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Emergentes X Trump


Uma forte onda vendedora (selloff) se aprofunda entre os mercados emergentes, com os investidores estrangeiros liquidando posições nesses países, em meio à preocupação de que as economias em desenvolvimento irão enfrentar fortes saídas de capital e uma redução das exportações, assim que Donald Trump assumir a Casa Branca. Em um efeito retardatário, e ainda mais intenso, esse movimento teve início ontem e se ampliou hoje, diante das incertezas em relação à política econômica do presidente eleito nos Estados Unidos.

O índice MSCI de mercados emergentes, que engloba as moedas e commodities desses países, afundou ao nível mais baixo em quatro meses nesta manhã, diante dos temores de que Trump irá restringir as importações e elevar os estímulos fiscais. A bolsa da Indonésia registrou a maior queda do ano, ao passo que a das Filipinas teve a maior perda desde janeiro, seguindo o tombo das bolsas latinas, onde México e Argentina caíram mais de 3%,

No Brasil, a Bovespa e o real foram os mais atingidos, já que a bolsa e a moeda brasileiras figuram na liderança do ranking global dos ativos mais valorizados. Ontem, no pior momento do dia, o dólar subiu mais de 5%, encostando-se aos R$ 3,40, e o Ibovespa caiu quase isso, no limiar dos 60 mil pontos, com os investidores estrangeiros simplesmente refazendo as contas e promovendo uma fuga de recursos.

Atento a isso, o Banco Central promoveu uma guinada na política cambial. A autoridade monetária irá ofertar hoje 15 contratos de swap tradicional, equivalente à venda de US$ 6 bilhões no mercado futuro, ao invés de comprar dólar futuro, como vinha fazendo até recentemente. A nova atuação visa conter uma forte valorização do dólar, injetando liquidez no mercado e aliviando a pressão de alta.

Além disso, o BC anunciou que irá rolar os vencimentos de contratos cambiais previstos para 1º de dezembro. No exterior, os bancos centrais da Índia e da Indonésia também intervieram no mercado de câmbio, a fim de conter o dólar e dar apoio a suas moedas locais. A moeda norte-americana é negociada nos maiores níveis desde maio de 2015, diante da reviravolta no cenário político-econômico nos EUA, o que também deprime as commodities.

Os investidores estão realocando seus recursos na segurança dos rendimentos dos títulos norte-americanos (Treasuries), em um típico movimento de aversão ao risco. Somado à isso, está a percepção de que o viés expansionista de Trump no lado fiscal e suas promessas de redução de impostos devem gerar inflação e apressar o processo de aumento da taxa de juros, tornando o Federal Reserve mais agressivo – ao invés de interromper a normalização monetária.

A curva implícita de juros futuros embute 80% de chance de aperto dos juros em dezembro, de cerca de 70% há uma semana, sendo que as apostas por novos aumentos ao longo de 2017 também estão ganhando força. A questão é que o juro projetado (yield) pelo título de 10 anos dos EUA (T-note) está acima de 2% pela primeira vez desde janeiro, e esse aumento acentuado das Treasuries colocou a taxa de juros nos EUA em outro patamar.

Assim, como que em um movimento cíclico, o aumento no rendimento dos bônus norte-americanos estimula a saída de capital externo dos emergentes, que pode ganhar força à medida que o Fed sobe os juros norte-americanos. A exceção, por ora, fica com a China, com a Bolsa de Xangai voltando ao mercado de alta (bull market), em meio aos gastos do governo para impulsionar o crescimento econômico.

Hoje é o Dia do Solteiro na China, data que transformou o comércio eletrônico chinês no maior evento de compras on-line do mundo. A gigante Alibaba espera registrar o volume recorde de vendas de US$ 12 bilhões em apenas 12 horas.

A Bolsa de Xangai, aliás, subiu 0,8% hoje, na contramão do sinal negativo que prevaleceu na Ásia, e a expectativa de que o gigante emergente irá manter a demanda por matérias-primas tenta sustentar as commodities industriais. Os metais básicos são negociados no maior nível em um ano.

No Ocidente, as principais bolsas europeias ensaiam ganhos e os índices das bolsas de Nova York estão no azul, neste dia de feriado nos EUA pelo Dia dos Veteranos, que mantém Wall Street aberta, mas esvazia a liquidez dos negócios. A agenda econômica do dia traz apenas a leitura preliminar de novembro do índice de confiança do consumidor norte-americana (13h).

No Brasil, os mercados também devem sofrer com o menor giro financeiro, uma vez que o pregão doméstico da próxima segunda-feira será a meio-mastro, por causa do Dia da Proclamação da República, na terça-feira que vem. Porém, volume mais fraco também pode produzir distorções maiores nos preços dos ativos, para cima ou para baixo, aguçando a volatilidade.

Afinal, como se já não bastasse todo esse cenário internacional mais turbulento, o noticiário político doméstico também seguiu no radar dos investidores, diante da possível cassação da chapa Dilma-Temer, eleita em 2014. A notícia de que a defesa da ex-presidente Dilma Rousseff entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) documentos que apontam doação de R$ 1 milhão feita pela Andrade Gutierrez em nome do então vice-presidente Michel Temer azedou de vez o humor nos negócios. O mercado não admite, mas o assunto foi amadurecendo, acendendo, inclusive, a luz amarela no Palácio do Planalto, com o TSE recomendando a não separação das contas.

Na safra de balanços, a Petrobras contrariou a expectativa de lucro de até R$ 1 bilhão e registrou prejuízo de R$ 16,5 bilhões no terceiro trimestre deste ano, a terceira maior perda trimestral da história da companhia neste segundo trimestre sob o comando de Pedro Parente. O resultado é mais que quatro vezes fletiu perdas em ativos e investimentos de R$ 15,7 bilhões, após a petrolífera fazer uma "limpeza" em seu balanço.

A cotação do dólar e do barril do petróleo também pesaram no desempenho financeiro. Ainda na safra brasileira de balanços, destaque para os números trimestrais de BM&FBovespa e Cesp, após o fechamento local. No calendário de indicadores, a agenda doméstica está vazia.

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