões do mercado financeiro no relatório Focus.


Amanhã e quarta-feira serão conhecidos dados sobre a atividade doméstica, trazendo números de fevereiro das vendas do varejo e do desempenho do setor de serviços. No dia seguinte, as atenções se dividem entre a inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA) no mês passado e o índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro.


Enquanto a inflação deve mostrar um cenário de preços benigno, intensificado pelo viés desinflacionário dos impactos do Covid-19, os dados domésticos de atividade ainda são anteriores aos efeitos do coronavírus no país. Porém, os indicadores da Anfavea sobre a produção e venda de veículos em março já serão vistos como antecedentes.


No exterior, também serão conhecidos os índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) nos EUA e na China, na quinta e sexta-feira. Os dados também devem refletir os impactos desinflacionários da pandemia de coronavírus no mundo, trazendo deflação na leitura mensal.


Já os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA devem subir mais 4 milhões, na quinta-feira, com o relatório Jolts (amanhã) podendo mostrar uma oferta menor de postos de trabalho no país ainda em fevereiro. Destaque ainda para a ata dos encontros extraordinários realizados pelo Federal Reserve no mês passado.


Além disso, a safra norte-americana de balanços referentes ao primeiro trimestre deste ano ganhar força, trazendo os números de Levi Strauss e Cosco, ambos amanhã, da Tesco, na quarta-feira, e da Delta Airlines, na quinta-feira, entre outras empresas. O resultado trimestral já deve trazer os primeiros reflexos do coronavírus nos negócios.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília


Segunda-feira: A semana começa com uma agenda carregada no Brasil. Logo cedo, saem o resultado de março do IGP-DI (8h) e o relatório de mercado Focus (8h25), do BC. Ao longo do dia, serão conhecidos os números da indústria automotiva (Anfavea) no mês passado (10h30) e da balança comercial neste início de abril (15h). Já no exterior, o calendário econômico está esvaziado, sendo que na China é feriado.


Terça-feira: As vendas do varejo brasileiro em fevereiro são o grande destaque do dia, que traz também o relatório Jolts sobre a oferta de emprego disponível nos EUA também em fevereiro. Também serão conhecidos o crédito ao consumidor norte-americano e a produção industrial alemã.


Quarta-feira: Mais um indicador sobre a atividade doméstica, desta vez, o setor de serviços em fevereiro será conhecido. A agenda do dia traz também a primeira prévia deste mês do IGP-M, além dos dados semanais do fluxo cambial. Lá fora, destaque apenas para a ata da reunião emergencial do Fed, em 15 de março, quando reduziu a taxa de juros norte-americana para perto de zero.


Quinta-feira: A véspera do feriado reserva uma agenda econômica carregada, no Brasil e no exterior. Por aqui, saem os índices de preços ao consumidor (IPCA) e de atividade econômica (IBC-Br), além de um novo levantamento da safra agrícola. Nos EUA, merecem atenção os pedidos semanais de auxílio-desemprego, o índice de preços ao produtor (PPI) em março e a prévia deste mês da confiança do consumidor norte-americano, além dos estoques no atacado em fevereiro. No fim do dia, a China informa a inflação no atacado e no varejo no mês passado.


Sexta-feira: O feriado da Sexta-feira Santa mantém a maioria dos mercados no Ocidente fechados hoje. Ainda assim, será conhecido o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) em março.


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