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Dia de decisão de BCs


Agosto começa hoje e deve trazer mais volatilidade ao mercado financeiro, após um julho favorável ao apetite por risco, em meio ao noticiário mais tranquilo e à liquidez mais fraca. Esse ambiente permitiu que o dólar registrasse a primeira queda mensal frente ao real desde janeiro e que a Bolsa tivesse o primeiro mês com sólidos ganhos também desde o início do ano.

Mas essa calmaria nos negócios não deve ter vida longa. Já neste primeiro dia do novo mês o destaque é a decisão de juros dos bancos centrais do Brasil (18h) e dos Estados Unidos (15h). Em ambos os casos, a expectativa é de manutenção da taxa básica nos atuais níveis, o que desloca o foco à comunicação, em busca de pistas sobre a condução da política monetária.

Os investidores irão procurar, no comunicado do Federal Reserve e do Comitê de Política Monetária, a estratégia em relação à trajetória do custo do empréstimo até o fim deste ano. A expectativa é de que o texto que acompanhará o anúncio da decisão possa nortear o mercado financeiro quanto à condução da política monetária, calibrando a exposição entre os ativos globais.

Nos EUA, merece atenção qualquer avaliação do Fed em relação à guerra comercial e os efeitos das medidas protecionistas do governo Trump na atividade e na inflação norte-americana. Também será fundamental compreender o impacto de um cenário de pleno emprego sobre os salários, pressionando os custos às empresas e os preços ao consumidor.

No restante do mundo, as restrições ao comércio global já provocam uma desaceleração econômica na China, zona do euro e Japão. Após os índices dos gerentes de compras (PMI) chineses mostrarem perda de tração nos setores industrial e de serviços, hoje foi a vez dos números europeus.

O PMI da indústria na zona do euro, porém, não denotou atividade menos intensa e repetiu a leitura preliminar, ficando em 55,1 em julho, sob influência no desempenho do setor na França. Ainda assim, as principais bolsas europeias sofrem para firmar um rumo único, em meio à falta de direção em Wall Street, onde os índices futuros amanhecem na linha d’água.

A imprevisibilidade do governo Trump em relação ao comércio internacional tem estado em evidência nas últimas 24 horas, após os relatos de que pode prosseguir o impasse entre Washington e Pequim, diante de novas ameaças de aumento de tarifas vindas dos EUA. Conselheiros de Donald Trump estariam surgindo nova taxação de 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, impedindo nova rodada de negociações.

Lá fora, os investidores também aguardam os números da ADP sobre a criação de vagas de emprego no setor privado dos EUA (9h15). À espera desse dado e da decisão do Fed, o dólar segue forte em relação às moedas rivais, o que enfraquece as commodities. O petróleo e os metais básicos caem, aumentado a pressão sobre os ativos de países emergentes.

Já no Brasil, a agenda econômica traz números sobre a inflação ao produtor (IPP) em junho (9h), e dados de julho sobre a entrada e saída de dólares no país (12h30) e sobre o desempenho da balança comercial (15h). Mas o foco estará mesmo na decisão do Copom, a ser conhecida somente após o fechamento do pregão local.

As apostas são de que a taxa básica de juros será mantida em 6,50% pela terceira vez consecutiva, diante dos sinais de atividade fraca, desemprego elevado e expectativas de inflação ancoradas. Já o comunicado do Copom deve deixar em aberto suas próximas movimentações, sem se comprometer com qualquer sinalização, em meio às incertezas internas e externas.

Contudo, para a reunião seguinte, em setembro, o mercado financeiro está dividido entre um aperto moderado, de 0,25 ponto porcentual (pp), e uma nova manutenção da Selic. Trata-se de um risco embutido nos preços dos ativos locais, uma vez que os investidores seguem receosos com o cenário fiscal e eleitoral no Brasil.

O rombo nas contas públicas e a possibilidade de o povo não eleger um candidato com perfil reformista tende a reforçar a postura defensiva nos negócios locais de agora em diante. Até porque a disputa presidencial entra de vez no radar do mercado doméstico.

Os candidatos que irão disputar a Presidência serão definidos até domingo, com a chapa das candidaturas sendo registrada até o dia 15. Porém, a maioria dos presidenciáveis ainda não definiu seus vices. Na segunda metade deste mês, começa oficialmente a campanha eleitoral e a propaganda gratuita em rádio e TV tem início no dia 31.

Até lá, o mercado financeiro ficará atento ao apoio das coligações partidárias e às pesquisas eleitorais mais fidedignas. Por enquanto, prevalecem os cenários com o ex-presidente Lula - preso há mais de 100 dias após condenação em segunda instância - na liderança das intenções de voto.

Nos levantamentos dos institutos mais tradicionais que não consideram o líder petista na disputa, o deputado Jair Bolsonaro aparece tecnicamente empatado com a ex-senadora Marina Silva, o ex-ministro Ciro Gomes e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Com metodologia questionável, o site Poder360 divulgou hoje mais uma pesquisa.

O levantamento feito pelo DataPoder360 nos últimos dias de julho mostrou que Bolsonaro segue na liderança, com 20%, seguido por Ciro Gomes, com 13%. A novidade ficou com a ultrapassagem de Marina Silva por Alckmin, que oscilou de 8% para 9%, enquanto a ex-senadora oscilou de 7% para 6%. Este cenário reduzido não conta com a presença de Lula. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pp.

No mercado financeiro, gera desconforto a competitividade mostrada pelo principal candidato à esquerda, Ciro Gomes. Nesse panorama, os investidores já desconsideram Lula (e o PT) da disputa. Em contrapartida, o candidato tucano é o que mais agrada e ainda se espera que ele decole nas pesquisas, tornando-se o principal adversário do deputado. Bolsonaro, por sua vez, é aceito por causa de Paulo Guedes, seu provável líder da equipe econômica.

Marina Silva ainda precisa convencer seu viés reformista. Ontem, a pré-candidata da Rede disse, durante um programa de TV, que defende a reforma trabalhista, mas que, se eleita, mudará pontos da lei. Aliás, o mercado sabe que os debates entre os candidatos e as entrevistas com os presidenciáveis podem influenciar na decisão de voto do eleitor.

Afinal, a presença (e a performance) na mídia é capaz de provocar mudanças no desempenho dos principais nomes na disputa até outubro. Ainda mais quando se diz que a eleição de 2018 é uma reedição do pleito de 1989...

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