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Temer se recusa em ser "derrubado"


O mercado financeiro pode até acreditar que as reformas ganharam autonomia e não dependem mais de Temer para serem aprovadas no Congresso, pregando pelo fim urgente da crise política em Brasília após o abalo da JBS. Mas ontem o presidente deixou claro o que quis dizer quando afirmou que "se quiserem, me derrubem", ao convocar as Forças Armadas após um protesto que reuniu 35 mil pessoas na capital.

A manifestação elevou a temperatura da crise, realçando que a permanência de Temer no poder se dá apenas por uma vontade pessoal. O que começou como um ato contra o presidente convocado por centrais sindicais se transformou em cenas de quebra-quebra e depredação em prédios de ministérios, além do confronto entre policiais e manifestantes. O saldo final foram de 49 feridos e oito pessoas detidas.

O dia tenso levou Temer a convocar o Exército, alegando que a Força Nacional de Segurança, como teria sugerido o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, seria insuficiente para conter o caos. A partir de hoje, 1,5 mil militares irão ocupar as ruas de Brasília até o próximo dia 31.

O presidente afirmou que foi dele a decisão de convocar as tropas e reiterou que "não hesitará em exercer a autoridade" que o cargo lhe confere, mostrando o desespero e a "insensatez" de suas medidas para seguir no comando. Com a medida, Temer se agarra ao poder e é movido por uma estratégia política que o transforma em um Exército de um homem só.

Mas a medida abre um precedente perigoso. Segundo a Constituição, os militares se julgam autorizados a intervir nos poderes constituídos do país e na sociedade. Ou seja, se quiser, o Exército pode fechar o Congresso e não apenas garantir a lei e a ordem. Não se trata mais, portanto, de negociar uma saída honrosa para o presidente.

Ao contrário, Temer está buscando todas as alternativas para ficar no poder e se salvar, mantendo o foro privilegiado e evidenciando que seu governo já perdeu as condições de seguir em frente pelas vias normais. Afinal, não é possível estabelecer um diálogo ou promover a união nacional por meio do uso das Forças Armadas.

Enquanto em público a oposição grita para acelerar a queda de Temer, elevando o tumulto entre deputados, e os manifestantes se posicionam contra as reformas deixando Brasília em chamas; nos bastidores a base aliada ainda fala em eleições indiretas. Os governista já estariam costurando um nome de consenso para substituir o presidente, abafando a hipótese de uma emenda pelo voto nas urnas.

Os investidores tentam manter a boa vontade e mantêm as apostas de uma troca rápida do governo, mas sem perder o ar reformista. Seja quem for, precisa ser alguém capaz de dar continuidade às reformas e a escolha de um sucessor pelo Congresso é o caminho mais provável, conforme prevê a Constituição - que agora passa a ter algum valor.

A via mais fácil seria a cassação da chapa eleita em 2014, por meio de decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas o processo na Corte só será retomado em 6 de junho e ainda corre risco de ter pedido de vista de alguns juízes, alongamento a “sangria” no Brasil e atrapalhando o senso de urgência para encerrar a crise.

Ainda assim, trata-se de um cenário desafiador para quem irá assumir um mandato tampão. O mercado acredita que até lá as eleições gerais de 2018, a reforma trabalhista tem chances de passar, uma vez que a tramitação no Congresso é mais simples, ao passo que as mudanças nas regras da aposentadoria podem sofrer mais “diluição”, já que precisa de mais votos para ser aprovada na Câmara e, depois, no Senado.

Por um lado, uma solução rápida via TSE, seguida de eleição indireta, poderia levar os ativos brasileiros de volta à normalidade, muito próximo aos níveis de antes da crise. Por outro, um período mais longo de incerteza política seria algo “altamente corrosivo” para a Bovespa, o dólar e as taxas de juros, além da economia real.

A recuperação econômica, que ainda é incipiente, lenta e desigual, poderia ser interrompida. Em um cenário extremo, o país poderia mergulhar novamente na recessão – da qual só irá sair por um efeito estatístico com a revisão metodológica do IBGE do que por uma retomada de fato da atividade e do consumo.

Aliás, hoje, o presidente Michel Temer reúne-se com o presidente do IBGE, Paulo Rabello, às 11h. Antes, às 9h, Temer tem um encontro com o núcleo político do governo, que reúne os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e o General Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional).

Nesse jogo de xadrez, a agenda macroeconômica segue sem relevância. Ainda mais porque não tem muitos indicadores de peso. O destaque doméstico é o resultado das contas públicas em abril, que deve mostrar que o rombo só cresce. Também merecem atenção os números do Banco Central sobre as operações de crédito. Pela manhã, saem sondagens sobre os setores do comércio e da construção civil.

No exterior, o calendário norte-americano traz apenas os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos. Mas o que chama atenção lá fora é a reunião do cartel de produtores de petróleo (Opep), que irá decidir se amplia ou não o prazo de corte de produção da commodity, já em vigor. Espera-se uma extensão por nove meses.

À espera desse encontro, o barril do petróleo perde forças e não consegue manter o rali observado logo cedo, que levou os preços do tipo WTI para o maior nível em um mês. O petróleo tipo Brent também passou a oscilar em baixa, em meio a relatos de que talvez não haja um consenso com os sauditas por uma ampliação da produção menor.

A notícia abalou o pregão na Europa, com as bolsas migrando para o terreno negativo, após abrirem embaladas pelos ganhos do petróleo. Em Wall Street, porém, o sinal positivo prevalece, mas os negócios devem oscilar hoje ao sabor do noticiário vindo da reunião da Opep em Viena.

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