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Fim de semana de expectativa


A surpresa com o inesperado déficit da balança comercial da China em março, com os números ainda afetados pelo feriado de ano-novo no país, não chega a afetar os mercados no exterior, com os investidores ainda animados pelos sinais de alívio nas tensões comerciais. Ainda assim, os negócios lá fora mostram maior cautela, diante da possibilidade de uma ação militar na Síria, que pode provocar uma reação russa. Por aqui, a proximidade do fim de semana tende a redobrar a postura defensiva nos ativos locais, reduzindo o apetite por risco.

O comportamento errático dos mercados domésticos ontem - em meio a uma recuperação firme no exterior, após o presidente norte-americano, Donald Trump, indicar que um ataque à Síria pode não ser “tão iminente assim” - deixa claro que a agenda política está fazendo preço. Tanto que a Bolsa seguiu no limbo dos 80 mil pontos, ao passo que o dólar confirmou um novo intervalo, entre R$ 3,35 (piso) e R$ 3,40 (teto). Há quem diga que não seria surpresa se a moeda norte-americana alcançar R$ 3,50 em breve.

Só que, apesar de Trump ter baixado o tom, a ameaça de ataque contra o regime de Assad ganhou força na Europa, dando a entender que a ofensiva poderia acontecer em conjunto com o Reino Unido e a França, elevando o risco de guerra na região. O petróleo monitora essa possibilidade e oscila em alta, cotado na faixa de US$ 67 o barril, após a agência internacional de energia (IEA) sugerir encolhimento da oferta global da commodity.

Já o dólar está de lado, medindo forças em relação às moedas rivais, enquanto o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) segue acima de 2,8%. Nos demais mercados, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água, ao passo que as praças europeias não exibem uma direção única, com Londres mais pressionada, depois de uma sessão igualmente mista na Ásia.

Tóquio subiu (+0,55%), mas Xangai e Hong Kong foram afetados pelo primeiro déficit comercial chinês em 13 meses (desde fevereiro de 2017). Em março, as exportações chinesas caíram 2,7%, em base anual, após um salto de 44,1% em fevereiro, enquanto as importações avançaram 14,4%, gerando um saldo negativo de US$ 4,98 bilhões, ante previsão de superávit de US$ 27,5 bilhões. O yuan mais forte e as festividades do Ano Novo Lunar impactaram o resultado, diante da base de comparação mais elevada.

Ainda na agenda econômica no exterior, saem os dados da balança comercial na zona do euro em fevereiro, logo cedo. Às 11h, nos EUA, é a vez do relatório Jolts sobre o número de vagas disponíveis no país em fevereiro e também da leitura preliminar de abril do índice de confiança do consumidor norte-americano. Na safra de balanços, saem os resultados dos bancos norte-americanos JP Morgan e Citigroup pela manhã.

No Brasil, a agenda doméstica traz apenas o desempenho do setor de serviços em fevereiro (9h) que, juntamente, com os dados da indústria e do varejo no mesmo período, pode aferir o comportamento da atividade doméstica no início deste ano, que já dá sinais de 'fraquejamento'. E esse calendário mais fraco nesta sexta-feira, abre espaço para uma reavaliação do cenário local, com impacto nos negócios.

Por ora, o movimento errático dos mercados locais tende a se manter, ao menos no curto prazo, até que o cenário eleitoral fique mais claro e, de preferência (para o mercado), indicando um candidato de centro-direita e com um viés reformista mais bem posicionado. No fim de semana será conhecida a primeira pesquisa Datafolha após a prisão do ex-presidente Lula e a expectativa recai no desempenho do tucano Geraldo Alckmin.

Contudo, se a intenção de voto - que já leva em conta a ausência do líder petista na disputa - mostrar vantagem crescente dos concorrentes extremos, principalmente de Jair Bolsonaro, renova-se a pressão nos ativos locais. Os investidores também estarão atentos ao desempenho dos candidatos de esquerda, que podem reter parte dos votos que serão destinados a Lula. Há também certa apreensão quanto ao outsider Joaquim Barbosa.

Ou seja, os investidores esperam por um alívio no front político, mas também estão preparados para uma piora à frente. Por isso, a opção por sustentar as posições, mantendo uma postura defensiva. O que se observa, timidamente, é uma volta da atratividade na renda fixa, com o mercado reduzindo exposição em ações e aplicando novamente nos juros futuros, diante da compensação de que o corte na taxa básica (Selic) acaba após o próximo, em maio, garantindo certa atratividade.

Depois de maio, os mercados pelo mundo devem entrar em modo de espera, uma vez que a Copa do Mundo tende a roubar a cena. O maior evento futebolístico, a ser sediado justamente na Rússia, acontece entre meados de junho e meados de julho, no auge das férias de verão (no Hemisfério Norte), esvaziando a liquidez dos negócios globais. Mas até lá pode surgir alguma nova bravata da Casa Branca... A conferir.

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