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Impeachment rouba a cena


A presidente Dilma Rousseff volta hoje ao Congresso, desta vez, afastada do cargo e na última tentativa para defender o mandato para o qual foi eleita até 2018. Acompanhada do principal cabo eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - agora indiciado pela Polícia Federal - a defesa dela durante a sessão do impeachment é o grande evento desta segunda-feira, abrindo com chave de ouro uma semana intensa para os mercados globais.

Enquanto os mercados internacionais ainda ecoam, com menor disposição ao risco, o discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, na sexta-feira passada, que precisou ser decifrado pelo seu vice, o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Stanley Fischer, para que os investidores entendessem a chance real de aumento na taxa de juros dos Estados Unidos; no Brasil, a agenda de indicadores e eventos econômicos é cheia.

A expectativa é de que a economia volte a crescer no segundo trimestre deste ano, o juro básico (Selic) fique estável mais uma vez e os resultados fiscais sigam ruim. Mas é o impeachment que rouba a cena, com Dilma protagonizando hoje a sessão mais tensa nesta reta final do processo.

Os trabalhos no Senado começam às 9h e ela terá 30 minutos para falar, podendo ser prorrogável a critério do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que preside a sessão. Dilma pode optar por responder ou não a perguntas de senadores e, se aceitar, cada parlamentar terá cinco minutos para questioná-la. Ontem, ela afirmou que ficará no plenário "até o horário necessário".

A oposição já montou uma estratégia, mas não acredita que um discurso mais emocional da presidente afastada conseguirá mudar a tendência de um placar a favor do impeachment. Depois, os advogados de acusação e de defesa terão 1h30, cada, para apresentar seus pontos. Na sequência, Lewandowski fará leitura de um relatório resumido, com os fundamentos de ambas as partes. Todo esse processo deve se estender até amanhã, com a votação final, por meio de painel eletrônico, prevista para quarta-feira.

São necessários 54 votos para que Dilma seja afastada definitivamente do cargo e para que o interino Michel Temer seja empossado de vez, rumo ao encontro do G-20, na China, como efetivo. Sem esse número, o processo de impeachment é arquivado e Dilma volta ao cargo, mas na decisão para o afastamento temporário dela, no Senado, foram 59 votos.

Sem qualquer expectativa de mudança no placar favorável à cassação do mandato de Dilma, os investidores não podem descuidar do cenário externo, onde a probabilidade de passos adicionais no processo de normalização monetária nos EUA se fortaleceu desde a última sexta-feira. Em Jackson Hole, a fala de Yellen mostrou-se consistente não só com uma nova alta no juro norte-americano já em setembro, mas também com mais de um aperto neste ano. A mensagem foi entendida, após Fischer "traduzir" o recado, uma vez que a economia está perto dos dois objetivos centrais, de pleno emprego e estabilidade dos preços.

O problema é que Yellen não especificou o momento exato em que o próximo passo pode ser dado. Ainda assim, nas entrelinhas, o Fed deixou claro que, setembro segue vivo no jogo e, se não houver um aumento agora, será em novembro, , dias antes das eleições presidenciais norte-americana, e/ou em dezembro. Na curva implícita, a chance de aumento no próximo mês subiu a 42%, de 22% uma semana antes, ao passo que a probabilidade de aperto no último mês de 2016 já está em 60%.

Os investidores ainda calibram as apostas sobre o caminho de curto prazo das taxas de juro nos EUA e a resposta sobre quando uma nova alta irá acontecer vai depender dos indicadores econômicos. O destaque fica com o relatório oficial do mercado de trabalho norte-americano (payroll), na sexta-feira.

Os números sobre o emprego no país devem ser conclusivos para as apostas em relação a um aumento na taxa de juros norte-americana em setembro, após o discurso duro (“hawkish”) de Yellen. A reunião do Fed, no mês que vem, é uma daquelas em são atualizadas as projeções para as principais variáveis macroeconômicas, seguida de entrevista coletiva de Yellen. Será o evento!

À espera de pistas, os índices futuros das bolsas de Nova York recuam, sendo que os mercados emergentes são os mais afetados pela possibilidade crescente de aumento do custo do empréstimo nos EUA. As bolsas e moedas de países em desenvolvimento perdem vigor, diante do fortalecimento do dólar, que também pesa sobre as commodities.

Na Ásia, sobressaiu a alta de 2,3% na Bolsa de Tóquio, após declarações do presidente do Banco Central japonês (BoJ) reiterar a disposição em adotar estímulos à economia, se necessário, o que realça a divergência entre a política monetária dos EUA e em outros países. Nas demais praças asiáticas, contudo, o sinal negativo prevaleceu. Já na Europa, as principais bolsas também estão no vermelho, apesar de sinalizações vindas do BC da zona do euro (BCE), de que a política monetária precisa ser usada com maior frequência para ajudar a recuperação econômica.


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