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De prisão em prisão


Se ontem a soltura do ex-deputado e ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures trouxe alívio aos mercados domésticos, diante da sensação de que a situação do presidente Michel Temer ficaria mais fácil; hoje, a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima deve resgatar a tensão nos negócios locais. Já no fim da tarde de ontem, a notícia impactou o desempenho da Bovespa e do dólar, reduzindo os ganhos das ações e do real e antecipando a cautela esperada para o pregão desta terça-feira.

Geddel Vieira Lima é amigo pessoal de Temer há mais de 30 anos e foi preso ontem, acusado de agir para atrapalhar investigações da Operação Cui Bono, que apura fraudes na liberação de crédito da Caixa. No governo Dilma, Geddel era vice-presidente de pessoa jurídica do banco público e teria atuado para evitar possíveis delações premiadas do deputado cassado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro, ambos presos.

Para a oposição, a prisão de Geddel é mais um fator de risco para o governo e complica a situação de Temer, em meio ao início do trâmite na comissão da Câmara que analisará a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele. O presidente mal teve tempo de festejar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de soltar o "homem da mala" e sofreu outro revés, bem no momento em que concentra os esforços na defesa.

O governo recebeu com apreensão a notícia sobre a prisão de Geddel, vista como um passo calculado da PGR para dar sustentação à mais uma denúncia contra Temer. Diante desse desdobramento da crise política, Temer programou para hoje uma maratona de audiências com senadores e deputados, que deve promover um entra e sai do Palácio do Planalto ao longo do dia.

O primeiro encontro do presidente acontece às 8h e se renova a cada meia hora até a hora do almoço. À tarde, a agenda é retomada às 15h e se estende até as 21h30, quando Temer recebe o último parlamentar. Esse corpo-a-corpo do presidente visa angariar apoio para barrar a denúncia contra ele, pois dos 16 deputados que Temer receberá hoje, seis são integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisará o processo.

Enquanto Temer se movimenta para agilizar a tramitação na Câmara e prepara uma "defesa completa", o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar a segunda denúncia nos próximos dias, pelo crime de obstrução à Justiça, restando ainda uma terceira, por organização criminosa. Janot disse que não vai dar descanso aos políticos envolvidos na Lava Jato até deixar o cargo, em setembro.

No Congresso, o radar está no envio da defesa de Temer à CCJ da Câmara, até quinta-feira, e na definição do relator do caso, ainda hoje. A intenção do Palácio do Planalto é de que a denúncia seja apreciada - e rejeitada - neste mês, interrompendo até o recesso parlamentar a partir do próximo dia 17.

O fato é que não está fácil para o presidente conseguir quem o defenda explicitamente – à exceção do deputado Carlos Marun. Nem mesmo o PMDB fechou questão a favor de Temer e só 44 deputados se declaram favoráveis a ele. Assim, embora os líderes de partidos assegurem que há maioria na Casa para derrubar o processo, o clima é de cautela.

Afinal, a votação será aberta, nos moldes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e são necessários 342 votos para dar prosseguimento ao caso no STF. Por ora, cerca de 120 deputados já se pronunciaram contra o presidente e o restante se posiciona como indeciso.

Já no Senado, merece atenção a votação do requerimento de urgência para acelerar a reforma trabalhista. Se aprovado, o plenário da Casa estará apto em votar a matéria ainda nesta semana ou, no mais tardar, na próxima. A data mais provável é o próximo dia 12.

Nas contas do governo, a pauta sobre as mudanças nas leis trabalhistas tem o apoio de 43 senadores – dois a mais que o necessário para passar o texto. Essa margem apertada tende a adiar a votação, intensificando as negociações com a base aliada para garantir um apoio sólido e, então, colocar o projeto para votação no plenário.

No calendário econômico do dia, destaque apenas para os números de maio da produção industrial brasileira (9h), que deve ter ficado estável em relação a abril. Na comparação com maio do ano passado, o setor deve ter crescido 2%.

No exterior, o feriado nos Estados Unidos pelo Dia da Independência reduz a liquidez dos negócios pelo mundo e a agenda esvaziada de indicadores econômicos contribui para manter os mercados internacionais de lado. As principais bolsas europeias estão no vermelho, devolvendo os ganhos de ontem e seguindo a sessão de perdas na Ásia, após a queda de mais de 1,5% em Hong Kong, o quarto maior mercado acionário do mundo.

A busca por proteção ganha força lá fora, após a Coreia do Norte anunciar um lançamento bem-sucedido de míssil balístico intercontinental, escalando a tensão geopolítica às vésperas do encontro entre os líderes das 20 maiores economias do mundo, o G-20, na Alemanha. O líder norte-coreano Kim Jong Un tem avançado com testes de mísseis em uma tentativa de desenvolver uma ogiva nuclear contra os EUA, colocando frente a frente os presidentes Donald Trump e Xi Jinping.

O tom mais duro ("hawkish") na decisão de política monetária do Banco Central da Austrália (RBA) ajudar a reduzir o apetite por ativos mais arriscados. O dólar australiano perde terreno para o xará norte-americano, ao passo que o iene, o euro e a libra medem forças ante o dólar. O movimento nas moedas interrompe o rali do petróleo, que subiu ontem pela oitava vez seguida. Entre os metais, o precioso ouro avança.

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