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Crise política pode ter fato novo no feriado


A cautela dos mercados domésticos com algum fato novo que possa surgir na cena política deve ganhar força nesta véspera de feriado prolongado no país, com os investidores evitando assumir posições mais arriscadas. A expectativa pela denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, prepara contra o presidente Michel Temer amplia a incerteza quanto à sustentação do governo, elevando a aversão ao risco.

O mercado sabe que o apoio mantido pelo PSDB ao governo “em nome das reformas” está longe de ser firme e basta uma denúncia contundente contra o presidente para um desembarque definitivo dos tucanos. E a associação de Temer à mala com R$ 500 mil em propina recebida pelo ex-deputado Rodrigo Rocha Loures pode ser suficiente para o partido abrir mão do PMDB nas eleições de 2018.

A denúncia de Janot deve ser protocolada até a próxima semana no Supremo Tribunal Federal (STF) e deve trazer um conjunto de provas reunidas que envolvem o presidente no episódio sobre a propina acertada com a JBS. No entendimento dos investigadores, o episódio só faz sentido se for considerada a influência e o poder de Temer na negociação para o recebimento do dinheiro por Loures.

Além do ex-deputado, Temer pode ser incriminado pelo doleiro e operador do PMDB Lúcio Funaro. Ele também foi citado na conversa gravada pelo empresário da JBS Joesley Batista com o presidente, que eclodiu a mais recente crise política, e pode ainda envolver instituições financeiras, no caso de uma eventual delação premiada.

O Palácio do Planalto também está em alerta devido ao interrogatório do deputado cassado Eduardo Cunha, no inquérito que investiga o presidente Temer. É inquestionável o poder explosivo das declarações de Cunha sobre o governo, mas o depoimento pode ser adiado, uma vez que ele pediu ao STF acesso às gravações da JBS.

Quem também deve prestar depoimento à PF é Joesley Batista, que está no Brasil desde domingo, após uma viagem à China - e não em Nova York. O empresário deve tratar de repasses aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A véspera do feriado, portanto, tem ingredientes suficientes para ser agitada.

Todo esse cenário dificulta dimensionar o impacto da crise política sobre a economia brasileira, o que redobra a postura defensiva do investidor. A percepção é de que a situação nos mercados domésticos só não está pior porque a crise política tem impacto deflacionário e há certa tranquilidade no ambiente internacional, mas esse efeito pode sofrer alterações hoje.

O grande destaque desta quarta-feira é a decisão de política monetária do Federal Reserve (15h). Ao final da reunião, o Banco Central dos Estados Unidos deve elevar a taxa de juros norte-americana para o intervalo entre 1% e 1,25%, no segundo aumento neste ano – o primeiro ocorreu em março.

Mas as atenções se voltam para a entrevista coletiva que a presidente do Fed, Janet Yellen, concede logo após o encontro (15h30). No evento, ela terá de se esforçar para explicar os motivos que levaram a uma nova alta no custo do empréstimo dos EUA, já que os recentes indicadores sobre emprego e inflação perderam brilho, ainda que de modo transitório.

Desse modo, a grande questão é se o Fed manterá a previsão de ao menos mais uma alta no juro norte-americano antes do fim do ano. Também merece relevância a sinalização sobre quando o BC dos EUA deve começar a reduzir o seu balanço, inflado com US$ 4,5 trilhões em títulos, o que garante liquidez ao sistema financeiro.

Antes dos eventos do dia envolvendo o Fed, merecem atenção os dados norte-americanos em maio sobre as vendas no varejo e a inflação ao consumidor, ambos às 9h30. Depois, saem os estoques das empresas em abril (11h) e os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA (11h30).

À espera desses números, os investidores reagem aos dados de atividade na China. A produção industrial e as vendas no varejo chineses permaneceram resilientes em maio, com crescimentos de 6,5% da indústria e de 10,7% no comércio, dentro do esperado. Os investimentos em ativos fixos no país acumulam alta de 8,6% nos cinco primeiros meses do ano, em meio ao esfriamento dos aportes no setor imobiliário.

Nos mercados, os índices futuros das bolsas de Nova York estão de lado, assim como o dólar e o rendimento dos títulos norte-americanos (Treasuries). As principais bolsas europeias abriram em alta, após uma sessão mista na Ásia. Xangai caiu 0,7%, diante das preocupações com a indústria de seguros na China.

O petróleo recua, após o aumento dos estoques da commodity nos EUA, segundo dados compilados por uma associação privada (API). Já os contratos futuros do minério de ferro reverteram as perdas e subiram ao redor de 2% na Bolsa chinesa de Dalian, após os dados de atividade no país. As moedas correlacionadas às commodities, como os dólares canadense e australiano, ganham terreno. O euro também avança.

No Brasil, o calendário do dia traz o primeiro Índice Geral de Preços do mês, o IGP-10, que deve reduzir o ritmo de queda em junho, caindo 0,6%, ante deflação de mais de 1% em maio. A queda dos preços de produtos agropecuários ainda justifica o indicador em terreno negativo.

O dado será conhecido às 8h. Depois, às 9h, o IBGE anuncia o desempenho do setor de serviços em abril, que pode surpreender, após o inesperado avanço de 1% nas vendas do varejo no mesmo período, pegando carona nos saques das contas inativas do FGTS.

A recuperação do comércio, embora ainda frágil, reduziu as apostas mais ousadas de corte na taxa básica de juros em julho. Diante da percepção de que o pior da recessão econômica parece mesmo ter ficado para trás, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve ser mais conservador e reduzir o ritmo de queda da Selic para 0,75 ponto percentual (pp).

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