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In central banks we trust



O movimento raro do Federal Reserve ontem, de reduzir emergencialmente a taxa de juros norte-americana em meio ponto percentual (pp) em evento extraordinário, reacendeu os piores temores do mercado financeiro. Os investidores mostraram-se mais abalados do que consolados pela decisão inesperada, vista pela última vez em outubro de 2008.


Ainda assim, o Fed apenas abriu caminho para que outros bancos centrais façam o mesmo, de modo a evitar o risco de uma recessão global. A expectativa é que de os BCs da zona do euro (BCE) e do Canadá (BoC) também lancem mão hoje de medidas sem precedentes de estímulo monetário para combater os impactos econômicos do surto de coronavírus.


E o BC brasileiro também ajustou a comunicação. Em nota à imprensa na noite de ontem, a autoridade monetária afirmou que “monitora atentamente” os efeitos da doença na economia brasileira e que irá avaliar tais impactos ao longo das próximas duas semanas, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) reúne-se.


A mensagem foi lida como uma continuidade do ciclo de cortes na taxa básica de juros, a dose de 0,50 pp, neste mês, após uma queda residual de 0,25 pp no mês passado, quando a interrupção do processo foi vista como “adequada”. Agora, as apostas são de que a Selic pode cair até 3%, levando o Brasil a registrar juro real negativo pela primeira vez na história.


Com o diferencial de juros aqui no país em relação ao praticado em outros emergentes ainda menor, a pressão sobre o dólar tende a explodir, levando a moeda norte-americana a alcançar novos topos históricos. Aliás, ontem o dólar subiu pela décima sessão seguida, acima de R$ 4,50, cravando novo recorde nominal pela nona vez consecutiva.


Exterior muda foco


Mas o que embala os índices futuros das bolsas de Nova York nesta manhã é a vitória de Joe Biden na “Super-terça” em mais estados norte-americanos do que o rival democrata Bernie Sanders. Ele venceu a votação na Califórnia, e em outros três estados, mas o ex-vice-presidente levou o maior número de delegados, conquistando nove regiões.


Em reação, Wall Street sinaliza uma forte recuperação das perdas de quase 3% ontem, o que anima a abertura do pregão europeu, após uma sessão sem brilho na Ásia. O dólar ganha terreno em relação às moedas rivais, enquanto o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) segue abaixo de 1%. O petróleo sobe, mas o ouro cai.


Apesar da mudança de foco, é a surpresa com a decisão do Fed ontem que provoca uma ampla especulação no mercado financeiro. Enquanto alguns aplaudiram o corte agressivo, outros avaliavam que o anúncio emergencial sinaliza que a epidemia nos EUA é severa. Há ainda quem diga que houve ingerência da Casa Branca, em ano eleitoral.


Seja como for, a sensação dos investidores é de que o impacto do coronavírus no mundo é grave, o que levantou dúvidas quanto aos efeitos práticos de medidas de estímulo monetário na atividade. Até mesmo a eficácia de eventuais ações de política fiscal na economia real é colocada em xeque.


Afinal, medidas nesse front visam mitigar choques de demanda e sabe-se que o estrago da doença tem sido maior na produção, provocando um colapso na cadeia de suprimentos. Esse choque na oferta resulta na escassez de matérias-primas e produtos, com fábricas paradas e linhas de montagem interrompidas. Os serviços também sofrem com a redução de viagens internacionais.


E baixar as taxas de juros ou cortar impostos não fará com que as fábricas voltem ao trabalho se estiveram fechadas por causa do vírus ou falta de insumos básicos para funcionar nem que as famílias continuem comprando se as áreas onde residem ou trabalham forem bloqueadas para impedir a propagação da doença. No máximo, esses estímulos agem de forma preventiva contra um choque de demanda.


Essa percepção criou uma enorme incerteza, com os investidores ficando com medo do que vem pela frente e sem saber o que fazer no momento atual, apesar da injeção de liquidez pelos BCs. Como resultado, tem-se uma volatilidade ainda maior nos mercados, com fortes altas sendo seguidas de duras quedas, muitas vezes, em um mesmo pregão.


Dia de agenda cheia


A agenda econômica desta quarta-feira está carregada, no Brasil e no exterior. O destaque por aqui fica com a divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três meses do ano passado e no acumulado de 2019. A previsão é de crescimento da economia, nas duas bases de comparação.


A previsão é de alta de 0,5% em relação ao trimestre anterior e de +1,5% no confronto com um ano antes, marcando o terceiro e o décimo segundo resultados positivos consecutivos, respectivamente. Com isso, a economia brasileira deve ter crescido 1,1% em todo o ano passado, desacelerando-se levemente em relação à alta de 1,3% verificada em 2018.


Os dados efetivos serão divulgados às 9h e são importantes para aferir o ritmo da economia doméstica na virada para 2020. Qualquer sinal de perda de tração na reta final do ano passado tende a reforçar as apostas de cortes na Selic, uma vez que a atividade já deve sofrer os efeitos do surto de coronavírus.


Ainda no calendário brasileiro, às 14h30, saem os dados do Banco Central sobre a entrada e saída de dólares do país (fluxo cambial) em fevereiro. Os números devem refletir as retiradas maciças de recursos da Bolsa brasileira, que já acumula saldo negativo de quase R$ 40 bilhões em capital externo nos dois primeiros meses deste ano.


No exterior, as atenções se dividem entre o relatório da ADP sobre a criação de emprego no setor privado norte-americano no mês passado (10h15), o Livro Bege do Fed (16h) e dados de fevereiro sobre a atividade no setor de serviços nos EUA e na zona do euro, ao longo da manhã. Também serão conhecidos os estoques semanais de petróleo nos EUA (12h30).



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