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Volátil e vulnerável


O mercado financeiro inicia a semana ciente de que vacilou ao supor que os eventos recentes no Brasil e no exterior não seriam algo mais sério. Com isso, os investidores redobram a postura defensiva e só não reagem de modo mais agressivo (e negativo) diante das notícias, porque os ativos globais já estão em um estado vulnerável, aguçando o vaivém dos negócios.

Ou seja, o sinal positivo visto nos índices futuros das bolsas de Nova York nesta manhã não significa, necessariamente que a sessão será de ganhos. O mesmo se pode dizer para o pregão na Europa, que abriu embalada por Wall Street, após um desempenho positivo na Ásia, apesar da cautela antes do discurso do presidente chinês, Xi Jinping, amanhã. Já as commodities industriais se recuperam com a queda do dólar e o rendimento dos bônus avança.

Os investidores seguem convictos de que as duas maiores economias do mundo vão resolver a disputa comercial sem guerra, o que realimenta o apetite por risco. No fim de semana, o presidente norte-americano, Donald Trump, adotou um discurso mais conciliador em relação a China, mostrando certo otimismo com o fim das restrições impostas por Pequim, “porque essa é a coisa certa a ser feita”. Não é, portanto, um avanço amigável das negociações.

No Brasil, o ex-presidente Lula se entregou no sábado e está sob a custódia da Polícia Federal, em Curitiba. Mas para os investidores, a prisão do líder petista não afasta as incertezas com as eleições e o evento só importa pelo impacto que tiver no quadro eleitoral até outubro.

O grande risco é que a quantidade elevada de candidatos ao pleito impulsione nomes de pouca expressão na disputa presidencial. E tal situação demanda mais prêmios de risco, especialmente em um momento de incerteza externa. Ou seja, tanto aqui quanto lá fora, os ativos estão em um momento de pouca visibilidade e sem tendência.

A carga de tensão envolvendo a prisão de um ex-presidente, líder nas pesquisas de intenção de voto em ano de eleições, e a dramaticidade envolvendo todo o assunto são fatores a serem acompanhados pelo mercado doméstico, sendo que o cenário eleitoral ainda está muito longe de se mostrar sem riscos. Afinal, é difícil dizer quem saiu perdendo com essa história.

Com Lula agora enfrentando a prisão, ainda restam muitas perguntas, sendo que a principal é: quem deve obter os votos que seriam destinados ao petista? As apostas são de que a maioria dos eleitores do ex-presidente sigam indecisos, com ele fora da disputa, aguardando a orientação dele sobre em quem votar.

Mas alguns podem migrar para candidatos à esquerda ou mais ao centro. Daí, a dúvida que se apresenta é: quem mais está na corrida eleitoral? Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos despontam como os principais beneficiados, sendo que Ciro Gomes e, quiçá, Marina Silva também possam tirar proveito.

Na outra ponta, PSDB e o candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro, lideram no quesito rejeição, sendo que Geraldo Alckmin não atinge dois dígitos entre o eleitorado fora da sua jurisdição. Já o presidente Michel Temer figura entre o mais impopular da história do país, mas segue alimentando a chance de se reeleger, enquanto seu escolhido, Henrique Meirelles, é desconhecido, necessitado de um árduo esforço do (P)MDB nos rincões do país.

Outro nome que surgiu para a corrida presidencial no fim de semana é do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, via PSB, o que deve agitar a disputa, diante do apelo dele. A começar pela história pessoal: nascido na pobreza e tendo o primeiro emprego como zelador em um tribunal, Joaquim Barbosa se tornou o primeiro juiz negro da Suprema Corte, alcançando fama como relator do “mensalão”, que envolveu um esquema de corrupção do governo Lula.

Ainda assim, é um longo caminho daqui até o dia da eleição em outubro e o tema deve ganhar cada vez mais importância no ritmo dos negócios locais. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer do cenário externo, onde a retórica protecionista sobe de tom a cada dia e o que começou com uma imposição genérica de barreiras tarifárias dos EUA vem ganhando contornos de uma batalha comercial contra a China.

Diante dos temores crescentes desse embate, e dos impactos dessa disputa no apetite por ativos de risco, os investidores começam a reavaliar as chances de a taxa básica de juros cair novamente em maio. Afinal, houve uma deterioração considerável no cenário de riscos do Banco Central, com o dólar subindo de patamar e passando a ser negociado acima de R$ 3,35 - o que pode respingar na inflação doméstica.

Na curva implícita de juros futuros, a possibilidade de corte de 0,25 ponto na Selic no mês que vem, que chegou a 80% no dia seguinte à decisão do BC no mês passado, encerrou a semana passada ao redor de 60%. Além do dólar mais forte e do cenário externo mais avesso ao risco, a questão política também pesa nas apostas dos investidores, que passam a vislumbrar cada vez mais a chance de o juro básico voltar a subir - ao invés de cair mais.

Na agenda doméstica, os indicadores a serem divulgados pelo IBGE a partir de amanhã tendem a calibrar as apostas em relação a Selic. A começar pelo resultado da inflação oficial ao consumidor brasileiro em março (IPCA), que sai amanhã e que deve seguir com as leituras mais baixas da série, com a taxa acumulada em 12 meses ainda distante do piso inferior da meta, de 3%. No mesmo dia, sai mais um levantamento sobre a safra agrícola neste ano.

Depois, na quarta-feira, é a vez dos dados regionais da produção industrial em fevereiro, além de um recorte sobre o mercado de trabalho (Pnad), levando-se em conta os rendimentos. Na quinta e na sexta-feira serão conhecidos números sobre a atividade em fevereiro, com o desempenho do varejo e do setor de serviços, respectivamente. Já nesta segunda-feira, saem o IGP-DI do mês passado (8h), a Pesquisa Focus (8h30) e a balança comercial semanal (15h).

No exterior, o calendário está bem mais fraco e tem como destaques os índices de preços ao produtor e ao consumidor chinês, amanhã, e norte-americano (amanhã e quarta-feira), além dos números da balança comercial chinesa, na quinta-feira. Também merece atenção a ata da última reunião do Federal Reserve, em março, quando ocorreu a primeira alta na taxa de juros norte-americana neste ano.

Esses indicadores econômicos podem mostrar os primeiros efeitos oriundos dos recentes anúncios de aumentos dos impostos de importação, com impacto na inflação e no crescimento econômico tanto dos EUA quanto da China. Já o documento do Fed pode trazer novas pistas, após o presidente Jerome Powell afirmar que é preciso continuar apertando os juros para manter a inflação sob controle, diante de um mercado de trabalho aquecido.

Jay manteve o tom dos últimos discursos e a postura continua sendo de gradualismo, com o Fed sendo reativo aos números - e não proativo. Em meio a todo esse ambiente, é natural presenciar mais volatilidade e incerteza nos mercados, pois, no curto-prazo, nenhum dos lados (positivo e negativo) dá sinais de que vai ganhar essa disputa, mantendo no pano de fundo mais volatilidade e vulnerabilidade nos ativos.

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