top of page

Mercado segue atento à questão fiscal


O Brasil bateu ontem a marca sombria de 5 milhões de infectados por covid-19, com quase 150 mil mortes. Desde o primeiro caso da doença por aqui, em fevereiro, não faltaram críticas à inépcia do governo federal no combate à disseminação do coronavírus, com o presidente Jair Bolsonaro colecionando polêmicas sobre a tal “gripezinha”. Mas depois que percebeu o impacto eleitoral do auxílio emergencial, ele tem sido o grande defensor do socorro aos mais atingidos pela pandemia, negligenciando a grave situação fiscal do país.


E essa insistência do presidente em prorrogar o benefício para o ano que vem, criando o Renda Cidadã, tem sido uma pedra no caminho do mercado doméstico, que já não consegue acompanhar o desempenho dos negócios no exterior, diante dos crescentes riscos político e fiscal, que têm elevado a desconfiança dos investidores. Ontem, os ativos locais oscilaram ao sabor de relatos e rumores vindos de Brasília, e essa falta de transparência sobre como bancar o novo programa social demanda atenção redobrada.


A falta de consenso sobre as fontes de recursos do Renda Cidadã adiou para a semana que vem a apresentação da chamada PEC Emergencial, que inclui o programa, sendo que a proposta ainda pode vir sem detalhes, elevando a apreensão dos investidores. Por mais que esteja descartada qualquer solução para o que “fure” o teto dos gastos, há o risco de se propor um novo “puxadinho”, com decisões custosas no Orçamento. Há ainda a chance de promover cortes impopulares, que só seriam conhecidos após as eleições municipais.


Seja como for, o fato de o presidente ter estabelecido uma data estratégica para revelar o financiamento do Renda Cidadã tende a manter os investidores receosos sobre o futuro da saúde fiscal do país, elevando a postura defensiva. E o mercado, como se sabe, não gosta de incertezas, que acabam pesando nos ativos, diante da maior demanda por prêmio pelo risco, o que sustenta o dólar acima de R$ 5,60 e impede o Ibovespa de voltar aos 100 mil pontos, ao mesmo tempo em que a curva de juros futuros empina.


Tanto aqui quanto lá


A ver, então, se o mercado doméstico conseguirá seguir hoje o sinal positivo vindo dos negócios no exterior. Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta moderada, realimentando esperanças de que pode haver algum pacote de estímulo nos Estados Unidos a menos de um mês da eleição presidencial. As principais bolsas europeias tentam acompanhar o sinal positivo, mas têm fôlego curto, após uma sessão mista na Ásia.


Ou seja, as incertezas fiscais que já rondam a economia brasileira ganham uma dimensão global. A diferença entre o impasse aqui e nos EUA é que o problema por lá não é de onde tirar o dinheiro, mas sim o tamanho da ajuda, com democratas e republicanos não chegando a um consenso sobre o valor na casa dos trilhões de dólares. A moeda norte-americana, aliás, não exibe um rumo único, abrindo espaço para a alta do petróleo.


Como pano de fundo dessas negociações, tanto aqui quanto lá fora, está a percepção de que a retomada econômica global está perdendo tração e ainda sente os impactos da pandemia. Com os casos de coronavírus crescendo em ritmo acelerado em vários países europeus, o temor de uma segunda onda de contágio deixa os investidores ainda mais relutantes em relação a uma recuperação duradoura, ainda mais sem novos estímulos.


Fica claro que o que falta para achar um solução para o Renda Cidadã, que não seja vista como uma “pedalada fiscal”, e para um novo pacote a ser lançado pela Casa Branca é efetividade política. Muitas foram as declarações em Brasília e as postagens pelo Twitter do presidente Donald Trump sobre os temas, mas pouco foi feito em termos práticos. E o mercado está se cansando dos discursos apenas.


Agenda local em destaque


A agenda econômica doméstica ganha destaque hoje, trazendo dados sobre as vendas no varejo em agosto e o novo levantamento da safra agrícola até setembro, às 9h, juntamente com os números regionais da produção industrial. Para o comércio varejista, a previsão é de crescimento pelo quarto mês seguido, de +3,5%, com a taxa na comparação anual registrando o terceiro resultado positivo consecutivo, de +7,0%.


Lá fora, hoje é a vez da ata das mais recentes reuniões de política monetária dos bancos centrais da zona do euro (BCE) e da Inglaterra (BoE), logo cedo. No fim do dia, saem os dados do Caixin sobre a atividade no setor de serviços na China em setembro. Já nos EUA, destaque apenas para os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país (9h30), que devem seguir abaixo de 1 milhão de solicitações.


Posts Destacados
bottom of page