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Cautela cresce com política


O mês acaba hoje para os mercados no Brasil e esse encerramento antecipado de fevereiro pode ocasionar movimentos de ajuste nas carteiras e maior cautela nos negócios. Ainda mais com a denúncia surpresa do "amigo do Temer", o ex-assessor especial da Presidência José Yunes, que diz ter recebido um "envelope" a pedido do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), entregue em setembro de 2014, às vésperas da eleição.

A notícia relembra aos investidores que a cena política em Brasília não vai nada bem e a declaração de Yunes parece ser uma estratégia de "fogo amigo" para tirar Padilha do governo. A informação foi publicada em um revista semanal e pode ter desdobramentos, alimentando teorias de que o ministro da Casa Civil pode estar sendo "rifado" e o presidente Michel Temer, "salvo".

Por isso, os mercados domésticos devem ter posturas mais defensivas nesta sexta-feira, já que os negócios ficarão descobertos pelos próximos dias com os dias de folia paralisando o pregão apenas no Brasil. O exterior não pára durante o carnaval e de lá também podem vir surpresas.

Rumores de que o plano do presidente norte-americano Donald Trump de impulsionar a infraestrutura dos Estados Unidos seria adiado para o ano que vem, pelo menos, afetou as ações ligadas ao setor, como mineradoras e siderúrgicas ontem, assim como os metais básicos. O adiamento amplia as incertezas em relação à Casa Branca, que também deve deixar para agosto o plano "fenomenal" de corte de impostos.

Trump fala hoje ao meio-dia, em evento do Partido Republicano, e os mercados financeiros esperam ansiosos por comentários firmes que se esperam de um presidente, mas que ainda insiste em manter o "modo campanha". Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, um dia após o Dow Jones cravar o 10º recorde consecutivo, na maior sequência desde 1987 - ano que ficou conhecido pela "Segunda-feira Negra".

Até então, o impulso "Trump trade" vem estimulando Wall Street, que aposta nos efeitos positivos da política econômica prometida por Trump, via estímulos fiscais. Mas a ausência de detalhes a respeito de medida tem inibido a euforia dos mercados no exterior. Ainda assim, nada parece eliminar o viés otimista (“bullish”) nos negócios.

Por enquanto, prevalece apenas um tom de cautela ao final de uma semana positiva para os ativos de risco. O petróleo, por exemplo, cai hoje, mas caminha para o melhor desempenho semanal do ano, cotado nos maiores níveis desde julho de 2015, ao passo que os mercados na Ásia registraram a quinta semana seguida de ganhos, mas também devolveram parte da alta hoje.

Já o minério de ferro tombou 4,2%, diante dos sinais de supervalorização da commodity. O ouro deve marcar a quarta semana consecutiva de alta, negociado no patamar mais elevado desde novembro.

O dólar, por sua vez, segue em queda em relação aos rivais, após o secretário de Tesouro dos EUA, Steven Munchin, afirmar que devem ser limitados os efeitos de estímulos fiscais na economia do país em 2017. Tal impacto pode adiar uma decisão de aperto monetário do Federal Reserve.

Mas o presidente da distrital de Dallas do Fed, Robert Kaplan, que tem direito a voto no Comitê (Fomc) neste ano, afirmou que o colegiado busca oportunidades para elevar os juros, deixando a porta aberta para qualquer reunião. O rendimento (yield) dos bônus dos títulos norte-americanos (Treasuries) avançam nesta manhã.

São sinais que confirmam s sensação de uma pequena parcela de especialistas, que vê certo exagero no rali dos ativos – aqui e lá fora, principalmente após as mensagens deixadas pelos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos. Tanto o Fed quanto o Comitê de Política Monetária (Copom) foram muito claros na última quarta-feira.

Enquanto o primeiro disse que, se necessário, vai subir os juros em breve; o outro afirmou que existem condicionantes para aprofundar o ritmo de cortes. Mas o mercado está operando no rumor até o fato acontecer e acreditando no que quer, à espera de evidências convincentes que levem os BCs a não agir conforme o esperado - e precificado nos ativos.

Nesse sentido, o relatório sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll) pode ser um grande divisor de águas desse movimento atual. O documento será conhecido na sexta-feira da semana que vem, apenas dois após a retomada dos negócios locais, que só voltam a funcionar na Quarta-feira de Cinzas, às 13h.

Qualquer sinal de fortalecimento da geração de emprego nos EUA e, principalmente, de pressão inflacionária por causa do crescimento da renda média por hora pode desencadear uma forte correção nos preços. Em contrapartida, números que apontem uma direção contrária tendem a ampliar o apetite global por ativos de risco.

Outro documento que pode dar pistas quanto à condução da taxa de juros é a ata do Copom, que sai um dia antes do payroll. Após o entendimento de que a Selic irá cair mais fortemente na próxima reunião, em abril, o BC pode tentar esclarecer qual mudança de cenário o levará a uma mudança de postura, com cortes mais agressivos.

As atenções estarão voltadas às estimativas de inflação que Copom usa em seu cenário de referência para tomar decisões e que poderiam estar orbitando em níveis muitos baixos, incompatíveis com juros tão altos. Daí, então, as razões que fizeram o BC levantar a discussão sobre a taxa de equilíbrio, capaz de segurar uma alta dos preços, mas sem gerar atratividade pelos rendimentos.

Mas, tudo isso é conversa para a semana que vem, depois do carnaval, quando o ano finalmente começa no Brasil...

Na agenda econômica do dia, saem as sondagens dos setores industrial e de serviços em fevereiro, às 8h. Depois, às 9h, é a vez da taxa de desocupação no Brasil no período até janeiro. O desemprego deve ter iniciado 2017 em novos patamares recordes, alcançando a marca de 12,4% e ampliando a faixa de 20 milhões de desempregados no país.

Ainda pela manhã, às 10h30, o Banco Central divulga a nota de política fiscal em janeiro, com os dados das contas públicas. Após a surpresa positiva com o resultado do governo central, ontem, o resultado consolidado do setor público também deve surpreender, com um superávit superior a R$ 12 bilhões.

No exterior, saem as vendas de imóveis novos em janeiros nos Estados Unidos e o índice de confiança do consumidor norte-americano em fevereiro, ambos às 12h.

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