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Governo contra-ataca


Não será por causa das manifestações convocadas por centrais sindicais ontem e na sexta-feira passada que as reformas trabalhista e previdenciária não irão passar no Congresso. Apesar do alto índice de rejeição da população às mudanças nas leis de trabalho e nas regras de aposentadoria, os protestos nas ruas foram insuficientes para ameaçar o voto da base aliada, encorajando os parlamentares em aprovar tais medidas.

A avaliação de que a greve geral de sexta-feira fracassou devido à baixa adesão trouxe alívio aos negócios locais já no fim da semana passada. Mas a diminuição da tensão não impediu que o real brasileiro registrasse o pior mês desde novembro de 2016, enquanto a Bovespa encerrou abril com uma valorização inferior a 1%, em meio à redução das apostas favoráveis aos ativos domésticos diante do aumento dos riscos fiscais.

A questão é que os mais interessados em abafar o movimento se apressaram em diminuir o impacto, expressando óbvia avaliação. Não houve na cobertura do evento qualquer resposta ao tamanho da paralisação nem às possíveis consequências aos direitos adquiridos em nome do ajuste fiscal, pois por mais que não tenha sido um caos generalizado, tampouco foi um dia normal de trabalho - nem mesmo para o jornalismo.

Até porque sete em cada dez brasileiros se dizem contrários à reforma da Previdência e 60% acredita que as novas leis trabalhistas beneficiam mais os patrões do que os empregados, diz o Datafolha. Em discurso do 1º de Maio, o presidente Michel Temer afirmou que a reforma trabalhista criará empregos - mas não esclareceu que serão vagas mais precárias com menores salários, tal qual a reforma espanhola que o inspira.

A proposta de Mariano Rajoy, aprovada há cinco anos, reduziu o desemprego de 22,5% para 18,6% no período, mas aumentou a desigualdade, com o salário médio dos espanhóis girando em torno de 16,5 mil euros por ano - o mais baixo entre as maiores economias da União Europeia (UE). Para Temer, aprovado por apenas 9% da população, a reforma trabalhista dará direitos "a quem antes não tinha".

Independente das vozes das ruas, é a expressão oficial que prevalece, mas os fatos devem manter a incerteza elevada, cabendo respeito aos acontecimentos. E os mercados domésticos estão mesmo interessados é no início da votação do relatório da reforma da Previdência, amanhã em comissão especial, uma vez que a pauta trabalhista já foi endereçada ao Senado.

Ontem à noite, Temer convocou ministros e líderes do Congresso para uma reunião de mais de três horas, em que discutiu estratégias para aprovar as mudanças nas regras para a aposentadoria. Hoje acontece a última sessão de debate entre os deputados e as negociações tendem a seguir intensa.

O placar da imprensa ainda mostra um total de 218 parlamentares contra as propostas e apenas 76 a favor, mesmo após as mudanças incluídas no parecer do relator, Arthur Maia. Ao todo, são necessários 308 votos para aprovar a emenda à Constituição. Na comissão, é preciso ter 19 dos 37 votos para ser aprovado e espera-se um placar amplo.

Também amanhã será conhecido o desempenho da produção industrial brasileira em março e no acumulado dos três primeiros meses de 2017. Ainda no âmbito da atividade, saem os números de produção e vendas do setor automotivo em abril, mostrando a tração da indústria já no segundo trimestre e podendo corroborar a percepção de que a retomada econômica prossegue, embora lenta e inconstante.

Hoje, saem as divulgações tradicionais de segunda-feira. Às 8h25 o Banco Central publica a Pesquisa Focus, que deve manter o cenário de que a atividade econômica fraca fornecerá pressão deflacionária que possibilitará a continuidade do ciclo de queda da taxa básica de juros. Às 15h, saem os números de março da balança comercial.

Já no exterior, além de conhecer os números do mercado de trabalho norte-americano e do desempenho da economia da zona do euro no início deste ano, também será divulgada a decisão do Federal Reserve sobre a taxa básica de juros nos Estados Unidos (FFR). A reunião de maio da autoridade monetária é daquelas em que não há atualização das projeções econômicas nem entrevista coletiva de Janet Yellen.

Assim, o mais provável é que não haja uma nova alta da FFR neste mês, mas espera-se uma sinalização sobre as chances de isto ocorrer na reunião seguinte, em junho. O tema sobre a redução do balanço de pagamentos do Fed pode voltar a ser abordado, no comunicado que acompanhará a decisão, a ser anunciada na mesma quarta-feira.

Na volta do feriado pelo Dia do Trabalho em várias partes do mundo, a safra de balanços continua ditando o tom dos negócios no exterior, em meio à expectativa de resultados sólidos das empresas no início deste ano. As bolsas europeias e asiáticas avançam, mas os índices futuros em Wall Street estão na linha d'água, com viés negativo.

No mercado de bônus, a declaração do secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, de que "pode fazer sentido" aumentar a emissão de títulos longos, para além de 30 anos, agita o rendimento (yield) dos papéis soberanos. Além da desregulamentação financeira, a agenda pró-crescimento do governo Trump pode transformar o financiamento ultra-longo da dívida dos EUA em uma realidade e essa iniciativa pode sair cara aos contribuintes norte-americanos.

Nesse ambiente, o ouro e o dólar estão de lado, com os investidores avaliando o impacto inflacionário de tal medida e a busca por proteção. Nas moedas, o euro tem oscilações estreitas antes do segundo turno das eleições francesas, neste domingo, ao passo que a libra esterlina ensaia queda. Já nas commodities, o cobre avança e o petróleo se recupera da queda de ontem, diante dos sinais de aumento de produção na Líbia e nos EUA.

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