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Incertezas políticas atrapalham certezas econômicas


A queda da taxa de juros no Brasil pela sexta vez seguida ontem, a 10,25%, para o menor nível desde novembro de 2013, é mais uma boa notícia no campo econômico, que se soma ao fim da recessão no país, a ser anunciada hoje. Ainda assim, são as incertezas no lado político que continuam guiando o mercado doméstico, que só consegue manter relativa calmaria por causa do ambiente global favorável ao risco.

A decisão do Banco Central era amplamente esperada e o comunicado que acompanhou o anúncio mostrou que foi o encontro da incerteza. Essa palavra apareceu nada menos que cinco vezes no texto, destacando que o tempo prolongado de elevadas incertezas sobre o processo de evolução das reformas e ajustes na economia torna mais adequado uma moderação do ritmo cortes na taxa básica de juros.

Assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) repetiu ontem a dose adotada em abril, cortando a Selic em um ponto porcentual, mas sinalizou que na reunião seguinte em julho, deve diminuir essa intensidade para quedas menores, de 0,75 ponto ou até menos. Esse processo mais lento tende a dificultar o afastamento do Brasil da amarga posição de um dos maiores pagadores de juros reais do mundo.

Com o corte de ontem na taxa básica, o país caiu da primeira para a segunda colocação no ranking global, ficando atrás apenas da Rússia. Trata-se, portanto, de uma postura mais conservadora ("hawkish") do BC, que não deve agradar ao mercado - embora os investidores também reconheçam que há um quadro de incertezas quanto ao andamento da agenda de reformas e até acerca da continuidade do governo.

Do lado da atividade, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve, enfim, interromper oito trimestres consecutivos de resultados negativos e registrar crescimento de 0,8% no início deste ano, na comparação com os últimos três meses de 2016. Em relação a igual período do ano passado, porém, a economia deve ter seguido em queda, de 0,5%.

Os números oficiais do PIB no primeiro trimestre de 2017 serão divulgados às 9h pelo IBGE e devem refletir o desempenho do agronegócio, com o setor registrando forte alta e sendo a força-motriz na recuperação. Antes, às 8h, sai o resultado de maio do índice de preços ao consumidor (IPC-S), calculado pela FGV. Também serão conhecidos indicadores da indústria (11h) e o resultado de maio da balança comercial (15h).

Mas independentemente desses fatores econômicos, o fato é que o cenário político foi o principal condutor dos mercados em maio e continuará afetando os negócios locais em junho. Os investidores estão à espera de um desfecho após o escândalo envolvendo a JBS, que atingiu diretamente o presidente Michel Temer e esvaziou o apoio ao governo.

A expectativa recai no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A partir da semana que vem, a Corte deve decidir sobre a cassação da chapa eleita em 2014. Porém, com o placar entre os ministros ligeiramente favorável a Temer, a questão é: se o presidente permanecer no cargo, como vai ficar o lado fiscal?

Para os mercados, mais importante do que uma rápida sucessão presidencial é a preservação da agenda econômica, com a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária no Congresso. Afinal, o arranjo das contas públicas continua sendo a questão-chave e sem uma sustentação da base aliada, o governo reduz as chances de aprovar as mudanças nas leis de trabalho e nas regras para aposentadoria.

Sendo assim, dois cenários são possíveis. O primeiro reflete um governo com apoio fraco, gerando lentidão para votar as reformas e sem garantia de êxito na votação. No extremo oposto, a segunda hipótese prevê aprovação rápidas das reformas na Câmara e no Senado, o que tornaria o Brasil “a menina dos olhos” dos investidores estrangeiros.

Por enquanto, sem saber para onde ir, os investidores evitam criar posições novas, à espera de um desfecho, capaz de desarmar ou de intensificar um panorama já montado para o país a partir de 2018. O que se sabe, até agora, é que o espaço para reduzir a taxa de juros diminuiu, com o aumento das incertezas podendo impactar também na trajetória da inflação nos próximos meses.

No exterior, a farta liquidez de recursos ainda mantém elevado o apetite dos investidores por ativos mais arriscados, como do Brasil. A confiança dos mercados na retomada mais firme da atividade econômica global tem mitigado as preocupações quanto à trajetória dos preços à frente e também aos efeitos de possíveis mudanças na condução da política de estímulos monetários por parte dos principais bancos centrais.

Isso significa que, por mais que o Federal Reserve esteja em vias de apertar mais uma vez a taxa de juros norte-americana neste mês, podendo repetir o movimento ao menos mais uma vez neste ano, a disposição em tomar risco segue alta. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão no azul nesta manhã, embalando a abertura do pregão na Europa e dissipando o sinal negativo vindo de Xangai (-0,5%), após o yuan chinês cravar o quarto dia seguido de avanço, na maior sequência em mais de 10 anos.

A recuperação nos preços do petróleo ajuda no movimento das bolsas, mas o barril ainda é cotado abaixo de US$ 50. O minério de ferro seguiu em queda na China, sendo negociado nos menores níveis desde outubro. Em ambos os casos, pesa a preocupação quanto ao excesso de oferta das matérias-primas frente a uma demanda mais fraca.

O fortalecimento do dólar em relação aos rivais também dificulta a melhora das commodities. A moeda norte-americana ganha terreno da libra esterlina, após mais uma pesquisa mostrar um placar apertado para o partido conservador nas eleições do próximo dia 8 no Reino Unido, e também avança ante o euro e o iene. As moedas emergentes e correlacionadas às commodities, como o dólar australiano, recuam.

A agenda econômica do dia traz como destaque os dados de emprego no setor privado dos Estados Unidos em maio (9h15), que servem como uma prévia dos números oficiais sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll), a serem conhecidos na sexta-feira. Combinados, esses indicadores fecham o cenário para o Fed definir se deve mesmo elevar a taxa de juros do país daqui a duas semanas.

Ainda no calendário norte-americano, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego (9h30), índices da atividade industrial em maio (10h45 e 11h), gastos com a construção em abril (11h) e os estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (12h). Também são esperadas as vendas de veículos pelas montadoras no mês passado. Na Europa, a agenda traz o desempenho da indústria na Alemanha, no Reino Unido e na zona do euro em maio.

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