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BC dá o tom aos mercados


O Banco Central reduziu a taxa de juros à dose mínima de 0,25 ponto porcentual na última reunião de 2016, mas deu a entender que irá acelerar o ritmo de queda da Selic já no início do ano que vem. A retirada da palavra "moderada", no comunicado que acompanhou o anúncio da decisão, mostrou a intenção de ser mais incisivo no ciclo de cortes a partir de janeiro. E essa indicação deve provocar fortes ajustes nos mercados domésticos hoje, relegando os primeiros "panelaços" desde o início do governo Temer.

Para o Comitê de Política Monetária (Copom), "um processo gradual de flexibilização" da taxa básica de juros é compatível com a convergência da inflação à meta de 4,5% para um período até 2018. Da mesma forma, o BC também enxerga como "gradual" e, quiçá, "demorada", a recuperação da atividade econômica, ao passo que as reformas e ajustes no âmbito fiscal podem ocorrer de forma mais célere.

Nesse cenário, o BC avalia que a pressão sobre os preços deve diminuir ainda mais. Porém, a autoridade monetária observa que a intensificação do ritmo de desinflação depende de um ambiente externo adequado, sendo que o "possível fim" do interregno benigno nos países emergentes pode dificultar esse processo.

Tratam-se de nuances incluídas na comunicação do Copom que ilustram a dependência à divulgação de indicadores e à evolução do cenário político-econômico, nacional e internacional, ainda repleto de incertezas. Não se pode dizer que foi um comunicado dovish ("suave"), mas o texto passou longe de um tom conservador ("hawkish").

Para os investidores, "um pingo é letra" e a sinalização é de que o BC pode cortar a Selic em 0,50 ponto porcentual na primeira reunião de 2017, por causa da combinação de atividade fraca e inflação comportada. Não se deve descuidar do cenário externo, mas tampouco convém esperar demais. Afinal, juros mais baixos ajudariam a dar tração à economia doméstica, desde que não comprometam os preços.

Como resultado, o mercado de juros futuros deve devolver prêmios hoje, com os investidores elevando as apostas de um ciclo mais agressivo de queda da Selic, que pode encerrar 2017 na faixa de 10% ou abaixo de dois dígitos. Essa perspectiva de juros menores no país tende a valorizar o dólar, diante do menor apelo dos rendimentos pagos pelos títulos domésticos.

Ao mesmo tempo, porém, a renda variável fica mais atraente, podendo atrair recursos - inclusive externos. No mês passado, a Bolsa brasileira registrou perdas de mais de 4%, interrompendo cinco meses consecutivos de ganhos e ficando na lanterna do ranking de aplicações financeiras. O dólar, por sua vez, garantiu a liderança, com alta de mais de 6% em novembro.

Já dezembro começa com dados de atividade no radar. A China abriu o dia de divulgações dos índices dos gerentes de compras (PMI) e anunciou que o indicador da indústria avançou a 51,7 no mês passado, de 51,2 em outubro, alcançando o maior nível desde 2012 e contrariando a previsão de queda a 51.

No setor de serviços, o PMI chinês subiu a 54,7, de 54, no período. Ao longo do dia, a zona do euro e os Estados Unidos anunciam seus respectivos PMI da indústria. Também merece atenção a taxa de desemprego na região da moeda única em outubro.

Mas é o petróleo que continua ditando o rumo dos mercados no exterior. O barril da commodity negociada nos EUA flerta com a faixa de US$ 50, ainda reagindo à decisão do cartel da Opep de reduzir os níveis de produção pela primeira vez em oito anos. A queda do dólar ante as principais moedas impulsiona ainda mais o petróleo.

É bom lembrar que, com a decisão da Petrobras de decidir mensalmente sobre o preços dos combustíveis cobrados nas refinarias, há uma grande possibilidade de a estatal elevar o litro da gasolina e do diesel neste mês. Afinal, no mês passado houve uma forte valorização tanto da taxa de câmbio no Brasil quanto do barril de petróleo Brent.

No exterior, porém, o movimento combinado do dólar e do petróleo embalou o pregão na Ásia. Contudo, os índices futuros das bolsas de Nova York e as principais bolsas europeias têm fôlego limitado, com os investidores já à espera do relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll), amanhã. Também há certa cautela antes do referendo na Itália sobre uma reforma constitucional.

No Brasil, a crise política também não dá trégua. As manobras no Congresso contra as medidas anticorrupção provocaram um confronto aberto entre o Legislativo e o Judiciário, abalando os três Poderes e podendo comprometer a intenção do presidente Michel Temer de encaminhar a Reforma da Previdência aos parlamentares nos próximos dias. Um grande ato contra todos os corruptos está marcado para o próximo domingo, na Avenida Paulista.

Ontem, moradores de ao menos cinco capitais brasileiras fizeram um "panelaço" nas janelas de casa - o primeiro desde que Temer assumiu, em um movimento convocado pelas redes sociais. O protesto teve como pivô a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, de pedir urgência no pacote aprovado na Câmara. Ele, aliás, pode se tornar réu hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de peculato e falsidade.

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