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Campanha na TV começa e Guerra Comercial continua


Setembro começa com uma semana encurtada por feriados, hoje nos Estados Unidos (Labor Day) e na sexta-feira no Brasil (Dia da Independência), mas nem por isso a volatilidade tende a diminuir no mercado financeiro. Afinal, a campanha eleitoral está apenas começando - e agora sem o ex-presidente Lula como candidato - enquanto a guerra comercial avança. E esse dois assuntos tendem a continuar agitando os negócios no curto prazo, à espera de um desfecho.

O presidente norte-americano, Donald Trump, disse no sábado que não há “necessidade política” de manter o Canadá no novo acordo do Nafta, ameaçando encerrar o tratado entre os países da América do Norte que já dura 24 anos. Segundo ele, o livre comércio na região “não é justo” com os EUA e seria bem melhor para o país sair do Nafta.

Trump mantém, então, seu estilo de negociar, rompendo tratados e firmando parcerias bilaterais, como fez com o México do ainda presidente Enrique Peña Nieto. Mas, no Canadá, parece pegar mal Justin Trudeau se curvar ao primeiro grito do republicano. As negociações tendem a continuar, mas o maior parceiro comercial dos EUA quer um acordo bom a ambos.

Enquanto isso, prossegue o embate sino-americano, com Washington e Pequim arrastando o confronto, que já supera as relações comerciais. A próxima rodada de tarifas norte-americanas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses deve ocorrer já nesta semana, em meio à falta de resolução para evitar uma escalada do conflito.

A China se diz pronta para retaliar com impostos adicionais sobre quase tudo o que importa da América. De um lado, o governo chinês parece resignado em esperar as eleições legislativas nos EUA (mid term election) para retomar as discussões com mais serenidade - ciente de que Trump faz do país um bode chinês para evitar se tornar um pato manco - enquanto a Casa Branca acredita que a economia chinesa é mais frágil do que parece.

No mercado financeiro, os investidores estão preocupados se a economia global é capaz de resistir a choques na atividade devido às restrições comerciais, em meio a um processo de aumento da taxa de juros norte-americana, que mantém os ativos emergentes sob pressão. O Federal Reserve deve elevar o custo do empréstimo no país pela terceira vez neste ano no fim de setembro.

Diante disso, as principais bolsas da Ásia encerraram a sessão de hoje no vermelho, com perdas mais aceleradas em Hong Kong (-0,7%). O sinal negativo também prevalece na Europa, com a queda liderada pelas montadoras, em meio a um pregão de liquidez reduzida, por causa do feriado nos EUA, que mantém as bolsas de Nova York fechadas. 

O dólar, por sua vez, sustenta os ganhos apurados na semana passada, com uma renovada pressão sobre as moedas emergentes, diante das recentes turbulências na Turquia e na Argentina. A lira turca e o rand sul-africano estão nos níveis mais baixos em três semanas e em mais de dois anos, respectivamente.

A libra esterlina também tem novas perdas, em meio ao impasse em relação ao Brexit, enquanto o iene se valoriza. Nas commodities, o cobre recupera as perdas, mas o petróleo recua. Já o ouro está no menor valor em mais de uma semana.

No Brasil, a impugnação da candidatura de Lula pela Justiça Eleitoral por 6 votos a 1, em sessão extraordinária na sexta-feira passada que se estendeu até a madrugada de sábado, ao menos retirou um fator de incerteza da corrida eleitoral, colocando o ex-presidente oficialmente fora da disputa presidencial deste ano. Mas ainda cabe recurso à decisão de negar o registro do candidato no próprio TSE e na Suprema Corte.

O PT tem até o dia 12 de setembro para alterar a chapa e a expectativa é de que o vice, Fernando Haddad, torne-se o candidato de fato, com Manuela D'Ávila (PCdoB) assumindo o lugar do ex-prefeito de São Paulo. Haddad deve visitar Lula na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde pode definir quando será feito o anúncio da nova chapa.

No primeiro dia de propaganda eleitoral na TV para os presidenciáveis, no sábado, o ex-prefeito de SP foi quem ocupou a maior parte dos 2 minutos e 32 segundos do bloco do PT, enquanto o ex-presidente ocupou a fatia de 25% permitida para os apoiadores durante a campanha gratuita. Ao todo, o nome de Lula foi citado 15 vezes.

Fica, então, a expectativa pelas próximas pesquisas eleitorais a serem conhecidas após o início do horário político em rádio e TV. Amanhã, tem pesquisa Ibope, que foi a campo desde quarta-feira passada. Na quinta-feira, será conhecido um novo Datafolha, que começa a sondagem amanhã.

Até o momento, os mais recentes levantamentos apontam um embate entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad em segundo turno, nos cenários feitos por institutos de menor peso e que não consideram o ex-presidente Lula. Quando ele está na disputa, a liderança encosta em 40%, nas sondagens mais tradicionais. 

Todavia, essa simulação ainda é incerta. O número de eleitores indecisos é recorde e não se sabe se a propaganda eleitoral nos meios de comunicação de massa tem o mesmo impacto de outrora, em tempos de internet e das redes sociais.

E essa incerteza tende a manter o mercado financeiro brasileiro sensível ao noticiário político, com um intenso vaivém dos ativos. Por ora, a única âncora que está impedindo um colapso é a esperança de que a campanha política na TV mude a corrida para um melhor resultado - aos olhos dos investidores.

É bom lembrar que o candidato preferido do mercado financeiro continua sendo Geraldo Alckmin, devido a sua agenda de reformas, tidas como necessárias à economia brasileira, e ao seu viés fiscalista, de controle dos gastos públicos. Ainda assim, a não subida do tucano entre as intenções de voto tem levado a um flerte com Bolsonaro, por causa do seu provável ministro da Economia, Paulo Guedes - o Chicago boy de ideais liberais. 

Com isso, o noticiário em torno das eleições tende a relegar os eventos e indicadores econômicos a serem conhecidos nos próximos dias, colocando em segundo plano até mesmo uma nova ameaça de greve dos caminhoneiros. Uma nova mobilização pode acontecer após o feriado nacional, por tempo indeterminado, diante da acusação de que o governo não cumpriu o prometido em relação ao preço do diesel - na última sexta-feira, o combustível teve um aumento de 13%. 

Já a agenda da semana traz dados de atividade ao redor do mundo, além de números sobre a inflação ao consumidor brasileiro (IPCA) e sobre o emprego nos EUA (payroll). Hoje, o calendário traz dados da indústria na zona do euro, logo cedo, além das tradicionais publicações do dia no Brasil: relatório Focus (8h25) e balança comercial (15h).

Também merecem atenção as novas medidas econômicas que o governo da Argentina deve anunciar nesta segunda-feira, em meio à desvalorização recorde do peso e ao empréstimo financeiro feito pelo "bom aluno", o presidente Maurício Macri, junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A crise por lá tem contagiado o mercado financeiro no Brasil, via câmbio, apesar da situação doméstica ser bem diferente da do país vizinho.

Amanhã, é a vez do desempenho da produção industrial nacional em julho e do emplacamento de veículos (Fenabrave) em agosto. Na quarta-feira, saem novos dados de atividade, desta vez no setor de serviços. Na quinta-feira, a véspera de feriado no Brasil traz dois índices de preços (IPCA e IGP-DI), além da produção e venda de veículos (Anfavea) - todos referentes a agosto.

Por fim, na sexta-feira, o foco se volta para os EUA, onde serão conhecidos os dados do mês passado sobre a geração de postos de trabalho, a taxa de desemprego e a renda média por hora. Ao longo da semana, é esperado os números da balança comercial chinesa.

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