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Mercado mostra indiferença, mas monitora riscos



O mercado financeiro mostrou ontem que não há nenhum mal-estar com as manifestações que marcaram o Brasil e os Estados Unidos durante o fim de semana, com as cenas de agitação nas ruas formando um contraste sombrio com o otimismo dos investidores em relação à reabertura da economia. Mas esses protestos, que adentraram ontem na sétima noite de confrontos em várias cidades norte-americanas, merecem atenção especial.


Ainda mais depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou usar tropas e enviar milhares de militares a cidades do país para enfrentar os protestos antirracistas e acabar com as agitações civis, caso governadores e autoridades locais se mostrassem incapazes de conter os distúrbios. Para ele, as cenas de violência que se espalharam desde a morte por asfixia de um homem negro por policiais brancos são “atos de terror”.


Logo após o anúncio, os índices futuros das bolsas de Nova York migraram para o campo negativo ainda na noite de ontem, mas amanheceram na linha d’água, alternando leves altas e baixas, sem um viés definido para o dia. Wall Street também monitora a escalada da tensão sino-americana, após a China pedir que o EUA acabem com o velho problema da discriminação racial e proteja as minorias.


Já na Europa, as principais bolsas exibem ganhos firmes, liderados por Frankfurt, que volta do fim de semana prolongado e sobe quase 3%. Na Ásia, os mercados pegaram carona na alta da véspera em Nova York e fecharam no terreno positivo. Em ambas as regiões, prevalece a expectativa com a retomada da atividade econômica após as medidas restritivas destinadas a conter a pandemia de coronavírus.


Nos demais mercados, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está estável, ao passo que o dólar perde terreno em relação às moedas rivais. O petróleo, por sua vez, avança para além da faixa de US$ 30. Essa dinâmica dos ativos não deve ser abalada pela agenda econômica do dia, que está fraca e traz apenas dados sobre a atividade no setor de serviços chinês em maio.


Barril de pólvora


O fato é que as manifestações - que geralmente começam em prol de uma causa - podem acabar se transformando em algo maior, com os protestos sendo também sintomáticos dos problemas econômicos e da insatisfação social que foram aprofundados pela pandemia de coronavírus. E a indiferença expressa pelos ativos de risco escancara a disparidade entre as medidas de suporte lançadas por governos e bancos centrais ao sistema financeiro e grandes empresas, levando a questionar os efeitos e a sustentabilidade dessas ações.


Tal combinação pode ser explosiva, ainda mais considerando-se que o caos nas ruas ocorre logo nos dois países que registram o maior número de casos de Covid-19 no mundo, com as pessoas temendo uma disseminação do vírus. Aqui no Brasil, o pior momento da pandemia sequer foi atingido, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) ontem, e caso a crise econômica se estenda, as manifestações podem se tornar mais amplas.


Aliás, torcidas organizadas já avisaram que pretendem fazer novos atos a favor da democracia, pela luta contra o fascismo e de críticas ao governo federal. Segundo o governador do estado de São Paulo, João Doria, não serão permitidas duas manifestações no mesmo local, dia e hora, a exemplo do observado no domingo na Avenida Paulista, onde também se reuniram apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.


Portanto, é preciso estar atento a esses protestos, que podem criar uma nova dinâmica, com efeitos expressivos sobre o cenário pós-pandemia. A preocupação é de que tais atos possam atrapalhar os esforços para reavivar a atividade econômica, em um ambiente de aumento das desigualdades sociais. Isso sem falar na preocupação com uma segunda onda de contágio por Covid-19, diante de indícios de novos casos com mutação do vírus, e no acirramento da crise política entre EUA e China e em Brasília.



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