top of page

Mercado entre vírus e política


O sinal negativo volta a aparecer entre os ativos de risco no exterior, em dia de agenda cheia nos Estados Unidos, que traz dados de atividade em março e balanços de grandes bancos. Lá fora, os investidores avaliam o risco de uma reabertura prematura da economia, após o coronavírus alcançar a marca de 2 milhões de contaminados no mundo.


Enquanto isso, no Brasil, o mercado financeiro dá mais peso ao noticiário vindo de Brasília, onde a pandemia virou uma disputa política entre os poderes e até mesmo dentro do governo. Com isso, as atenções estão divididas entre as votações no Senado e a iminente saída do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.


O presidente Jair Bolsonaro já estaria à procura de um nome e o anúncio do sucessor na Pasta pode ser feito ainda nesta semana. O ministro perdeu apoio do núcleo militar, após uma entrevista em um programa de TV, e acertou de ficar no cargo até a definição de um substituto. O mais provável é de que o escolhido seja Osmar Terra, que já vê o pico da doença no país.


Nos dados oficiais, os casos confirmados de coronavírus ultrapassam 25 mil, mas os números reais podem ser bem maiores, uma vez que ao menos 15 mil testes aguardam resultado no país. Ontem, o Brasil registrou mais de 200 mortes em 24 horas pela primeira vez, com o total de óbitos chegando a pouco mais de 1,5 mil. Todos os estados brasileiros já registram vítimas da doença.


Aliás, no Congresso, o foco está nas negociações para ajustar o texto aprovado na Câmara, de socorro financeiro aos estados e municípios para combater a disseminação do coronavírus, bem como a votação do chamado “Orçamento de Guerra”. Ambas as pautas aguardam apreciação no Senado, mas o governo foi rápido em apresentar uma alternativa à medida de auxílio a governadores e prefeituras.


A proposta da equipe econômica é de aumentar em R$ 77 bilhões a ajuda da União no enfrentamento da crise causada pela doença no país. Portanto, não se trataria mais de um “cheque em branco”. O valor total proposto pelo governo chegaria a R$ 127,3 bilhões, de R$ 49,9 bilhões já anunciados em março.


Assim, o Executivo não teria de negociar com senadores alterações no texto-base, o que, por si só, já seria um trabalho custoso. Afinal, o governo não tem capital político para fazer exigências, ainda mais contra uma medida de apelo popular em tempos de pandemia. Mas a alternativa apresentada eximiria até a necessidade de um veto presidencial.


Em relação ao chamado “Orçamento de Guerra”, a expectativa é de que a votação ocorra hoje. Mas a aprovação do texto, que era dada como certa, ficou condicionada a ajustes, principalmente em relação à atuação do Banco Central na compra de crédito privado, limitando a aquisição de dívida de empresas que não correm o risco de quebrar.


Mesmo assim, a aprovação do projeto na Câmara na noite de terça-feira não pesou no mercado ontem, ao contrário do que se alardeava. Os ativos locais pegaram carona no apetite por risco no exterior, minimizando a preocupação com o rombo das contas públicas nacionais. Com isso, o Ibovespa reconquistou a marca dos 80 mil pontos, já o dólar seguiu acima de R$ 5,00.


Exterior no vermelho


Hoje, porém, o mercado doméstico não deve ter nenhum amparo do ambiente internacional para suavizar os problemas internos. Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em queda de mais de 1%, sinalizando um dia de perdas antes de uma agenda forte e após Wall Street encerrar ontem no nível mais alto em um mês.


As principais bolsas europeias também abriram no vermelho, interrompendo uma sequência de cinco pregões seguidos de valorização. Na Ásia, a sessão também foi mais fraca, com as perdas lideradas pela Bolsa de Hong Kong (-1,2%). Nos demais mercados, o petróleo cai, com o barril do tipo WTI cotado abaixo de US$ 20, enquanto o dólar sobe firme.


De um modo geral, os investidores estão preocupados com a perspectiva sombria do Fundo Monetário Internacional (FMI), de que a economia global irá sofrer o pior ano em quase um século - desde a Grande Depressão na década de 1930 - devido à pandemia de coronavírus. Tal receio renova a busca por proteção em ativos seguros.


Ao mesmo tempo, os investidores digerem as conclusões de um primeiro estudo científico que projeta como e quando o problema da Covid-19 será superado. Segundo cientistas da Universidade de Harvard (EUA), as medidas de isolamento social para conter a doença podem ser necessárias até 2022, ainda que de forma alternada.


Do contrário, só uma vacina, um tratamento novo (e eficaz) ou o aumento da capacidade do sistema de saúde irão permitir uma solução mais rápida da pandemia. Ainda segundo os pesquisadores, mesmo se houver uma eliminação aparente da doença agora, o mundo terá de enfrentar novos surtos de coronavírus nos próximos anos.


EUA têm atividade e balanços


Já a agenda econômica desta quarta-feira está repleta de indicadores e eventos relevantes nos Estados Unidos. Entre o destaques, estão os dados de março sobre as vendas no varejo (9h30) e a produção industrial (10h15), além dos balanços dos bancos Citigroup, Bank of America e Goldman Sachs referentes ao primeiro trimestre deste ano.


Ainda no calendário norte-americano, saem o índice regional sobre a atividade em Nova York neste mês (9h30); os estoques das empresas em fevereiro, o índice de confiança das construtoras em abril, ambos às 11h; e os estoques semanais de petróleo nos EUA (11h30). À tarde (17h), é a vez do fluxo de capital estrangeiro em fevereiro no país.


No Brasil, serão conhecidos o primeiro IGP do mês, o IGP-10 (8h) e os dados semanais do Banco Central sobre a entrada e saída de dólares (fluxo cambial) do país (14h30).


Posts Destacados
bottom of page