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Quarta decisiva


Ficou para a manhã de hoje a votação final do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ampliando a relevância dos eventos e divulgações no Brasil nesta que promete ser uma “Super Quarta-feira”. Além da esperada decisão sobre o afastamento definitivo de Dilma, os investidores também aguardam os números do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano e o anúncio sobre a taxa básica de juros (Selic), agitando os negócios neste último pregão de agosto.

De um modo geral, a aposta dos mercados domésticos é de que Dilma cai, o PIB também e o juro fica estável. Se confirmado, esse prognóstico pode disparar ajustes nas carteiras, em um típico movimento de fim de mês. O destaque é a sessão de julgamento no Senado, que será retomada hoje às 11h, e deve se encerrar antes do meio-dia, após o anúncio do placar da votação em relação à cassação do mandato da presidente e à proibição de ocupar cargos públicos por oito anos.

Pouco antes da fase final do impeachment, às 9h, saem os números da economia brasileira no trimestre passado. A expectativa é de que o país tenha encolhido pelo sexto trimestre consecutivo, em -0,5% entre abril e junho em relação aos três primeiros meses de 2016.

Na comparação anual, o PIB deve cair pelo nono trimestre, em -3,5%, porém em um ritmo menos intenso que o recuo apurado no primeiro trimestre de 2016 também em relação a igual período de 2015 (-5,4%). Depois, a partir das 18h, passada a trama do impeachment, o Banco Central deve anunciar a manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano, pela nona vez consecutiva e no maior nível em 10 anos.

Entre um anúncio e outro, chama atenção também a divulgação dos números do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), cujo prazo final de entrega ao Congresso termina hoje. A expectativa é de que a proposta contemple uma arrecadação maior com as receitas de concessões, fruto de um programa de privatização mais ousado que o previsto antes.

Mas deve ser mesmo na votação do processo contra o mandato de Dilma que as atenções estarão voltadas. Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a decisão de adiar para hoje esta última etapa foi para atender a um rito específico e dar um espaço em relação às fases anteriores, concluídas na madrugada após o debate entre acusação e defesa, seguido dos discursos de senadores.

Para ser aprovado, o impeachment precisa ter o apoio de ao menos 54 parlamentares. E é exatamente no placar da votação que os investidores estão de olho. Uma ampla margem de votos a favor do processo dá sinais do tamanho da base aliada que Michel Temer terá, terminada a interinidade. Esse bloco de sustentação é fundamental para avaliar o caminho que o então presidente efetivo encontrará no Congresso para aprovar medidas impopulares.

A partir daí, Temer não terá mais desculpa para não começar a fazer o que vem sendo prometido – e, principalmente, para deixar de fazer nos bastidores o contrário do que vem sendo dito em público. Para o mercado, agora é preciso colocar em prática o ajuste fiscal, reduzindo os gastos e controlando as despesas, a fim de equilibrar o orçamento, restaurar a credibilidade e voltar a crescer.

Aliás, Temer deve fazer uma declaração breve hoje, por volta da hora do almoço, quando a votação do impeachment já deve ter sido encerrada. Antes de embarcar para a China, onde acontece o encontro do G-20, no início de setembro, ele ainda terá de ser empossado no Congresso, em uma solenidade rápida, de meia hora.

Mas o “teste de fogo” da governabilidade de Temer está na votação da proposta (PEC) que limita o aumento do gasto público à variação da inflação, impactando saúde e educação. A aprovação dessa emenda será decisiva para o comportamento dos mercados domésticos, que se anteciparam à mudança de governo, precificando êxito nas medidas de austeridade.

Porém, os negócios locais podem ter uma intensa realização de lucros, caso a nova gestão não consiga instituir tão facilmente as propostas. A outra peça-central de Temer é a reforma da Previdência, mas é muito difícil que tanto uma quanto outra sejam aprovadas antes das eleições municipais de outubro.

É válido lembrar que boa parte da valorização da Bovespa e do real reflete o movimento global de busca por rendimentos atraentes, do qual o Brasil é um dos maiores beneficiários. Porém, esse ávido apetite por risco pode estar com os dias contados, com os mercados reforçando as especulações de que o Federal Reserve deve apertar o custo do empréstimo nos Estados Unidos em breve. E essa preocupação tende a influenciar os negócios locais.

As apostas de aumento da taxa de juros norte-americana fortalecem o dólar nesta manhã, que é negociado nos maiores níveis em quase um mês ante os rivais, e elevam o rendimento dos títulos soberanos dos EUA (Treasuries). O papel de dois anos registra o maior avanço desde novembro, reduzindo a diferença ante o prêmio do T-bond de 30 anos para o nível mais baixo desde janeiro de 2008, enquanto a taxa da T-note de 10 anos tem o ganho mais alto desde novembro. Tudo isso diante da possibilidade de 34% de aperto monetário já em setembro.

A expectativa dos investidores é de que o relatório oficial do mercado de trabalho nos EUA (payroll), na sexta-feira, seja decisivo na avaliação sobre quanto a maior economia do mundo vivenciará um novo aumento dos juros. Um número bom e forte sobre a geração de emprego nos EUA deve abrir espaço para o Fed se mover no próximo mês. E poucos esperam um dado frustrante no payroll de agosto, como observado em maio, quando um saldo muito pequeno de novas vagas eliminou a possibilidade de que a primeira alta dos juros neste ano ocorresse em junho – o que, de fato, acabou não acontecendo.

Nesse sentido, a agenda norte-americana traz como destaque a pesquisa ADP sobre a geração de postos de trabalho no setor privado do país em agosto (9h15). O dado é tido como uma prévia do que pode trazer o payroll, na sexta-feira.

Ainda nos EUA, saem o índice sobre a atividade industrial na região de Chicago (10h45) e novos números sobre o setor imobiliário (11h). Outro ponto de relevo são os discursos dos diretores das distritais de Boston, Chicago e Minneapolis do Fed. À espera desses eventos, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d'água.

À noite, a China divulga dados sobre os setores da indústria e de serviços. As principais bolsas asiáticas encerram a sessão sem uma direção definida, mas o índice MSCI da região Ásia-Pacífico registrou o segundo mês seguido de valorização. Na Europa, as principais bolsas europeias estão de lado, pressionadas pelas ações dos bancos alemães, após relatos de fusão entre o Deutsche Bank e o Commerzbank.

Ainda assim, o índice Stooxx Europe 600 deve subir em agosto, no quinto mês de ganhos dos últimos seis. Logo cedo, a zona do euro informa a leitura preliminar deste mês dos preços ao consumidor (CPI) e a taxa de desemprego em julho. Ambos os dados podem calibrar as chances de novos estímulos na região da moeda única por parte do Banco Central Europeu (BCE).


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