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Lula isolado


Mais uma pesquisa, mesmo cenário. Os números do Datafolha divulgados hoje reforçam o aumento das intenções de voto no ex-presidente Lula, para 39%, e a competitividade dos demais candidatos, em um cenário sem o líder petista e com Jair Bolsonaro à frente, com 22%. E essa ausência de novidades deve continuar pesando no mercado doméstico.

O fato é que este cenário eleitoral já prevalece há alguns meses, sem mudanças relevantes, apesar da torcida por uma definição mais clara. As mais recentes pesquisas eleitorais colocaram os investidores com os “pés no chão”, sem que nenhum candidato mais reformista ganhasse tração, ao mesmo tempo em que Lula cresce.

Com isso, houve uma forte piora dos negócios locais. Os investidores passaram a embutir no preço dos ativos a possibilidade de o candidato preferido do mercado, Geraldo Alckmin, ficar de fora do segundo turno das eleições de outubro. Esse receio explica o dólar a R$ 4,00, no maior nível em mais de dois anos, e o aumento do prêmio de risco.

No Datafolha, o tucano aparece com 6%, empatado pela margem de erro com Ciro Gomes (5%) e Marina Silva (6%), em um cenário com Lula, no qual ele lidera a disputa, com 39%, seguido por Bolsonaro, com 19%. Sem o ex-presidente, o candidato do PSL tem 22%, seguido pela ex-senadora (16%) e os ex-governadores do Ceará (10%) e de São Paulo (9%).

Nessa simulação, Fernando Haddad aparece com 4%. Segundo o Datafolha, 48% dos 8 mil entrevistados não votariam em um candidato indicado por Lula, enquanto 31% o fariam e 18%, talvez. O ex-prefeito de São Paulo não é conhecido por 27% dos eleitores, contra 59% que já ouviram falar dele. Além disso, Haddad registra baixo índice de rejeição (21%).

Essas variáveis podem ser levadas em conta pelo PT na hora de elaborar as peças da propaganda eleitoral gratuita, que começa no rádio e na TV no dia 31. Aliás, a esperança dos investidores, agora, recai no início dessa campanha em cadeia nacional, que pode mudar a composição dos candidatos na corrida presidencial.

Ao mesmo tempo, é crescente a ansiedade pela definição da candidatura do PT. Preso após condenação em segunda instância, Lula deve ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. Mas ainda não se sabe se a Justiça Eleitoral terá decidido o futuro do ex-presidente antes do início da campanha na TV. A expectativa é de que a impugnação só seja julgada no início de setembro.

Diante disso, o principal receio entre os investidores é quanto à transferência de voto de Lula para o “candidato de fato”. O temor é de que Haddad seja o adversário de Bolsonaro em um eventual segundo turno, em uma competição entre “extremos” (à esquerda e à direita).

Em meio à cautela com o cenário eleitoral totalmente aberto e indefinido, a agenda econômica fica em segundo plano. Ainda mais diante de um calendário doméstico fraco hoje, que traz apenas os dados semanais sobre a entrada e saída de dólares do país até meados deste mês (12h30).

No exterior, saem as vendas de imóveis residenciais nos Estados Unidos em julho (11h) e os estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados (11h30). À tarde, o Federal Reserve publica a ata da reunião de agosto (15h).

O documento deve trazer a discussão entre os membros do Fed sobre o atual plano de voo, de elevar a taxa de juros norte-americana mais duas vezes neste ano, e também a avaliação quanto ao impacto da guerra comercial na dinâmica da economia do país. Ainda assim, o material deve ser visto pelo retrovisor.

Os investidores estão mesmo à espera do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira. Ainda mais depois de comentários do presidente dos EUA, Donald Trump, no qual ele diz não estar “empolgado” e carente de “mais ajuda” em relação ao Fed. Mas os negócios nesta manhã reagem hoje ao pior dia do republicano desde que assumiu a Casa Branca.

Em um único dia, o ex-advogado de Trump Michael Cohen fechou acordo de delação premiada, que pode comprometer o presidente em relação à compra de silêncio de mulheres com quem estaria tendo casos, enquanto o ex-chefe da campanha presidencial do republicano Paul Manafort foi condenado por fraude bancária.

Esses episódios pesam nos índices futuros das bolsas de Nova York nesta manhã, enquanto o dólar e as Treasuries estão mais fortes. Os investidores estão preocupados com as consequências do mais recente drama legal envolvendo Trump e aproveitam para embolsar os ganhos recentes, buscando certa proteção em ativos seguros.

A principal questão é que as histórias envolvendo Manafort e Cohen não deveriam vir a público antes de novembro, de modo a não afetar as eleições legislativas (mid term election). Por ora, a popularidade de Trump e a maioria do partido republicano no Congresso seguem intactos, mas esse pano de fundo pode abalar essa frágil vantagem.

Mais que isso, tal situação sobre o chefe da Casa Branca pode ser passível de algum pedido de impeachment contra o presidente dos EUA. Se isso, de fato, irá ocorrer, é outra questão.

Mas, de qualquer forma, a tensão política nos EUA é mais um ponto de volatilidade aos negócios globais e traz um novo ruído aos mercados. Na Europa, as principais bolsas têm desempenho misto, seguindo a falta de direção única na Ásia. Entre as commodities, o petróleo avança pelo quinto dia, enquanto os metais básicos derreteram.

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