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Fim de festa?


Sem estímulo, sem paz. A onda vendedora (selloff), que começou na última sexta-feira nos mercados globais, tem continuidade nesta segunda-feira, em meio às preocupações dos investidores de que os principais bancos centrais do mundo estão questionando os benefícios de afrouxar a política monetária. As bolsas despencam, as commodities desabam, ao mesmo tempo em que o dólar se fortalece.

As especulações de que o Federal Reserve irá elevar a taxa de juros nos Estados Unidos, combinada com a menor disposição dos bancos centrais da zona do euro (BCE) e do Japão (BoJ) de lançar novas ações, reduzem o apetite por risco. Os mercados emergentes registram o maior tombo desde junho, assim como as bolsas da Ásia e da Europa, que têm as perdas mais elevadas desde a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

Em Nova York, os índices futuros têm queda acelerada, contaminados pela queda do barril de petróleo para a faixa de US$ 45, enquanto o níquel é negociado nos menores níveis em quatro semanas. Entre as moedas, o dólar tem ganhos generalizados, a exceção do iene. Já o won sul-coreano tem o pior desempenho, ainda afetado pelo teste nuclear no país vizinho. Nos juros, o rendimento da T-note de 10 anos sobe a 1,69%.

Esse movimento global de aversão ao risco foi desencadeado por uma maior probabilidade de aumento dos juros norte-americano, diante do tom mais duro ("hawkish") espalhado na fala de vários dirigentes do Fed, que vêm tentando convencer o mercado da necessidade de um aperto monetário gradual nos EUA, sob o risco de superaquecimento da economia. Hoje, a diretora do Fed Lael Brainard, tida como uma oponente da alta da taxa no ano passado, discursa.

Qualquer comentário mais duro na fala dela tende a elevar a probabilidade de um aperto monetário no EUA, seja agora em setembro, em novembro (e) ou só em dezembro. Por enquanto, as apostas giram em torno de 30%. Também são esperados os discursos de outros dois diretores regionais - Dennis Lockhart (da distrital de Atlanta) e Neel Kashkari (do Fed Minneapolis). Depois, o Comitê do Fed entra em período de silêncio, por causa da reunião deste mês, nos dias 20 e 21.

Os mercados domésticos devem ser afetados duramente pela performance externa, um dia após o dólar registrar a maior alta desde maio e a Bovespa, a maior queda porcentual desde o início de fevereiro. Além de sentir os impactos do cenário internacional, os investidores também absorvem os desdobramentos na cena política, depois de novos protestos contra o governo Temer na Avenida Paulista.

Sem a repercussão da onda de violência e da mobilização dos manifestantes pelos grandes veículos de comunicação, os atos contrários ao presidente Michel Temer devem ser colocados em segundo plano pelos negócios locais hoje. Com isso, as atenções se voltam para o futuro do deputado Eduardo Cunha, que pode ser definido hoje.

Quase 11 meses após o início da tramitação do processo contra ele, a Câmara deve votar hoje sobre o afastamento definitivo do cargo e a perda de direitos políticos. O placar da imprensa aponta para um total de votos amplamente favorável à cassação do mandato, somando mais de 270 deputados, dos 257 necessários. A dúvida, porém, é se haverá quórum suficiente na sessão.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem dito que colocaria a cassação em votação com uma presença em torno de 420. Por mais que a votação de hoje seja “favas contadas”, devendo ter pouco impacto sobre os mercados domésticos, a convocação da sessão será um termômetro importante para avaliar se haverá a quantidade mínima obrigatória de parlamentares no Congresso para apreciar as medidas de interesse do governo.

O receio de que os atos contra Temer nas ruas possa crescer, o governo descarta qualquer apoio à tentativa de evitar a cassação do deputado afastado e já mira a próxima pauta de votações. Afinal, setembro está chegando à metade do mês e faltam poucas semanas para as eleições municipais, o que tende a esvaziar o Congresso, trazendo dúvidas quanto à evolução do ajuste fiscal nas próximas semanas.

O Palácio do Planalto espera entregar as propostas de reforma da Previdência e trabalhista antes do fim de setembro. Apesar de toda a polêmica em relação à jornada diária de 12 horas e do aumento da idade mínima de aposentadoria para as mulheres, o governo vê essas opções como a solução mais viável, ao invés de carregar toda a sociedade com uma alta de impostos.

A expectativa do mercado é de que esse cenário tenha maior clareza inda neste mês, seja em relação às medidas a serem adotadas, seja em relação às possíveis chances de aprovação. Por isso, a votação do Cunha hoje é importante, tirando esse “bode da sala” e abrindo caminho para o ajuste das contas públicas.

No entanto, pode ser um erro subestimar o ex-todo-poderoso presidente da Câmara. Nos bastidores, sabe-se que Cunha tem potencial para retaliar integrantes do PMDB e de outros partidos aliados. Além disso, nesta semana, a delação do empresário Marcelo Odebrecht deve ser assinada pela Procuradoria-Geral da República. Na lista, fala-se em mais de 100 políticos envolvidos nos esquemas de caixa dois da empreiteira.

À espera dos desdobramentos na cena política, os investidores recebem poucos indicadores econômicos. Hoje, a Pesquisa Focus do Banco Central (8h25) não deve trazer grandes alterações nas projeções para inflação, câmbio, juros e PIB. Amanhã, saem as vendas do comércio varejista em julho e, na sexta-feira, é a vez dos números do setor de serviços.

No exterior, os mercados financeiros também entram em compasso de espera pela reunião do Federal Reserve, na semana que vem. O destaque fica com o índice de preços ao consumidor (CPI) em agosto, na sexta-feira, que pode sinalizar as chances de pressão inflacionária no varejo.

No mesmo dia, sai o índice de sentimento do consumidor norte-americano neste mês. Um dia antes, serão conhecidas as vendas no varejo e a produção industrial dos Estados Unidos, ambas referentes ao mês passado, além da inflação ao produtor (PPI) em agosto.

Esses mesmos dados sobre a indústria e o comércio referentes à China serão conhecidos, na virada de hoje para amanhã, antes das festividades pelo festival de meio outono, a partir de quinta-feira. Na zona do euro, saem números sobre o desemprego (amanhã), a atividade industrial (quarta-feira) e a inflação no varejo (quinta-feira). Hoje, o calendário externo está esvaziado.

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