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Tensão no front


As incertezas com os rumos da política monetária global continuam trazendo instabilidade aos mercados financeiros. As bolsas europeias e asiáticas recuam pelo sexto dia seguido, ao passo que as ações e moedas de países emergentes escorregam pela quinta sessão, com o preço do barril de petróleo abaixo de US$ 44 elevando as preocupações quanto à disposição dos bancos centrais de usar ferramentas para estimular o crescimento econômico.

O maior temor dos investidores é de que os principais BCs do mundo não adotem novas ações sem precedentes. Ao contrário, a deflagração do processo de aumento dos juros nos Estados Unidos pode culminar na retirada dos estímulos monetários em vigor em outras regiões, enxugando a liquidez pelo mundo.

Hoje é a vez do BC da Inglaterra (BoE) decidir sobre o juro inglês, que deve seguir no mínimo histórico de 0,25%. O anúncio será feito às 8h e os mercados financeiros querem saber se a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) resultou em alguma mudança de estratégia da autoridade monetária em relação à adoção de estímulos à economia. Por ora, a libra esterlina está de lado, assim como a Bolsa de Londres.

O fato é que desde a eclosão da crise de 2008, os mercados ficaram cada vez mais dependentes dessa injeção artificial de recursos. Mas a inundação do mundo com dinheiro fácil mostrou pouca eficácia na recuperação da economia global, que segue lenta e desigual, e realçou a vulnerabilidade de vários países, dependentes ou não de commodities.

Aí, ficou a dúvida sobre quanto tempo mais a torneira dos BCs seguirá aberta. Nesse ambiente, os investidores mantêm a cautela e o ajuste de posição, o que explica a recente volatilidade dos negócios. Tudo começou quando o presidente do BC da zona do euro (BCE), Mario Draghi, minimizou a necessidade de mais estímulos e o presidente do BC japonês (BoJ), Haruhiko Kuroda, descartou a redução do que já foi adotado, ao mesmo tempo em que dirigentes do Federal Reserve elevaram o tom quanto ao inevitável aperto monetário no EUA.

A probabilidade de a taxa básica norte-americana subir ainda neste ano está em 55% e os dados econômicos nos EUA podem calibrar as apostas quanto ao momento exato em que esse movimento pode acontecer. A agenda de indicadores do país ganha força hoje e traz como destaque as vendas no varejo em agosto.

Após a estabilidade do comércio no mês anterior, a previsão é de queda de 0,1% no mês passado, com as férias de verão (no Hemisfério Norte) ainda penalizando o desempenho do setor. Os dados serão conhecidos às 9h30. No mesmo horário, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego e os índices de atividade na Filadélfia e em Nova York em setembro.

Depois, às 10h15, é a vez da produção industrial nos EUA no mês passado, quando também deve ter recuado. Por fim, às 11h, têm os indicadores de estoques em julho.

À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiam ganhos, ao passo que o dólar ganha terreno ante os rivais. O destaque fica com o avanço da moeda dos EUA em relação ao peso mexicano e ao dólar neozelandês. Nas commodities, o petróleo segue em queda, diante do temor de que o excesso de oferta irá aumentar.

Já no calendário doméstico, destaque apenas para o primeiro IGP do mês, o IGP-10, às 8h. O indicador deve apagar totalmente a queda de 0,27% registrada em agosto e subir 0,43% em setembro.

Assim, as atenções dos negócios locais devem seguir voltadas ao cenário externo, mas sem descuidar da cena política. A cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha aumentou o risco de uma delação premiada, o que poderia afetar negativamente os aliados, o PMDB e o governo Temer. Porém, a denúncia aceita ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviu para desviar o foco do noticiário.

As manchetes se voltam, agora, para os crimes do "comandante máximo" do esquema de corrupção na Petrobras em detrimento das manobras do ex-deputado. A equipe de Temer acredita que as denúncias da força-tarefa da Lava Jato - sem provas, mas com convicção - podem enfraquecer os protestos contra o governo, facilitando o plano de votar as medidas do ajuste fiscal em breve. Tem-se, então, que é o exterior, os riscos políticos e as incertezas fiscais que ditam o rumo dos negócios hoje.


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