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Juro sobe nos EUA e cai no Brasil


Os mercados financeiros devem, enfim, ganhar tração nesta quarta-feira, após as duas últimas sessões arrastadas de negócios, com os investidores em compasso de espera pelas decisões dos bancos centrais do Brasil (Copom) e dos Estados Unidos (Fed). Nos dois casos, a expectativa recai na comunicação em relação às ações futuras, diante das apostas de queda na taxa básica brasileira (Selic) e de alta no juro norte-americano (FFR), de 0,25 ponto, cada.

À espera desses dois grandes eventos do dia, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água, o dólar avança e o petróleo também, em meio à redução da oferta mundial da commodity pelos países do cartel da Opep. O feriado no Japão esvaziou a sessão na Ásia, mas as ações de petrolíferas lideraram os ganhos na região, enquanto os investidores aguardam qualquer reação da China contra a guerra comercial de Donald Trump. Por ora, Pequim mantém uma postura de diálogo, demonstrando cautela, de modo a não agravar o cenário.

Nos demais mercados, merecem atenção o avanço do ouro e do minério de ferro, ao passo que o juro projeto pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está de lado, abaixo de 2,90%. Na Europa, as principais bolsas e moedas também abriram sem um rumo definido, com os investidores deslocando o foco das tensões geopolíticas com a Rússia e voltando-se à primeira reunião do Fed sob o comando de Jerome Powell.

Enquanto no Brasil, o que se quer saber é se o Copom vai encerrar o ciclo de cortes do juro básico neste mês - ou se abrirá a possibilidade de uma queda adicional em maio; nos EUA, a dúvida que ainda persiste é quanto à extensão do processo de aperto monetário. O cenário-base do Fed ainda contempla três altas neste ano - sendo que a primeira deve acontecer hoje, mas esse ritmo pode migrar para quatro aumentos até dezembro.

Os investidores vão, então, buscar pistas na comunicação dos BCs com o mercado financeiro sobre os próximos passos. O problema é que o Copom pode manter um tom suave (“dovish”) no comunicado que acompanhará o anúncio da decisão, sem necessariamente se comprometer com novos cortes em 2018.

Isso porque o processo de normalização da taxa Selic deve ficar apenas para o ano que vem. Até lá, o juro básico deve permanecer no novo mínimo histórico de 6,50% - a não ser que surja alguma piora no quadro eleitoral, com um candidato populista ganhando força para o pleito de outubro.

Da mesma forma, as projeções do Fed ainda não devem incorporar outros três apertos já nesta reunião, com o BC dos EUA esperando por sinais mais consistentes de pressão inflacionária, em meio à atividade aquecida, para, então, dizer que o gradualismo contempla ao menos um aumento a cada trimestre. O recado das autoridades monetárias, estará, portanto, nas entrelinhas.

Mais aguardada, a decisão do Fed será conhecida durante o pregão, às 15h. Na sequência, às 15h30, o novo presidente do BC norte-americano concede entrevista sobre a decisão dos juros nos EUA. Será a primeira coletiva de imprensa de Jay sobre a condução da política monetária, o que também pode trazer grandes emoções aos mercados globais, após ele sugerir, semanas atrás, que estaria aberto a aceitar quatro elevações neste ano.

Antes, a agenda econômica norte-americana traz dados do setor imobiliário (11h) e sobre os estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (11h30). Já a decisão do Copom será conhecida somente após o fechamento da sessão local, às 18h. Se confirmada a estimativa, será a décima segunda queda seguida da taxa básica no atual ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em outubro de 2016 e que já reduziu o juro básico em 7,50 pp.

O comunicado que acompanha a decisão será publicado logo após o término da reunião. Pela manhã, no Brasil, saem números sobre a confiança da indústria (8h e 11h) e os dados semanais do fluxo cambial (12h30), sendo que o saldo parcial sobre a entrada e saída de dólares do país neste mês deve ser impactado pelas sucessivas retiradas de recursos externos da Bolsa.

Desde os últimos dias de fevereiro até a primeira metade de março, os “gringos” já retiraram mais de R$ 4 bilhões da renda variável brasileira, o que confirma a saída dos investidores estrangeiros dos ativos de risco do país - sem alardes. De forma quase imperceptível, o superávit de capital externo da Bolsa no ano caiu de quase R$ 10 bilhões para pouco mais de R$ 1 bilhão neste mês.

No ritmo em que está, há quem diga que os estrangeiros vão zerar o fluxo de recursos na Bolsa até o fim de março. Tal movimento, explica, em boa parte, a sequência de quedas do Ibovespa, mas ainda na faixa dos 80 mil pontos, e o avanço do dólar para a faixa de R$ 3,30.

Tal retirada tende a se intensificar, à medida que ganhar corpo a disputa política, evidenciando a fragilidade dos candidatos a serem protagonistas na corrida presidencial. Isso sem falar do principal risco interno, com o governo ainda sem apresentar uma solução viável para o rombo das contas públicas.

Aliás, com a agenda econômica voltando a ganhar força hoje, o front político volta a ficar em segundo plano. Ainda assim, os

investidores estão gradualmente incorporando algum ruído da corrida presidencial nos ativos locais. A previsão é de que o cenário eleitoral comece a fazer mais preço a partir de 7 de abril.

Até lá, espera-se que os candidatos de centro fiquem mais fortes nas pesquisas - o que seria o único resultado positivo para os negócios locais, mas que, provavelmente, não acontecerá, por ora. A questão é que, definitivamente, os mercados domésticos não estão preparados para os riscos eleitorais.

A cautela com a cena política também vem da pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) para que volte a julgar a execução da pena após encerrados os recursos em segunda instância. Se a Corte mudar esse entendimento, reduz-se a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser preso, abrindo espaço para ele disputar as eleições deste ano.

Uma reunião entre os ministros devem acontecer hoje, a partir das 14h, para que, juntos, possam avançar a pauta. Mas circula o rumor de que a prisão do líder petista já tem data para acontecer. Será na próxima segunda-feira, dia 26 de março, quando o desembargador do TRF-4 colocará o último recurso em julgamento. Caberá, então, ao juiz Sérgio Moro a ordem final - a não ser que o STF mude de ideia.

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