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Contagem regressiva


As preocupações fiscais, com a crise política e as incertezas sobre as reformas continuam pressionando o cenário doméstico, mas os investidores devem continuar se fiando das boas notícias vindas da inflação para ajustar a exposição em ativos de risco, diante da perspectiva de queda dos juros. Porém, o fôlego dos mercados deve ser curto, agora que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem até a terça-feira que vem para decidir se denuncia o presidente Michel Temer com base na delação da JBS.

Confirmado por 7 votos a 0 na relatoria da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin, enviou a investigação de Temer a Janot, após a Corte validar o acordo de colaboração premiada, e deu um prazo de cinco dias para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresente denúncia contra o presidente ou arquive o caso. No relatório parcial, a Polícia Federal (PF) já concluiu que há evidências de que Temer cometeu "com vigor" o crime de corrupção passiva.

Há, ainda suspeitas de que Temer e o ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures cometeram os crimes de obstrução da Justiça e participação em organização criminosa. A expectativa é de que essa apuração seja concluída ainda nesta semana. O inquérito é baseado na delação de executivos da JBS, que teria sido beneficiado pelo governo mediante o pagamento de propina.

No mercado financeiro, esse noticiário quanto à possível denúncia da PGR tende a ser monitorado do ponto de vista do comportamento dos partidos que dão apoio à base governista no Congresso. Desde a derrota da reforma trabalhista em comissão do Senado, a relação entre os aliados e o PSDB azedou de vez e o rompimento dos tucanos com o governo parece ser mesmo uma questão de tempo.

A estratégia do Palácio do Planalto pode ser de desalojar o PSDB dos ministérios, privilegiando com mais cargos no governo siglas que vão atuar para barrar a denúncia de Janot na Câmara. A Casa deve se ocupar, em breve, com esse tema, adiando ainda mais o cronograma da reforma da Previdência. Mas os próprios governistas admitem que não será tarefa fácil suspender o recesso para defender Temer.

Há, com isso, chances de as incertezas políticas continuarem no segundo semestre deste ano, tornando o desfecho ainda mais imprevisível. Afinal, até lá, muitos “fatos novos” podem surgir, limando de vez a governabilidade e enxugando o apoio da base aliada. Por isso, a intenção é de que ao menos as novas leis trabalhistas sejam votadas no plenário do Senado antes do recesso parlamentar, em 18 de julho.

De outra mão, a trajetória cadente dos preços confirma o cenário favorável da inflação e reforça a expectativa de queda da taxa básica de juros. Ontem, o Banco Central praticamente repetiu a intenção de cortar a Selic de forma mais moderada em julho, mas apresentou ressalvas, evidenciando o intento de não se comprometer e deixando as portas abertas em manter o ritmo atual de cortes nas próximas reuniões.

Com isso, merece atenção nesta sexta-feira a prévia de junho da inflação oficial ao consumidor brasileiro, medida pelo IPCA-15 (9h). A previsão é de alta em torno de 0,1% em relação a maio, com a taxa acumulada em 12 meses girando abaixo de 3,5%.

Mais uma vez, a energia elétrica será o destaque da inflação, com a saída das oscilações ocasionadas pela cobrança indevida na conta de luz dos custos provenientes de Angra 3. Ainda assim, ambos os resultados devem registrar taxas vistas pela última vez há 10 anos.

Ainda no calendário doméstico, sai mais uma leitura parcial deste mês da inflação ao consumidor calculada pela FGV (8h) e a confiança do consumidor medida pela CNI (11h). No exterior, destaque para os dados de junho sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos Estados Unidos, além de dados do setor imobiliário norte-americano em maio.

Lá fora, o comportamento do petróleo continua ditando o tom dos negócios. A recuperação nos preços da commodity nesta manhã sustenta os índices futuros das bolsas de Nova York no azul, mas as preocupações quanto ao excesso de oferta deprimem as praças na Europa. Na Ásia, o desempenho das bolsas foi misto.

As moedas correlacionadas às commodities são penalizadas pela quinta semana seguida de desvalorização do petróleo, ao passo que o dólar mantém o ritmo, em meio às declarações de diretores do Federal Reserve que reafirmaram o compromisso em manter aumentar a taxa de juros nos EUA mais uma vez neste ano. O destaque fica com a libra esterlina, que se fortalece nesse aniversário da votação pelo Brexit.

Ao que tudo indica, os mercados financeiros estão se estabilizando em um nível relativamente alto, com os investidores ajustando a rentabilidade das carteiras antes do fim do mês e, de quebra, do segundo trimestre e da primeira metade de 2017. Mas isso não significa que os últimos seis meses do ano serão tão favoráveis, à medida que se confirmar a percepção de crescimento econômico fraco e inflação baixa pelo mundo.

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