top of page

Insegurança política abala mercados


O governo Temer parecia ter tomado a dianteira na questão da reforma da Previdência, alegando ter 350 votos para aprovação da medida na Câmara, mas eis que ressurge a delação da Odebrecht para lembrar à população que a classe política que quer mudar as regras da aposentadoria está envolvida em esquemas de corrupção - até mesmo os presidentes das duas Casas e o próprio relator da pauta. Assim, a insegurança deve tomar conta dos mercados domésticos nesta quarta-feira, com a cena política voltando a preocupar a necessidade de colocar as contas públicas do país em ordem.

A divulgação da "Lista de Fachin" aconteceu no fim da tarde de ontem, nos momentos finais do pregão, mas já foi suficiente para inverter o sinal da bolsa, para baixo, e do dólar, para cima. Os negócios locais fecharam em clima negativo, na esteira da abertura de inquérito contra nove ministros, 29 senadores e 42 deputados, suspeitos de receberem propina, com base nas delações de executivos da Odebrecht.

A investigação contra políticos da base aliada pode comprometer a governabilidade do presidente Michel Temer, apesar da tentativa de manter um "clima de normalidade". Por ora, nenhum ministro suspeito será afastado, os presidentes da Câmara e do Senado continuarão em seus assentos e os parlamentares irão circular pelos corredores do Legislativo como se nada tivesse sido descoberto sobre eles.

Mas, de "normal" a situação não tem nada, por mais que o sistema político reaja como se estivesse cheio de vida. As consequências dessa implosão em Brasília são imprevisíveis, podendo ser tratada como uma explosão atômica sobre os políticos ou ter o efeito de um traque. Diante dessa incerteza do que pode acontecer, a sensação de insegurança deve bater forte nos investidores, que tendem a fugir do risco Brasil.

No exterior, a tensão geopolítica também continua ameaçando a paz dos mercados. Mas a busca por proteção perdeu força, com os investidores mostrando maior confiança em retirar seus recursos de ativos seguros e migrar para as ações e as commodities.

Trouxe certo alívio aos negócios lá fora a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recusou o conselho do assessor político Steve Bannon e afirmou que os EUA não estão rumo a uma guerra com a Síria. "Não vamos para a Síria. Nossa política é a mesma - não mudou", disse Trump, em entrevista ao New York Post.

Em relação à Coreia do Norte, ele disse que pretende colocar mais pressão política e econômica sobre Pyongyang, deixando as opções militares para um cenário de longo prazo. Sobre o agravamento da situação nuclear naquele país, Trump disse saber que era uma "bagunça". "Mas é pior do que eu pensava."

Como resultado, os índices futuros em Wall Street estão em alta e as principais bolsas europeias também avançam, desvencilhando-se do sinal negativo que prevaleceu na Ásia. Ainda assim, chama atenção a leve alta de 0,2% da Bolsa de Seul, depois de recuar 2% nas últimas seis sessões.

Nas commodities, o petróleo registra ganhos pelo sétimo pregão, na maior sequência de alta desde dezembro, após a Arábia Saudita apoiar um novo corte na produção. O ouro recua e o cobre também. Entre as moedas, o dólar perde terreno para as rivais de países desenvolvidos e mede forças ante as divisas emergentes.

No calendário econômico no exterior, serão conhecidos dados dos Estados Unidos sobre os preços de importação e exportação em março (9h30); os estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados (11h30) e o resultado fiscal no mês passado (15h). Logo cedo, a China anunciou que a inflação ao produtor (PPI) perdeu força em março e subiu 7,6%, em base anual, após avançar 7,8% em fevereiro.

Os números refletem um esfriamento na alta dos preços das commodities e lançam dúvidas obre a recuperação da inflação global. Do lado do varejo, o índice de preços ao consumidor (CPI) chinês subiu 0,9% no mês passado em relação a um ano antes, acelerando-se ante o avanço de 0,8% no mês anterior, na mesma base de comparação.

No Brasil, o ponto alto da agenda econômica está reservado para esta quarta-feira, que trará atualizações importantes acerca da atividade econômica e também da taxa básica de juros (Selic). Logo cedo, saem as vendas no varejo em fevereiro (9h) e a expectativa é de alta de 0,5% na comparação com janeiro, cujos resultados serão revisados.

Já na comparação anual, o comércio deve registrar o 23º resultado negativo seguido, de -6,9%. Considerando-se o desempenho das lojas de material de construção e de veículos (conceito ampliado), deve haver um avanço robusto, de 1,5%, em base mensal.

Caso os números sejam confirmados, cresce a sensação de que a economia brasileira encontrou o fundo do poço. Mas, para sair dele e engatar uma trajetória firme de recuperação, ainda é necessária uma ajuda do Banco Central. Por isso, é grande a expectativa pela aceleração no ritmo de queda do juro básico.

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar 2017 em um ritmo mais acelerado de cortes, a doses de 0,75 ponto, o passo deve ser intensificado para um ponto porcentual (pp) em abril, no maior corte desde 2009. Assim, a taxa Selic deve cair pela quinta reunião seguida e voltar aos níveis de outubro de 2014, a 11,25%. A decisão deve ser unânime.

Contudo, mais importante do que a decisão em si, serão os sinais do BC sobre os próximos passos. Sabe-se que, até aqui, é a combinação de uma atividade econômica combalida com a trajetória cadente da inflação que tem permitido cortes mais intensos na taxa básica de juros e o comunicado do Copom pode dar pistas sobre se esse ritmo de redução continuará nas próximas reuniões.

A expectativa é de que o Comitê faça novamente menção a fatores condicionantes – seja para a manutenção do “novo ritmo”, seja para alteração da magnitude dos cortes. E o divisor de águas para definir quanto mais a Selic pode cair é a reforma da Previdência. Mas os pedidos de investigação contra políticos com foro privilegiado podem atrapalhar o andamento das reformas, ampliando as incertezas em âmbito local.

Posts Destacados
bottom of page