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Mercados pedem calma


A derrocada nos mercados financeiros mostra sinais de abrandamento hoje. Após uma forte onda vendedora (selloff) em ações, bônus e commodities, deixar os investidores sem ter onde se esconder nos últimos dias, os negócios fazem uma pausa na correção recente dos preços dos ativos. Ainda assim, permanecem as expectativas por menos estímulos monetários pelo mundo e as incertezas em relação à capacidade dos bancos centrais em revigorar o crescimento econômico por meio da liquidez sem precedentes de recursos.

Os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiam uma recuperação hoje, assim como as principais bolsas europeias, que têm ganhos tímidos, à medida que os preços das commodities e das moedas correlacionadas se estabilizam. O barril do petróleo volta a ser negociado acima de US$ 45, ajudando as ações das petrolíferas, ao passo que a retomada do minério de ferro tenta impulsionar as mineradoras. Na Ásia, porém, houve um contágio da queda dos mercados do Ocidente no dia anterior, pesando em Xangai e Tóquio.

Já nas moedas, o dólar australiano, o peso mexicano e o rand sul-africano avançam ante o dólar, o que deve influenciar no comportamento do real brasileiro. Ontem, o Banco Central local mostrou certo desconforto com a cotação da moeda norte-americana acima de R$ 3,30, ao reduzir pela metade a oferta do lote para a compra de dólares no mercado futuro no chamado leilão de swap cambial reverso, o que deve evitar uma valorização forte do dólar.

A questão é que a volatilidade voltou a reinar nos mercados, após os sinais de que o Federal Reserve está ponderando a possibilidade de apertar os juros nos Estados Unidos em um momento em que os bancos centrais da zona do euro (BCE) e do Japão (BoJ) começam a questionar a eficácia de estímulos sem precedentes, mostrando não terem pressa em afrouxar ainda mais a política monetária nessas regiões.

Os próprios investidores passaram a perder confiança na habilidade dos BCs em reanimar a economia, aumentando a inflação, e percebem que há um limite em quanto os programas de flexibilização monetária podem render. Com isso, as atenções se voltam às decisões do BoJ e do Fed, daqui a uma semana. Do lado japonês, é grande a chance de o juro seguir negativo, sem ampliar o programa de recompra; enquanto a decisão nos EUA traz dúvidas.

Se a fala da diretora do Fed, Lael Brainard, ajudou a desfazer o senso de urgência em relação ao aperto monetário norte-americano, a declaração também realçou a falta de consenso entre os membros votantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) quanto ao momento exato em que uma nova alta deve ocorrer. Assim, espera-se que a sinalização da necessidade (e iminência) do aumento dos juros venha do placar da decisão deste mês.

A expectativa dos investidores é de que a taxa básica só irá subir em 0,25 ponto porcentual antes do fim do ano se mais integrantes se juntarem a Esther George, optando por um aumento dos juros durante a votação. Na última reunião, em julho, ela foi a única dissidente e somente uma mudança nos votos do encontro de setembro pode ser capaz de convencer o mercado financeiro de que o movimento está perto de acontecer.

Ainda assim, os níveis extremamente baixos da inflação nos EUA e os dados erráticos sobre a atividade no país elevam as dúvidas quanto à eficácia de um eventual próximo passo do Fed. Mas a agenda econômica segue fraca hoje, com poucas pistas sobre a situação real da maior economia do mundo e trazendo apenas o índice de preços de produtos importados (9h30). Na Europa, saem a produção industrial na zona do euro e a taxa de desemprego no Reino Unido, logo cedo.

No Brasil, o calendário doméstico também está esvaziado, trazendo somente os números semanais do fluxo cambial (12h30), e abrindo espaço para os mercados continuarem a computar o chamado “risco-Cunha”. A goleada no placar de segunda-feira que levou à cassação do mandato do ex-presidente da Câmara, por 450 votos a 10, pode abrir um novo período de tensão na política, já que o agora ex-deputado deu sinais de que pode retaliar.

Os bastidores revelam que Cunha teria dossiês capazes de derrubar vários personagens do governo Temer, com uma possibilidade, ainda que pequena, de o próprio presidente Michel Temer sequer terminar o mandato-tampão, até 2018. Os comentários de Cunha logo após a votação na Câmara mostram que ele está disposto em dar o troco, fazendo ameaças veladas e queixando-se de ter sido abandonado pelo PMDB.

Longe de ser uma página virada, a cassação de Cunha traz riscos consideráveis aos planos do Palácio do Planalto, de pular para um novo capítulo, colocando em pauta as votações no Congresso em relação ao ajuste fiscal, com ênfase, neste primeiro momento, no aumento da idade mínima para aposentadoria e no teto para os gastos públicos. Porém, a instabilidade política que varre o país há vários meses demonstra os claros interesses envolvidos no processo - inclusive nessas medidas polêmicas.

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