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Mais um dia morno


O marasmo deve continuar nos negócios nesta quarta-feira, com a esvaziada agenda de indicadores econômicos e o noticiário fraco desta época do ano mantendo o ritmo lento nos mercados financeiros. Ainda que a situação dos bancos na Europa, a troca de farpas entre republicanos e democratas nos Estados Unidos e a tentativa do governo Temer de manter uma agenda econômica positiva pudessem agitar as mesas de operações, a ausência de investidores na sessão é o fato mais marcante nesta reta final de 2016.

Trata-se de um comportamento típico de virada do ano, quando os ativos exibem pequenas variações, em meio a um baixo volume de negócios. O calendário do dia, que conta com dados do fluxo cambial no Brasil (12h30) e sobre as vendas pendentes de imóveis nos EUA em novembro (13h), tende a contribuir para leves oscilações em bolsas, moedas e bônus ao redor do mundo.

Nas negociações asiáticas, a sessão foi marcada pelo giro financeiro fraco, mas o índice MSCI da Ásia-Pacífico subiu pela primeira vez em sete dias, ajudado pela volta aos negócios nas bolsas de Hong Kong (+0,8%) e da Austrália (+1%). Na Europa, as principais praças da região estão de lado, em meio à preocupação com o banco italiano Monte dei Paschi, que precisará de um resgate de quase 10 bilhões de euros, em meio à frágil situação financeira.

Mas os investidores já sabem como as coisas no Velho Continente caminham devagar e demoram para serem resolvidas. Do outro lado do Atlântico Norte, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, embalados pelo avanço nos preços do petróleo, que caminha para a sequência mais longa de ganhos em quatro meses. O dólar mede forças ante as moedas rivais.

É válido lembrar que qualquer "empurrãozinho" pode ser suficiente para levar o Dow Jones acima da marca histórica dos 20 mil pontos. Mais do que uma conquista inédita, seria importante Wall Street começar 2017 em um novo patamar, dando às boas-vindas ao governo Trump e à expectativa de que o presidente eleito poderá acelerar o crescimento da maior economia do mundo.

Em tom de despedida, o presidente norte-americano Barack Obama garantiu, em entrevista à rede de TV CNN, que conseguiria um terceiro mandato, vencendo Donald Trump em um eventual corrida eleitoral, caso pudesse concorrer no lugar de Hillary Clinton. Para Trump, "de jeito nenhum" isso aconteceria, mas essa dúvida pode durar para sempre - ou ao menos por mais quatro anos.

O fato é que Obama termina o segundo mandato em 20 de janeiro e o republicano será o próximo a assumir a Casa Branca. Diante dessa certeza, os mercados financeiros continuam tentando colocar no preço dos ativos os próximos passos de Trump. Por ora, os investidores se esquivam das promessas mais polêmicas e se apoiam na intenção do republicano de cortar impostos e elevar os investimentos em infraestrutura, o que pode demandar um ciclo mais acelerado de alta da taxa de juros pelo Federal Reserve.

Enquanto lá nos EUA o nível baixo dos preços é um problema, no Brasil, a trajetória de queda da inflação ao consumidor pode ser a solução. O governo continua apostando todas as fichas no processo de corte da taxa básica de juros e espera que o Banco Central mostrou-se mais sensível aos índices domésticos de preços e de atividade para reduzir a Selic em uma dose mais agressiva já em janeiro.

Um alívio monetário mais intenso ao longo de 2017 pode levar o juro básico para abaixo dos dois dígitos, fazendo com que a economia volte a decolar. É bom lembrar, que essa mesma Selic já atingiu, no início desta década, o mínimo histórica de 7,25% e esse nível esteve longe de ser a solução dos problemas econômicos do país - ao contrário. O BC tem sido enfático no discurso de que, sozinho, não consegue fazer a roda voltar a girar.

Mas os investidores e empresários seguem na torcida de que a pauta fiscal continuará tendo caminho livre no Congresso, sem a necessidade de criar impostos para aumentar a arrecadação. Com as contas públicas ainda longe de uma trajetória sustentável, o Brasil continua atraindo o capital especulativo, que segue por aqui enquanto a temporada estiver alta.

Esse apetite dos "gringos" para "comprar Brasil" vai na direção contrária do baixo consumo interno. A decepção com as compras de Natal e a batalha pelos juros baixos levou o presidente Michel Temer a autorizar a cobrança de preços diferentes para um mesmo produto, de acordo com a forma de pagamento.

Trata-se de mais uma medida no âmbito da reforma microeconômica e muitas ainda podem ser anunciadas, em um momento em que o governo tenta reverter o desgaste de imagem após o envolvimento da cúpula do PMDB na delação premiada da Odebrecht. Ainda existe a intenção de acelerar a Reforma da Previdência no Congresso e mudar a legislação trabalhista, sem descartar uma Reforma Tributária.

Enquanto isso, o Palácio do Planalto continua emitindo sinais difusos em relação à proposta de um teto para os gastos públicos. Afinal, como explicar um menor direcionamento das receitas para áreas essenciais, como a saúde e a educação, e a exigência de trabalhar por mais tempo para se aposentar, quando o governo abre uma licitação de R$ 1,8 milhão para comprar lanches a serem servidos em aviões de Temer?

Na lista de produtos, tem 120 potes de Nutella e 500 potes de sorvete da marca Häagen-Dazs, cotados por um preço de referência maior que em supermercados, além de uma tonelada e meia de tortas de chocolate. Tudo indica que o presidente gosta mesmo de doce, mas também há pedidos de presunto de parma, queijo brie e sanduíche de mortadela.

O assunto pegou tão mal que, após uma repercussão que viralizou pelas redes sociais, o governo cancelou a licitação, que aconteceria logo no dia 2 de janeiro. Em contrapartida, Temer - paulista, que sonha em ser conhecido como o "maior presidente nordestino" - parece estar inclinado a vetar o projeto, aprovado com modificações na Câmara, de socorro aos Estados em situação financeira crítica. No total, 12 unidades da federação já preevem fechar o ano que vem com um rombo nas contas.

Só que os mercados domésticos estão de olho e cientes de que o Brasil ainda sequer começou a fazer um ajuste fiscal. A Bovespa é a primeira a mostrar que essa confiança pode sofrer um revés. A renda variável brasileira deve fechar 2016 abaixo da marca dos 60 mil pontos, que havia sido reconquistada em outubro, mas que foi perdida à medida que os investidores - estrangeiros, principalmente - colocaram no bolso parte dos ganhos de quase 50% que vinha acumulando neste ano.

No fim das contas, ainda deve restar uma alta de pouco mais de 30%, no melhor desempenho anual da Bolsa desde 2009. O dólar, por sua vez, está dividido entre o cenário externo e as perspectivas internas, sem ainda dar sinais de quais fatores irão pesar mais na formação do preço da moeda estrangeira no ano que vem. O jeito é esperar para ver...em 2017.

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