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Mercado cai na real


Foi passageiro o alívio dos mercados financeiros com as medidas protecionistas adotadas pelo governo Trump. Bastou o conselheiro econômico da Casa Branca, Gary Cohn, renunciar ao cargo ontem, na esteira da imposição de sobretaxas na importação de aço e alumínio, para os investidores se darem conta de que a guerra comercial acionada pelos Estados Unidos veio para ficar, mesmo sem o apoio do partido republicano ou de aliados.

Os índices futuros das bolsas de Nova York têm quedas aceleradas nesta manhã, reagindo mal à saída do principal assessor do presidente norte-americano, Donald Trump. Cohn é banqueiro de Wall Street, com passagem pelo Goldman Sachs, e se tornou personagem fundamental da reforma tributária lançada pelos EUA no ano passado e uma das principais forças contrárias ao protecionismo de Trump, advogando a favor do livre comércio global.

A saída de Cohn mostra que os mercados estavam errados ao subestimar a intenção de Trump de proteger alguns setores industriais e o comércio dos EUA com o restante do mundo, atingindo não só os chineses, mas também aliados próximos como Canadá e México, além de parceiros de décadas, como os europeus. Com isso, as principais bolsas asiáticas fecharam no vermelho e as praças na Europa também abriram no campo negativo.

Ao mesmo tempo, os investidores aumentam a busca por proteção em ativos seguros, tentando assimilar as implicações do protecionismo de Trump, o que impulsiona o iene e o juro projetado pelos títulos norte-americanos. O euro também mede forças em relação ao dólar, mas a moeda norte-americana ganha terreno das rivais emergentes, em meio ao recuo das commodities industriais, como o petróleo e o cobre.

A sensação, agora, é de que a renúncia de Cohn mostra que o pêndulo na Casa Branca está se deslocando em direção ao anti-comércio, já que ele teria perdido espaço para outro conselheiro de Trump, Peter Navarro, visto como um proponente do plano protecionista. Cohn foi, então, apenas a primeira vítima dessa tensão crescente.

A teimosia do presidente norte-americano em relação ao tema amplia as chances de a guerra comercial se intensificar. Daí, então, é necessário prestar atenção em como os outros países irão responder às tarifas impostas pelos EUA e qual será o impacto disso no crescimento econômico global. A União Europeia (UE) já sinaliza retaliações, sobretaxando uma vasta gama de produtos norte-americanos.

Já o Partido Comunista chinês segue reunido em assembleia anual, de onde podem sair novidades sobre o tema. Aliás, pouco depois do anúncio sobre a saída de Cohn, ventilou-se notícias de que a Casa Branca também estaria analisado a diminuição de investimentos da China nos EUA, além de impor tarifas maiores na compra de produtos chineses, alegando que Pequim teria roubado propriedade intelectual norte-americana.

Na agenda econômica do dia, as atenções se voltam mais ao exterior, já que o calendário doméstico traz apenas o resultado de fevereiro do IGP-DI (8h) e os números do fluxo cambial no mês passado (12h30), além do balanço trimestral da Gol, antes da abertura do pregão. Lá fora, o destaque fica com os dados de emprego no setor privado dos Estados Unidos (10h15).

A pesquisa da ADP sobre a criação de postos de trabalho pelas empresas norte-americanas em fevereiro é tida como uma prévia do relatório oficial sobre o mercado de trabalho no país (payroll), que sai na sexta-feira. Ambos podem dar pistas sobre os próximos passos do Federal Reserve na normalização da taxa de juros dos EUA e o ritmo do processo ao longo deste ano.

A próxima reunião do Fed acontece nos mesmos dias em que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne, entre 20 e 21 de março. Enquanto lá fora, crescem as chances de aumento no custo do empréstimo, o que seria a primeira alta dos juros dos EUA em 2018; aqui, também estão praticamente consolidadas as apostas de mais um corte na taxa básica de juros.

A dúvida é em relação aos próximos encontros programados para este ano, tanto do Fed quanto do Copom. No caso brasileiro, os investidores já começam a vislumbrar a possibilidade de uma queda adicional da Selic em maio, renovando o piso histórico do juro básico pela quarta vez seguida, após um cada vez mais provável corte a 6,5% neste mês.

Já nos EUA, os investidores torcem por apenas três altas na taxa de juros, mas a possibilidade de quatro aumentos até dezembro ainda não foi descartada. Ainda no calendário norte-americano, saem os dados de janeiro da balança comercial e os números revisados sobre o custo da mão de obra e a produtividade ao final de 2017, ambos às 10h30.

Depois, é a vez dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (12h30). À tarde, também são esperados o Livro Bege (16h) e os dados do crédito ao consumidor em janeiro (17h). Já no eixo europeu-asiático, destaque para as leituras revisadas do Produto Interno Bruto (PIB) na zona do euro e no Japão no último trimestre de 2017.

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