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O Dia D


A exaustiva defesa da presidente afastada Dilma Rousseff ontem, no Senado, não passou de mera formalidade e, após mais de 15 horas, o interrogatório serviu apenas para reforçar no mercado doméstico a expectativa de que o resultado para o afastamento definitivo está assegurado. A votação final, por meio de placar eletrônico, deve acontecer na virada de hoje para amanhã e os 59 senadores devem manter seus votos pela cassação do mandato dela, abrindo caminho para que o interino Michel Temer assuma o poder de vez, até 2018. Dilma deve obter cerca de 20 votos a favor, de 28 necessários para arquivar o processo.

A aposta nesse placar já impulsionou a Bovespa ontem, garantindo à bolsa de valores brasileira a maior valorização porcentual acumulada em 2016 no mundo, com ganhos acima de 60%, em termos dolarizados. O dólar também se beneficiou da expectativa de que Dilma será retirada permanentemente do cargo nesta semana, dando efetividade à nova administração para organizar as contas públicas e restaurar o crescimento econômico.

Passada a trama do impeachment, os investidores se voltam às discussões acerca do ajuste fiscal, que, para o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), é condição essencial para o futuro do país. Segundo ele, a aprovação da PEC de teto dos gastos públicos por 20 anos é a base para a realização de outras reformas, que também envolvem um projeto de longo prazo.

Mas, antes dessa proposta de emenda à Constituição ser votada, é preciso apreciar ainda os pontos remanescentes da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do ano que vem. O prazo final para aprovação da LDO de 2017 é amanhã, no mesmo dia da conclusão do processo de impeachment de Dilma. De quebra, o Comitê de Política Monetária (Copom) termina a reunião de dois dias, que começa hoje, para decidir sobre a atualização da taxa Selic.

Antes desse que promete ser o “Dia D” para os mercados brasileiros, a agenda econômica desta terça-feira está carregada no Brasil. Às 8h, sai o resultado de agosto do IGP-M, que deve seguir em desaceleração, apesar da deflação menor nos preços do atacado.

Depois, às 9h, é a vez da taxa de desocupação no trimestre até julho, que deve novamente renovar o nível recorde, com o desemprego no país chegando a 11,5% e atingindo mais de 11,6 milhões de pessoas. Por fim, à tarde, o Tesouro informa o resultado primário do governo central em julho (15h30), que deve mostrar uma deterioração das contas públicas.

No exterior, saem dados sobre o setor imobiliário nos Estados Unidos em junho (10h) e o índice de confiança do consumidor norte-americano neste mês (11h). Lá fora, os investidores estão ávidos por pistas capazes de definir o momento exato em que o Federal Reserve deve subir a taxa de juros do país, após recentes declarações de dirigentes deixarem completamente em aberto quando ocorrerá um aperto monetário.

A chance de aperto em setembro oscila abaixo de 40%, mas está acima dos 24% visto uma semana antes. Para dezembro, os investidores apostam 61% de chance de o Fed agir. No meio desses dois encontros, tem ainda a reunião de novembro, dias antes das eleições presidenciais norte-americanas.

A grande pergunta em relação ao timing é se a inflação nos EUA irá ganhar tração, ou se continuará rondando níveis baixos, como atualmente. Essa dúvida dá maior ênfase ao relatório sobre o emprego no país (payroll), na sexta-feira. Afinal, somente com a desocupação em baixa é possível haver pressão de demanda nos preços, em meio à maior busca por produtos e serviços.

À espera dos números do mercado de trabalho norte-americano, os mercados internacionais se recuperam, pegando carona no rali da véspera em Wall Street. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão de lado nesta manhã, mostrando fôlego curto para seguir em frente, mas isso não tira o ânimo das praças na Ásia e na Europa, onde prevalece o sinal positivo.

As ações de exportadores são destaque de alta no pregão europeu, com exceção das produtoras de commodities, diante da queda dos preços dos metais básicos. O petróleo, contudo, avança, em meio às apostas de que o cartel da Opep irá decidir a favor do congelamento dos níveis de produção. Mas o barril do WTI segue abaixo de US$ 50.

Essa recuperação do petróleo combinada com o rali em Nova York impulsiona as bolsas e moedas emergentes, que caminham para o maior ganho em mais de uma semana diante do maior apetite por ativos mais arriscados. Os investidores parecem já ter contabilizado a probabilidade de aumento do custo do empréstimo nos EUA, o que, ainda assim, não retira a atratividade pelo prêmio de risco.

Tal sentimento deve encorajar a migração de mais recursos estrangeiros para países em desenvolvimento, como o Brasil, embalando os negócios locais nesse dia de desfecho no front político. A conferir.


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