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Inflação e reformas calibram apostas nos juros


A aprovação de apenas uma mudança no texto da reforma da Previdência na comissão especial, de dez sugestões apresentadas, mostra a força política do governo Temer e mantém a confiança na aprovação da proposta no plenário da Câmara. Um consenso entre ao menos 320 deputados para avançar a medida ao Senado pode reforçar as apostas de queda maior dos juros brasileiros, que tem na inflação argumentos para isso.

A expectativa do Palácio do Planalto é de colocar em votação a proposta de mudanças nas regras da aposentadoria até o próximo dia 31 e aprovar o texto durante a reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom). Se houver sucesso entre os deputados, o Banco Central pode sentir-se confortável em cortar ainda mais a taxa básica de juros. Por isso, o governo corre contra o tempo e já avança nas negociações com os senadores.

Até porque o processo de desinflação em curso no Brasil, combinado com a demora na retomada da atividade, já permite uma queda mais profunda na Selic, de 1,25 ponto, intensificando o ritmo recente, a dose de um ponto. E os preços ao consumidor devem ter mais uma boa notícia hoje, com a inflação oficial, medida pelo IPCA, registrando o menor resultado para meses de abril desde o início do Plano Real, em 1994.

A expectativa é de que o índice perca força pelo terceiro mês seguido e avance 0,16% em abril, vindo de uma alta de 0,25% em março. Já a taxa acumulada em 12 meses deve ficar abaixo da meta de 4,5%, perseguida pelo BC, encostando-se à faixa de 4%, no menor patamar para o período desde antes da crise de 2008.

Esse desempenho irá refletir, notadamente, o recuo na tarifa de energia elétrica, por causa do desconto concedido aos clientes devido à cobrança indevida do custo de energia nuclear proveniente de Angra 3. Os números oficiais serão divulgados às 9h.

Depois, ainda na agenda doméstica, saem os dados semanais do fluxo cambial (12h30). Na safra de balanços, destaque para os resultados trimestrais de Gol, antes da abertura do pregão, e da Oi, após o fechamento do mercado. Também são esperados os demonstrativos contábeis de Rumo e Cosan, entre outras.

No exterior, o calendário norte-americano traz os preços de importação e de exportação em abril (9h30), os estoques semanais de petróleo bruto e derivados (11h30) e o Orçamento do Tesouro (15h). Mas é o noticiário político que pesa nos mercados internacionais, após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir o diretor do FBI, James Comey.

Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em queda nesta manhã, contaminando o desempenho das praças na Europa, que não consegue acompanhar o sinal positivo que prevaleceu na Ásia. O destaque por lá ficou com a Bolsa de Hong Kong, que subiu 0,5% e fechou no maior nível em 21 meses. Na Coreia do Sul, a bolsa devolveu os ganhos e caiu do maior nível histórico, após a vitória de Moon Jae-in nas eleições.

Mas as atenções dos investidores estão mesmo voltados para a China, após uma onda vendedora (selloff) que enxugou US$ 450 bilhões dos mercados no país. Dados de inflação mostraram que os preços ao produtor perderam força e cresceram menos que o esperado em abril, em +6,4% ante previsão de +6,7%, ao passo que o índice ao consumidor ganhou tração e subiu 1,2%, de +0,9% em março.

Os números mostram que a retomada nos preços das commodities durou pouco, aliviando a pressão sobre os preços no atacado. No mês passado, as principais matérias-primas retrocederam aos níveis de novembro de 2016, com o recuo liderado pelos metais básicos e pelo petróleo. Hoje, o barril da commodity se recupera, mas é cotado na faixa de US$ 46, antes dos dados dos EUA.

De volta ao Brasil, o noticiário político também promete ser intenso nesta quarta-feira, dia do depoimento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro. Será a primeira vez que Lula irá depor como réu no âmbito da Operação Lava Jato, em uma ação penal sobre o triplex em Guarujá.

Com os holofotes voltados a Curitiba, Brasília deve ganhar tempo nas negociações em relação à agenda de reformas. O objetivo do Palácio do Planalto é de que a proposta aprovada ontem - que mantém a idade mínima de 65 anos para homens e de 62 para mulheres se aposentarem, além da exigência de ao menos 25 anos de contribuição, entre outros pontos - não sofra novas alterações e tenha a máxima concordância possível com o que for avalizado pelos deputados, evitando que o texto volte à Câmara.

Mas no plenário da Casa, o governo ainda tem duas grandes questões para negociar. Uma delas é a inclusão dos agentes penitenciários no rol de categorias com direito à aposentadoria especial. A outra refere-se aos servidores públicos que ingressaram antes de 2003. A categoria pressiona parlamentares para não ter de cumprir idade mínima para aposentadoria para ter acesso a benefício integral.

Nessa disputa, vale-tudo para passar a reforma da Previdência. Ainda que o texto esteja bem longe de corrigir as atuais distorções do sistema previdenciário e de igualar direitos. Com o governo admitindo que não tem o quórum de 308 deputados para aprovar o texto na Câmara, em dois turnos, ganha quem tem maior poder de barganha.

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