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Inflação no Brasil calibra apostas sobre juros


Enquanto os mercados no exterior tentam se desviar de posições ultranacionalistas nos dois lados do Atlântico Norte, mas acabam esbarrando na queda acentuada do petróleo hoje, os negócios locais estão mais interessados no deslocamento da inflação. O IPCA de janeiro deve calibrar as apostas dos investidores quanto ao tamanho e o ritmo do ciclo de cortes na taxa básica de juros, agitando o pregão doméstico hoje.

O consenso do mercado é de que a taxa oscile ao redor de 0,40%, o que, se confirmado será o menor resultado da inflação oficial do país desde a adoção do Plano Real, em 1994, quando teve início a série histórica atualizada. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve sair do patamar de 6% e ficar perto de 5,4%, no nível mais baixo desde o período até setembro de 2012.

Os números oficiais serão divulgados às 9h pelo IBGE e o mercado não descarta uma surpresa baixista no dado, o que pode esquentar a discussão quanto a cortes maiores na Selic, para além do “novo ritmo” de queda de 0,75 ponto por parte do Banco Central. E os cenários são muitos.

Há chances de o Comitê de Política Monetária (Copom) adotar cortes mais profundos, de 1 ponto; ou mesmo de ampliar o tamanho da dose total, com quedas firmes e sucessivas nos encontros daqui até o fim do ano, mergulhando a taxa de juros para a faixa entre 8% e 9%. A autoridade monetária pode também estender o ciclo ao longo de 2018.

Diante dessas possibilidades, os investidores irão ler o dado com lupa, de olho em possíveis pressões (ou alívios) inflacionárias(os), seja nos preços dos alimentos, dos serviços ou dos monitorados. Antes, na agenda econômica local, sai a primeira leitura de fevereiro do IPC-S (8h) e, depois, os dados de janeiro do fluxo cambial (12h30).

O recuo dos preços do petróleo nesta manhã também contribui para o cenário de corte maior do juro, uma vez que a Petrobras se baseia nos preços da commodity no exterior para reajustar os combustíveis e o barril mais barato acaba suavizando a inflação. Nesse ambiente de preços sob controle, crescem as apostas para uma postura mais firme do BC na condução da política monetária.

O petróleo WTI cai abaixo de US$ 52 por barril, com os investidores preocupados quanto a um possível salto na oferta da commodity nos Estados Unidos, após o presidente Donald Trump autorizar a construção do controverso oleoduto Dakota Acess. O aumento dos estoques norte-americanos em 14,2 milhões de barris, apontando pelo API, também pesa, já que ameaçam os esforços globais de reduzir a produção a fim de equilibrá-la à demanda.

Hoje, às 13h30, saem os números oficiais do Departamento de Energia (DoE) sobre os estoques nos EUA do petróleo bruto e derivados. Trata-se do único indicador do dia no exterior, pois o calendário econômico lá fora segue fraco.

Essa ausência de dados relevantes dificulta a tentativa dos mercados internacionais de se livrar do desconforto criado pela política de Trump contra imigrantes e pela posição da candidata à presidência da França, Marine Le Pen, contra o fundamentalismo islâmico e a zona do euro.

Na Alemanha, a falta de apoio a uma nova reeleição de Angela Merkel também preocupa, o que pode minar a União Europeia (UE) como um todo. Fora da região da moeda única, o Parlamento do Reino Unido faz a votação final sobre o Brexit. O risco político, portanto, não está só nos Estados Unidos e migrou também para a Europa.

Os investidores, então, redobram a cautela e já não conseguem se apoiar apenas na perspectiva de crescimento econômico mundial mais acelerado no curto prazo. Ao contrário, o receio de uma desconfiguração do establishment leva os agentes a se protegerem de possíveis eventos inesperados – que podem ser tornar mais prováveis.

O custo desta proteção se reflete na valorização do dólar nesta manhã. Mas a moeda norte-americana realiza lucros ante o iene, que ganha terreno em meio à atuação do BC do Japão (BoJ) na compra de títulos. As divisas de países emergentes produtores e exportadores de petróleo, porém, exibem perdas, refletindo a queda da commodity.

Nas bolsas, as ações de petrolíferas lideraram as perdas na Ásia e devem contaminar o pregão no Ocidente, com destaque para os papéis da Petrobras na Bovespa. Por ora, os índices futuros em Nova York estão em alta, o que anima o início da sessão na Europa.

Os metais básicos, porém, avançam, com o cobre puxando a fila, após o início de greve na unidade da mineradora BHP Billiton no Chile, que falhou em chegar a um acordo com os trabalhadores. Entre os metais preciosos, o ouro devolve parte do rali dos últimos três dias.

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