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Contagem regressiva


Mal terá tempo de reagir aos números do Datafolha, divulgados na noite de sexta-feira, e o mercado financeiro brasileiro já recebe uma nova pesquisa eleitoral, desta vez do MDA (11h), que pode corroborar um segundo turno entre Jair Bolsonaro e um candidato de esquerda. É que faltando três semanas para o primeiro turno, a corrida eleitoral começa a tomar forma.

No Datafolha, Fernando Haddad foi novamente o único candidato a crescer fora da margem de erro, passando de 9% para 13% - vindo de 4% antes - e empatando com Ciro Gomes, que manteve os 13% da segunda-feira passada. Junto com eles, está Geraldo Alckmin, que oscilou em baixa, de 10% para 9%.

Por sua vez, Marina Silva foi a única candidata a cair fora da margem de erro e tem 6% das intenções de voto, de 9% antes, mas empatada tecnicamente com o tucano. Na liderança, Jair Bolsonaro oscilou de 24% para 26%, mostrando que houve sim um efeito positivo do ataque a faca em Minas Gerais para comover eleitores.

Porém, apenas 2% mudaram voto após o ocorrido com o candidato do PSL em ato de campanha. Ele segue como o mais rejeitado, com 44%, de 43%, seguido por Marina, com 30%, de 29%. Na sequência, aparece Haddad, cuja rejeição foi a única a subir, de 22% para 26%, enquanto a de Ciro oscilou de 20% para 21%.

O instituto foi a campo no fim da semana passada e ouviu pouco mais de 2,8 mil pessoas em quase 200 municípios. Logo mais, sai a pesquisa da MDA, encomendada pela CNT. A consultoria fez entrevistas com cerca de 2 mil pessoas entre a quarta-feira passada e sábado, em 137 cidades. Amanhã, é a vez de um novo Ibope, que faz coleta até amanhã.

Juntas, essas pesquisas podem começar a definir o quadro eleitoral. O rápido crescimento de Haddad no Datafolha já assusta seus adversários e o mercado financeiro brasileiro. O candidato do PT pode assumir o segundo lugar de forma isolada nos próximos levantamentos, em meio à transferência de votos do ex-presidente Lula, projetando um embate final com Bolsonaro.

Até por isso, Haddad foi alvo de críticas de diferentes candidatos durante o filme de semana. Ainda no hospital, mas já apresentando melhoras, Bolsonaro já fala em fraude nas eleições, caso ele venha a perder o pleito para o candidato do PT. Para ele, tal possibilidade está na votação em urna eletrônica, após a Suprema Corte derrubar a proposta do candidato do PSL da impressão de um recibo do voto.

Já a vice de Ciro Gomes, a ex-ministra Kátia Abreu, criticou o PT de ingratidão em relação à ela e acusou Haddad de ter se escondido durante o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Hoje à noite, o candidato na chapa do PDT concede entrevista ao Jornal da Globo, abrindo a rodada entre os presidenciáveis.

O problema é que, enquanto a corrida eleitoral começa a esquentar permanecem as dúvidas quanto à aprovação de reformas econômicas após a votação nas urnas em outubro. Isso porque, independentemente de quem vencer, as perspectivas de reformas fiscal e estrutural seguem bem nebulosas.

Mesmo que o presidente eleito seja pró-mercado, o desafio para conseguir estabilizar as contas públicas e aumentar o crescimento econômico é grande. Com isso, a expectativa é de que a recuperação da atividade seja mais lenta e gradual do que o esperado anteriormente. E isso já começa a ser apontado nas divulgações do Banco Central.

Aliás, a segunda-feira traz o índice de atividade do BC (IBC-Br) em julho, que será conhecido pela manhã (8h30), praticamente junto com o relatório semanal Focus (8h25), com as previsões do mercado financeiro para as principais variáveis econômicas. O problema é que boa parte dessas estimativas estão represadas, à espera do desfecho eleitoral.

Na quarta-feira, o BC volta à cena para anunciar a decisão sobre a taxa básica de juros. A previsão é de estabilidade da Selic em 6,50% pela quarta vez seguida, diante do cenário de inflação comportada e de atividade fraca, apesar dos recentes apertos monetários na Argentina, Turquia e Rússia e de o dólar ter rompido o patamar de R$ 4,00.

Ainda assim, a expectativa do mercado financeiro brasileiro é de que a autoridade monetária olhe “com carinho” para a formação de preço da moeda norte-americana e anuncie atuações, via leilões programados de swap cambial, para ajudar os investidores a passar pelo período de maior turbulência eleitoral. Afinal, os BC de países emergentes estão tentando se proteger e o brasileiro também pode estar preparando algo - mas não via uma ação nos juros básicos.

As novidades do encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), então, devem ficar apenas com o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão. Já na sexta-feira, será conhecida a prévia de setembro da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), que ainda não deve refletir os preços mais salgados no atacado.

No exterior, o calendário econômico está igualmente fraco e traz apenas dados de inflação e de atividade na zona do euro, hoje e sexta-feira, respectivamente, além de números sobre o desempenho da indústria e do setor de serviços nos Estados Unidos, no fim da semana. Amanhã, sai a decisão de política monetária no Japão.

Lá fora, são as preocupações com a guerra comercial que assustam o investidor. A notícia de que Donald Trump estaria disposto em prosseguir com a sobretaxa em US$ 200 bilhões de produtos chineses inibe o apetite por risco, reduzindo as expectativas em relação à nova rodada de negociações entre Washington e Pequim.

A China estaria considerando recusar o convite feito pela Casa Branca, em meio à estratégia de “morde e assopra” do presidente norte-americano. A Bolsa de Xangai caiu 1,1% hoje, fechando no menor nível desde 2014, abaixo até do registrado em janeiro de 2016, quando um desastroso mecanismo de circuit breaker trouxe pânico aos negócios globais.

O sinal negativo se espalhou por toda a Ásia, com Hong Kong caindo 1,3%. Tóquio não abriu, devido a um feriado. Na Europa, as principais bolsas abriram no vermelho, acompanhando a sinalização vinda dos índices futuros das bolsas de Nova York, que têm perdas moderadas.

Entre as moedas, o dólar avança ante as divisas de países emergentes, com destaque para a queda do won sul-coreano, da rupia indiana e lira turca. Nas commodities, o petróleo ensaia ganhos, enquanto o cobre o níquel recuam. Essa aversão ao risco no cenário externo tende a potencializar as perdas nos ativos locais hoje com a cena eleitoral.

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