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O fator previdenciário


A reforma da Previdência continua no centro das atenções dos mercados domésticos e a conclusão da votação dos 11 destaques do relatório na comissão especial da Câmara dos Deputados é o grande destaque do dia. As discussões serão retomadas a partir das 9h30 e devem se estender até o início da tarde, podendo trazer novas desidratações ao texto.

Com a melhora dos fundamentos econômicos, diante dos sinais de estabilização da atividade e da trajetória de queda da inflação e dos juros no Brasil, o front político está no radar dos investidores. Afinal, é a vez de o Congresso chancelar (ou não) as propostas apresentadas pela equipe econômica dos sonhos do governo Temer.

Neste contexto, o timing das votações em Brasília ganha importância, pois a aproximação das eleições de 2018 pode dificultar o apoio a tais medidas. Os deputados podem propor mudanças, diante do receio da resposta das urnas, mas quanto menos o governo tiver de ceder agora, mais “cartas na manga” terá para as negociações futuras.

Na batalha para conseguir os 308 votos necessários para avançar a matéria ao Senado, o presidente Michel Temer terá de fazer novas concessões. Por mais que tenha endurecido o discurso, o governo já foi avisado pelos partidos aliados que, do jeito que está, a reforma não passa.

Pelas contas do governo, a base aliada a favor das mudanças nas regras da aposentadoria soma hoje 290 votos. Longe do mínimo necessário (308) e também da margem entre 320 e 330 deputados que o Planalto gostaria de ter antes de colocar a matéria no plenário da Câmara.

Ainda assim, o governo tem pressa e vai tentar votar a reforma da Previdência antes do fim do mês, pois qualquer atraso na votação pode colocar a agenda de reformas em risco. E os mercados também tendem a se tornar menos complacentes com quaisquer adiamentos.

A questão é que uma total desfiguração da proposta original, com mudanças substanciais, pode comprometer os efeitos esperados da reforma da Previdência sobre as contas públicas e a taxa de desemprego. Mas as mudanças no texto não são a única moeda de troca para o apoio dos deputados, o que amplia o toma-lá-dá-cá.

A estratégia de Temer é acelerar a liberação de verbas para pagar emendas de deputados que se comprometerem em votar a favor da reforma da Previdência. Em reunião ontem, o presidente determinou que seus ministros privilegiem cerca de 330 parlamentares na distribuição dos recursos, usados para bancar obras e projetos nas bases eleitorais.

Paralelamente, Temer trabalha para conseguir que os partidos da base aliada fechem questão a favor das mudanças nas regras para aposentadoria, o que evitaria dissidências. Isso poderia garantir uma margem maior de votos, dando segurança na votação no plenário. Mas se nem o PMDB parece disposto, vai ser difícil convencer os demais...

O presidente deve receber a bancada do PMDB no Senado hoje, às 11h, buscando uma reaproximação de Renan Calheiros, que tem se mostrado contrário às reformas. Seria um importante sinal reunificar o partido em torno das propostas. Ainda mais porque o Palácio do Planalto sabe que não tem os votos necessários para aprovar a Previdência.

Entre os indicadores, destaque apenas para o IGP-DI (8h), que deve intensificar a trajetória de queda iniciada em março e recuar 1% em abril. Às 9h, saem os resultados regionais da indústria, que tem apresentado um desempenho desigual entre os setores da atividade, mas que deve ser beneficiada pela redução da taxa de juros ao longo de 2017.

Aliás, é o cenário doméstico de desinflação combinado com a retomada econômica que tem alimentado as apostas de aceleração no ritmo de queda da taxa básica de juros em maio. Por enquanto, a chance maior continua sendo de corte de um ponto na Selic, mas os indicadores econômicos desta semana e o avanço das reformas podem ampliar a possibilidade de redução maior, de 1,25 ponto - que já vem ganhando cada vez mais adesão.

No exterior, o calendário econômico segue mais fraco hoje e traz como destaque os números da inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) na China em abril, no fim do dia. Antes, às 11h, saem os estoques no atacado norte-americano em março.

Sem um gatilho para definir o dia dos negócios nos mercados internacionais, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d'água, monitorando o avanço do petróleo e também do dólar. A recuperação no preço do barril da commodity, para a faixa de US$ 46, parece frágil, o que pode ampliar o vigor da moeda norte-americana.

Ontem, o dólar fechou no maior valor ante o real desde meados de janeiro, flertando com o nível de R$ 3,20, sob impacto do exterior e atento às reformas. A Bovespa também se desvalorizou, penalizada pela performance das commodities, que podem continuar prejudicando o desempenho local, diante da nova queda do minério de ferro na China.

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