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Mercado reage a gatilhos políticos



As notícias que abalaram os investidores na última sexta-feira devem continuar ditando o rumo do mercado financeiro nesta semana. A troca de farpas entre os ministros Rogério Marinho e Paulo Guedes sobre o Renda Cidadã e o estado de saúde do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está internado para tratar a covid-19, tende a aguçar o vaivém dos negócios, oscilando ao sabor de novidades sobre esses temas.


Por aqui, os riscos fiscais são crescentes e os ativos locais não escondem tal desconforto. Ao final da semana passada, o Ibovespa encerrou no limiar dos 94 mil pontos, acumulando cinco semanas sem um desempenho positivo, ao passo que o dólar sobe há um mês, já na faixa de R$ 5,65. A curva de juros futuros (DIs) empinou, refletindo as preocupações com as formas de bancar o novo programa social e também a “fritura” de Guedes no governo.


Supostamente criticado pelo ministro do Desenvolvimento Social em encontro com investidores na última sexta-feira, Guedes disse não acreditar nas possíveis declarações de Marinho. Ainda assim, revidou, chamando o colega de “despreparado”, “desleal” e “fura-teto”. O ministro da Economia não poupou críticas e, ciente da popularidade do presidente Jair Bolsonaro, disse que não se pode “fazer política” para “ganhar eleição”.


Aos poucos, os investidores vão se dando conta de que a situação do “Posto Ipiranga” no governo está insustentável. E foi esse risco que o mercado doméstico passou a embutir nos preços, sendo que os prêmios dos DIs também passaram a refletir uma mudança do regime fiscal, obrigando o Banco Central a abandonar a diretriz de projeção futura (forward guidance), revertendo a postura suave (“dovish”) na condução da taxa básica de juros.


Afinal, a manutenção da Selic em nível baixo por um período prolongado depende da manutenção da regra do “teto dos gastos”, juntamente com expectativas de inflação ancoradas. Mas as dificuldades da equipe econômica e da ala política do governo em encaixar o programa que vai substituir e ampliar o Bolsa Família através de corte de gastos elevam as chances de um ciclo de alta dos juros básicos antes do esperado.


E isso em um momento em que a atividade doméstica ainda apresenta ritmo desigual de recuperação, por causa do impacto das medidas de distanciamento social nos diferentes setores, bem como no emprego e na renda da população. Com isso, o mercado doméstico deve continuar repercutindo os impactos do ‘racha’ no governo Bolsonaro, que aumentam a preocupação fiscal.


É a política!


No exterior, o cenário político também está no centro das atenções, depois de Trump testar positivo para o novo coronavírus. Ele pode ter alta hospitalar hoje e continuar com o tratamento na Casa Branca, depois de ter sido internado ao final da última sexta-feira, quando foi levado de helicóptero ao Centro Médico Militar Walter Reed por precaução. E os investidores devem monitorar de perto a evolução do quadro clínico dele.


Durante o fim de semana, Trump passou bem, apresentando sintomas como cansaço, congestão nasal e tosse. Ele chegou a receber oxigênio para ajudar na respiração, mas não teve mais febre. Os próximos dias serão cruciais para saber as implicações da doença nas eleições presidenciais dos EUA, no início de novembro. Em se continuando uma via de recuperação clara, o candidato pode retomar a campanha antes do fim do mês.


Isso porque o período em que o vírus da covid-19 costuma se desenvolver e ser eliminado pelo organismo, se não houver complicações, é de 14 dias. Aliás, há suspeitas de que o diagnóstico de Trump era sabido um dia antes da divulgação. Já em um cenário mais grave, o Partido Republicano pode ter de escolher um candidato substituto, o que caberia aos membros do Comitê Nacional.


Mesmo sem saber ainda o que esperar para o pleito norte-americano deste ano, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta, embalando a abertura do pregão europeu, com os investidores alimentando esperança de um novo pacote fiscal antes das eleições nos EUA. Pesquisas indicando mais de dez pontos de vantagem de Joe Biden sobre o republicano dão a sensação de que os democratas da Câmara querem negociar.


Com isso, o mercado internacional substitui a incerteza eleitoral pela aposta de que a internação de Trump pode ser o “gatilho político” capaz de trazer um acordo de estímulo à linha de frente. Na Ásia, também prevaleceu o sinal positivo, com ganhos de mais de 1% em Hong Kong e em Tóquio. Nos demais mercados, o petróleo recupera as perdas e tenta voltar à faixa de US$ 40, enquanto o dólar perde terreno para as moedas rivais.


Apesar do dia de maior apetite por risco lá fora, os investidores vão se dando conta de que os desafios criados pela pandemia são muito maiores do que antes imaginado. A melhor fase da recuperação global, que começou em alta velocidade, já passou e a retomada econômica entra agora em um período difícil. E o próprio coronavírus, que pegou aquele que é considerado o “homem mais poderoso do mundo”, se espalha muito rápido, podendo levar a novos confinamentos (lockdown), com a chegada do inverno (no hemisfério norte).


Semana de agenda fraca


O calendário econômico desta semana está mais fraco, sendo que os destaque ficam com as divulgações domésticas. Na quinta-feira será conhecido o desempenho em agosto das vendas no varejo e, no dia seguinte, é a vez do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro (IPCA) no mês passado. Antes, na quarta-feira, sai o IGP-DI de setembro.


Já no exterior, merece atenção a participação dos presidentes do Federal Reserve, Jerome Powell, e do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, em eventos distintos, amanhã. Um dia depois, o Fed publica a ata da reunião de política monetária em setembro, que pode trazer mais detalhes sobre a mudança de estratégia, com viés mais inflacionário.


Na quinta-feira, é a vez da ata dos BCs da zona do euro (BCE) e da Inglaterra (BoE). Entre os indicadores econômicos, saem índices sobre a atividade no setor de serviços nos EUA, zona do euro e China, ao longo da semana. Aliás, a Bolsa de Xangai volta a funcionar na sexta-feira, após a longa pausa pelo feriado nacional.


No front político, com Trump fora de cena em um momento crucial da corrida presidencial, as atenções se voltam para o debate entre os candidatos a vice-presidente, Kamala Harris, pelos democratas, e o republicano Mike Pence, atual vice. O confronto está marcado para quarta-feira.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com a agenda econômica mais fraca, trazendo, como de praxe, apenas o relatório de mercado Focus do Banco Central (8h25). No exterior, destaque para os índices PMI e ISM de atividade no setor de serviços nos EUA (10h45 e 11h) em setembro. Logo cedo, sai o índice PMI do mesmo setor na zona do euro.


Terça-feira: O calendário doméstico segue esvaziado, deslocando o foco para o exterior, onde o destaque fica a participação do presidente Fed, Jerome Powell, e da presidente do BCE, Christine Lagarde, em eventos distintos. Também merece atenção o relatório Jolts sobre as contratações e demissões nos EUA.


Quarta-feira: A agenda doméstica começa a ganhar força e traz o IGP-DI de setembro, além dos dados do Banco Central sobre o fluxo cambial. No exterior, o foco se concentra na ata da última reunião do Fed. No front político, acontece o primeiro e único debate entre os candidatos a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris e Mike Pence.


Quinta-feira: A agenda doméstica fica em destaque, com os dados das vendas no varejo em agosto e o levantamento atualizado da safra agrícola até setembro. Lá fora, hoje é a vez da ata das mais recentes reuniões de política monetária do BCE e do BoE. No fim do dia, saem os dados do Caixin sobre a atividade no setor de serviços na China.


Sexta-feira: A semana chega com a Bolsa de Xangai voltando às operações. Entre os indicadores econômicos, destaque para as publicações no Brasil, antes do fim de semana prolongado pelo feriado na segunda-feira seguinte: o IPCA de setembro e a primeira prévia deste mês do IGP-M.

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