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Foro Temer


O noticiário em Brasília vai continuar pautando os mercados domésticos, em meio às idas e vindas do presidente Michel Temer para seguir no poder. A recusa do ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio para assumir o Ministério da Transparência e o adiamento da votação da reforma trabalhista no Senado colocaram a cena política novamente em primeiro plano nos negócios, ampliando as incertezas em relação à pauta econômica e ameaçando as reformas e o ajuste fiscal.

Com a decisão de Serraglio, o suplente dele, o deputado Rodrigo Rocha Loures, flagrado com uma mala de dinheiro pela Polícia Federal (PF), poderia perder o foro privilegiado e negociar uma delação premiada, comprometendo diretamente o presidente Michel Temer. Porém, no entendimento do Palácio do Planalto, justamente por envolver o presidente, o caso relacionado a Loures deve permanecer no Supremo Tribunal Federal (STF) e não ir para a 1ª instância.

Os supostos atos de ambos se imbricam em possíveis práticas criminosas e o mais importante é avançar com as investigações, agora que a controladora da JBS fechou um acordo de leniência no valor de R$ 10,3 bilhões - o maior do mundo. Enquanto isso, Temer vai vivendo um dia de cada vez, assim como o investidor, sem saber o que pode acontecer nas próximas horas. Por enquanto, o mercados domésticos tentam manter uma relativa calmaria, em contraste com a crescente tensão no meio político.

A aposta ainda é em uma solução rápida na superação da crise, com boa parte das fichas depositadas na decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O julgamento sobre a cassação da chapa eleita em 2014 acontece no próximo dia 6, mas o placar mostra-se favorável a Temer. Embora apertado, o presidente pode conseguir quatro do total de sete votos para se manter no cargo e salvar o mandato até 2018.

Mas o que realmente interessa ao mercado é se o governo, ficando, terá condições de fazer as reformas avançarem. O pior cenário para os investidores é Temer ficar e as pauta de mudanças nas leis de trabalho e nas regras da aposentadoria não avançarem.

Ontem, o adiamento da votação do parecer da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado frustrou os investidores. A previsão era de que a pauta fosse colocada em regime de urgência para votação no plenário da Casa ainda nesta semana e a aprovação do texto seria uma boa indicação de que o governo está conseguindo reunir forças no Congresso.

Agora, a matéria deve ser adiada por mais duas ou três semanas. Enquanto isso, na Câmara, o cronograma de votação da reforma da Previdência segue indefinido, com o governo ciente de que ainda não tem os 308 votos necessários e retardando a apreciação da pauta. Tal estratégia acaba por prejudicar as próprias condições de governabilidade.

Por mais que os investidores confiem que a agenda de reformas será mantida, sem impactar na recuperação da atividade, esses obstáculos comprovam a tese de que economia e política caminham juntas. Assim, quanto mais nebuloso seguir o cenário em Brasília, mais indefinida fica a tomada de decisões econômicas.

Nesse ambiente, a agenda de indicadores e eventos econômicos acaba perdendo relevância, com a trajetória dos dados sendo ofuscada pela incerteza política. Ainda assim, merece atenção nesta quarta-feira a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

Porém, a decisão só será anunciada no fim do dia, a partir das 18h, o que deve manter os negócios em compasso de espera ao longo da sessão. O mercado abandonou a aposta de intensificação no ritmo de corte da taxa básica de juros para 1,25 ponto neste mês, após a mais recente crise política em Brasília, e ainda enxerga espaço para uma manutenção da queda em um ponto, repetindo a dose adotada em abril.

Se confirmada a previsão, será o sexto corte consecutivo na Selic, com o juro básico retornando aos níveis de novembro de 2013 e ficando em 10,25% ao ano. Antes, o BC publica os dados semanais do fluxo cambial (12h30) e, pela manhã, saem os números atualizados até abril sobre o desemprego no país (9h).

A previsão é de que a taxa de desocupação chegue à marca histórica de 14%, com a população à procura de emprego superando a marca de 14,5 milhões e cravando um novo patamar recorde no total de desempregados. Já a população ocupada deve ficar aquém de 88 milhões, no menor contingente de pessoas no mercado de trabalho desde o início da série histórica, em 2012.

No exterior, também serão conhecidos dados sobre o desemprego e a inflação ao consumidor na zona do euro, logo cedo. Nos Estados Unidos, saem números da atividade na indústria e sobre o setor imobiliário, pela manhã, além do Livro Bege, à tarde.

Nesta manhã, as bolsas europeias e os índices futuros em Nova York não exibem uma direção única, com a Europa preocupada com as eleições no Reino Unido, o que derruba a libra diante dos sinais de que a primeira-ministra, Theresa May, deve perder a maioria no Parlamento, enquanto Wall Street é mais afetado pela queda do petróleo. O excesso de oferta da commodity derruba o preço do barril em cerca de 1%, abaixo de US$ 50.

Aliás, as tradicionais publicações do dia nos EUA, referentes aos estoques semanais de petróleo e sobre o emprego no setor privado, foram adiadas para amanhã, devido ao feriado no país na segunda-feira. Os dados sobre o mercado de trabalho norte-americano devem reforçar a expectativa de alta dos juros na reunião do Federal Reserve em junho.

Um aumento no custo do empréstimo pelo Fed e a retirada de estímulos por parte dos principais bancos centrais eleva as preocupações quanto à sustentabilidade do crescimento econômico global. E os dados de atividade na China conhecidos hoje reforçam essa perspectiva, sugerindo uma desaceleração no ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo.

Na indústria, o índice dos gerentes de compras (PMI) ficou em 51,2 em maio, pelo segundo mês consecutivo, contrariando a previsão de queda a 51, enquanto no setor de serviços, o indicador avançou a 54,5. Números acima de 50 indicam melhora das condições de atividade e sugerem que o Banco Central chinês (PBoC) pode continuar atuando para controlar os riscos financeiros, sem impactar a economia real.

Hoje, o yuan chinês fechou cotado no maior valor desde novembro. Já o contrato futuro do minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian caiu mais de 5%, encerrando no menor nível também desde novembro. À época, no ano passado, tinha início a lua de mel dos mercados globais com a eleição do presidente norte-americano, Donald Trump, e a confiança em sua agenda pró-crescimento, que ainda não passam de promessas.

Assim como Temer, Trump também está mais envolvido em imbróglios políticos e buscando a sobrevivência no poder. Enquanto isso, Brasil e EUA tentam mostrar serviço, mas nem um nem outro são capazes de convencer.

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