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Alívio passageiro


A aprovação da reforma trabalhista na última comissão do Senado, abrindo espaço para apreciação do texto no plenário da Casa já na semana que vem, resgata o humor dos investidores, trazendo um alívio passageiro aos mercados domésticos. O placar largo, com 16 votos a favor e 9 contra, sustenta uma onda otimista, com a vitória do governo prolongando a sobrevida de Michel Temer, que ainda tenta mostrar força política.

O presidente comemorou a aprovação do resultado da votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ontem à noite, em meio aos sinais de que a base aliada continua firme e forte, às custas da modernização nas leis de trabalho. O tom incisivo de Temer em relação ao “fico” e a mensagem de que continua trabalhando normalmente, junto com o Congresso e a equipe econômica, fazem parte da estratégia de afastar a mais recente turbulência política - como se não houvesse uma inédita denúncia pelo crime de corrupção ao chefe do Executivo no exercício do mandato, sendo que outras ainda estão por vir.

Até por isso, os investidores não devem abandonar o receio com o imbróglio político, cientes das dificuldades do governo desde a delação da JBS e de que outras batalhas terão de ser vencidas. O fatiamento das denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer também mantém a cautela nos negócios, já que o processo pode se arrastar por, no mínimo, dois meses até que a Câmara decida sobre a questão.

Essa demora tende a deixar de lado a votação das reformas, que é o que, de fato, interessa ao mercado financeiro. Ainda não se sabe se haverá quórum no plenário do Senado para votar as novas leis trabalhistas, às vésperas do recesso parlamentar. Já a pauta da reforma da Previdência deve ficar mesmo para o segundo semestre.

O tempo passa e Janot deve apresentar, em breve, novas denúncias contra Temer. Desta vez, por obstrução à Justiça e organização criminosa, o que pode tomar ainda mais tempo do governo para se defender (ou atacar). A nomeação de Raquel Dodge para a vaga na Procuradoria-Geral da República (PGR), que ficará aberta a partir de setembro, é mais um contra-ataque de Temer, que preteriu o mais votado, o subprocurador-geral Nicolao Dino, aliado de Janot e que pediu a cassação da chapa Dilma-Temer na Corte eleitoral (TSE).

Por enquanto, não está claro qual será o rito adotado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, apesar de o processo já ter sido encaminhado à Câmara. A decisão do relator da Lava Jato e também da delação da JBS apenas exclui a necessidade de defesa prévia do presidente antes da análise da denúncia pela Câmara.

A expectativa é de que o processo seja arquivado pelos votos de pouco menos de 200 deputados, acelerando a tramitação sobre as denúncias e reduzindo o desgaste de Temer. Não fosse essa certeza, os ativos locais estariam bem mais estressados, com o dólar acima de R$ 3,35 e a Bovespa abaixo dos 60 mil pontos. Por enquanto, persiste apenas a agonia nos negócios, favorecendo a oscilação de preços em intervalos maiores.

À espera de uma solução rápida, a atenção no noticiário político se divide com a agenda econômica. O destaque do dia é a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta para a inflação em 2019 (8h15), que será seguida de uma entrevista coletiva com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn (8h45).

A expectativa é de que o alvo seja reduzido para 4,25%, dos 4,5% vigentes desde 2005, o que deve reforçar o compromisso com o controle dos preços. Aliás, o que não muda, por ora, é a percepção do mercado em relação à trajetória de queda da inflação, o que permite ao Banco Central dar continuidade ao ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic).

Mas esse processo de afrouxamento monetário pode encontrar um fundo logo, diante da gravíssima situação das contas públicas. Afinal, sem a ajuda da política fiscal, a política monetária não consegue trabalhar sozinha, ainda que a economia mostre reiterados sinais de fragilidade, com uma recuperação lenta e desigual.

Aliás, o ministro Meirelles admitiu ontem que a estimativa do governo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano será revisada para baixo, diante das incertezas políticas. O anúncio deve ser feito nas próximas semanas e será para uma expansão inferior a 0,5% - mas ainda “será um número positivo”, garantiu.

Ainda no calendário doméstico, o Tesouro Nacional informa os números das contas públicas (14h30) e as dificuldades fiscais devem levantar a lebre do aumento de impostos. Ontem, Meirelles reafirmou que, se necessário, o governo aumentará a carga tributária para garantir o cumprimento da meta fiscal e sinalizou que a baixa arrecadação federal pode exigir medidas adicionais.

No topo da lista, está a possibilidade de aumenta do imposto que incide sobre os combustíveis, a chamada Cide. Logo cedo, sai o resultado de junho do IGP-M (8h), que deve reduzir o ritmo de queda em relação a maio e cair 0,65%. Porém, a taxa em 12 meses tende a apagar a alta acumulada até o mês passado e ficar negativa em 0,8% no período até junho.

No exterior, a agenda está carregada e tem como destaque a terceira e última leitura do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre deste ano (9h30). No mesmo horário, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego. Logo cedo, na zona do euro, saem índices de confiança na região e, no fim do dia, a China anuncia dados sobre a atividade industrial.

O apetite por ativos de risco que prevalece nesta manhã lá fora tende a dar um fôlego extra aos mercados domésticos. Os investidores continuam animados com os sinais emitidos pelos principais bancos centrais, em meio à percepção de que a economia global é capaz de suportar condições mais restritas de liquidez e registrar crescimento.

Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no azul, embalados pela volta dos preços do barril de petróleo à faixa de US$ 45, no sexto dia seguido de alta. A sessão também foi de ganhos na Ásia, mas as principais bolsas europeias estão enfraquecidas pela valorização intensa do euro. A moeda única da região é negociada no maior nível do ano, em meio à fraqueza do dólar ante os demais rivais.

Nesta reta final do mês, os ativos globais caminham para o melhor primeiro semestre desde o desempenho observado nos seis primeiros meses de 1998, com um ganho recorde de 11%. Os investidores estão depositando todas as fichas na robustez dos resultados financeiros das empresas, à medida que a recuperação econômica global continuar.

Mas os riscos permanecem. O derretimento nos preços do petróleo e a ausência de uma agenda pró-crescimento nos EUA, tendem a esquentar o debate sobre o fim dos estímulos monetários dos principais bancos centrais, após nove anos de injeção artificial de recursos pelo mundo.

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