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Apetite temperado com risco


As incertezas em relação ao ressurgimento de casos de coronavírus e os riscos à retomada da economia global começam a se sobrepor no mercado financeiro, o que é evidenciado pela maior volatilidade dos negócios com risco. Ainda assim, os investidores encontram amparo na liquidez pulverizada pelos bancos centrais, o que impede qualquer correção mais acentuada dos preços dos ativos.


E ao que tudo indica esse vaivém veio para ficar. Ao menos até que se tenha clareza sobre o perigo da segunda onda de contágio de covid-19 ou em relação ao formato da recuperação da atividade pós-pandemia. Ontem, o mesmo Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou à cena para alertar que o otimismo do mercado financeiro está descolado da economia real, o que pode levar a uma reversão do sentimento dos investidores.


Segundo o Fundo, não se trata apenas da perspectiva dos mercados de uma retomada rápida e acelerada, em forma de “V”, da economia global, mas também das expectativas sobre a extensão e a duração dos estímulos monetários dos bancos centrais. Para o FMI, tanto a recessão econômica pode ser mais profunda e prolongada do que o atualmente previsto, quanto as medidas dos BCs podem levar a uma distorção de preços dos ativos.


Atentos a isso, os investidores chegam às vésperas do fim do mês sustentando os ganhos obtidos ao longo de junho, sem forças para testar novos topos, mas também sem motivos para engatar uma correção abrupta, com os ativos respeitando intervalos de oscilação. Assim, a injeção sem precedentes de dinheiro no sistema financeiro pelos BCs tem um efeito “anestésico” sobre os mercados.


Teste de estresse


Tanto que, inicialmente, o resultado dos testes de estresse e as medidas anunciadas ontem pelo Federal Reserve deixaram a impressão de que poderia ter alguma instituição financeira em dificuldade por causa da pandemia. Wall Street já estava fechada quando o Fed e outros órgãos reguladores facilitaram as regras que limitam a capacidade dos bancos de investir em fundos de hedge, colocaram restrições no pagamento de dividendos.


Também foi suspenso qualquer programa de recompra de ações, de modo a preservar o capital dessas instituições. As mudanças visam ajudar a sustentar a saúde financeira dos grandes bancos, que parecem enfrentar desafios para manter rentabilidade por causa das taxas de juros próximas a zero (ou negativas) adotadas pelos bancos centrais em resposta ao coronavírus.


Ou seja, os investidores parecem estar apostando em mais apoio monetário por parte do Fed para impedir uma crise financeira. Ainda assim, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram no vermelho, prejudicados pelas incertezas quanto ao tamanho do impacto econômico causado pela covid-19, o que pode demandar nova ajuda fiscal vinda da Casa Branca.


Já na Europa, as principais bolsas abriram em alta, pegando carona no sinal positivo vindo da Ásia, onde a sessão seguiu esvaziada, ainda por causa de um feriado na China. Porém, os ganhos nessas regiões são limitados, em meio às preocupações crescentes. O dólar se fortalece, enquanto o petróleo oscila em alta, após a Rússia reduzir as exportações da commodity para os níveis mais baixos em pelo menos 10 anos.


Por aqui, a combinação de bolsa (Ibovespa) em alta, juros baixos e dólar nervoso (mas controlado) ganha sustentação, desde que os ventos externos continuem soprando a favor e essa onda de euforia siga tomando conta dos investidores. Ainda que o crescimento econômico do Brasil não venha e o rombo das contas públicas continue aumentando. Afinal, se são os fundamentos que movem os ativos locais, é fato que eles não são nada bons.


Agenda fraca


A semana chega ao fim trazendo, no Brasil, dados sobre a confiança do comércio neste mês (8h) e os números do BC sobre as operações de crédito em maio (9h30). Já nos EUA, saem dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo, às 9h30, além da versão revisada do índice de confiança do consumidor norte-americano em junho (11h).


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