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E agora, Michel?


O presidente Michel Temer bem que tentou minimizar o impacto da saída de Geddel Vieira Lima do governo e mobilizou-se ainda durante o fim de semana para preparar o terreno desta semana decisiva no Congresso. Apesar de dizer que não agiu em defesa dos interesses particulares do ex-ministro e de anunciar um acordo para impedir a anistia ao caixa 2, os mercados financeiros não devem esconder hoje o receio de que a mais recente crise em Brasília comprometa a aprovação das medidas do ajuste fiscal.

Com a saída de Geddel, Temer perdeu o braço direito nas negociações junto ao Congresso, às vésperas da votação da PEC dos gastos no Senado, colocando à prova a articulação política do governo. Para tentar virar a página da crise, o presidente resolveu assumir a coordenação da votação do projeto, considerado fundamental para retomar o crescimento econômico - que, segundo ele, deve acontecer "só lá pelo segundo semestre do ano que vem".

Em uma nada usual entrevista em pleno domingo, no Palácio do Planalto, Temer voltou a negar que "enquadrou" o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero no episódio da liberação de um empreendimento imobiliário na Bahia e anunciou ter feito um "ajuste institucional" para impedir a anistia a práticas de caixa 2 eleitoral. Ao lado dele, estavam os representantes do Legislativo, Renan Calheiros e Rodrigo Maia.

Mas a inusitada coletiva foi considerada fraca e pode ter vindo tarde. Durante o fim de semana, Temer esteve reunido com aliados políticos e líderes da base a fim de garantir um placar favorável entre os senadores à proposta que fixa um teto para as despesas públicas por até 20 anos. Em troca, porém, os partidos querem um dos mais importantes cargos do núcleo político do governo.

Temer busca um nome para o lugar de Geddel que garanta boa interlocução com os parlamentares e que, segundo ele, "não esteja metido com nada". Essa negociação pode até não ameaçar a PEC, mas tende a dificultar o avanço de outras reformas importantes, como a da Previdência, que deveria ser enviada ao Congresso ainda neste ano.

O fato é que o caso da obra embargada em Salvador dá uma nova proporção à crise política e a decisão de Temer, Maia a Renan só prova o tamanho do problema e o quão difícil será recuperar a imagem do governo. A oposição já fala em impeachment do presidente, que pode ser alvo de abertura de inquérito. Nas ruas, a pressão pelo "Fora Temer" aumentou, com cerca de 40 mil manifestantes ocupando a Avenida Paulista.

Com isso, o noticiário político divide as atenções dos investidores em uma semana carregada de divulgações econômicas. A quarta-feira é o dia mais importante, que começa com os números do Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre passado e termina com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juros.

A expectativa é de que o Banco Central mantenha o ritmo e corte a Selic em 0,25 ponto, para 13,75%. Já para o desempenho da economia, a previsão é de uma piora na velocidade da queda da atividade, com um recuo de 1% no terceiro trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores.

Um dia antes desses anúncios, o Senado aprecia, em primeiro turno, a PEC do teto e, um dia depois, o STF julga denúncia que pode tornar réu o presidente da Casa, Renan Calheiros. Ainda na agenda doméstica merecem atenção os números do mercado de trabalho atualizados até outubro, amanhã, e sobre o desempenho da produção industrial no mês passado, na sexta-feira.

Na quinta-feira, saem os dados de novembro da balança comercial. Hoje, o calendário dá um respiro e traz como destaque os dados fiscais do setor público consolidado em outubro (10h30). Pela manhã, sai a Pesquisa Focus, do BC (8h25).

Como se já não bastasse todo esse intenso noticiário no Brasil, o cenário internacional também está agitado, principalmente nos Estados Unidos. Os mercados por lá voltam a operam normalmente hoje, após o feriado pelo Dia de Ação de Graças, e os índices futuros das bolsas de Nova York sinalizam que vão cair dos níveis recordes de alta. Na Ásia, só Tóquio caiu, após sete dias de alta, mas as praças na Europa estão no vermelho.

O dólar também recua, perdendo terreno para as moedas de países desenvolvidos e emergentes, com os investidores reavaliando suas posições antes de dados sobre o PIB e o emprego nos EUA nesta semana. Entre as commodities, o petróleo testa a marca de US$ 46, diante dos receios de que o cartel da Opep não chegará a um acordo na quarta-feira sobre cortes na produção, ao passo que os metais, básicos e preciosos, avançam.

O destaque na agenda econômica norte-americana também fica com o PIB. A segunda estimativa sobre a performance da maior economia do mundo no terceiro trimestre de 2016 será divulgada amanhã. Na primeira leitura, foi apontado um crescimento de 2,9%, na taxa anualizada, e a nova prévia deve mostrar uma expansão ainda maior, de 3%.

Além disso, na sexta-feira será publicado o relatório oficial sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll). A previsão é de que tenham sido criadas 180 mil vagas em novembro, com a taxa de desemprego seguindo em 4,9%.

Juntos, esses números sobre a atividade e o emprego nos EUA devem corroborar a perspectiva de aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve no próximo mês - que, aliás, começa já nesta quinta-feira. Na quarta-feira, o Fed publica o Livro Bege.

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