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Mundo mira Jackson Hole


Se ontem os investidores não deram muita bola para o primeiro dia do último ato do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, hoje as atenções dos mercados globais se concentram na bucólica cidade de Jackson Hole (EUA). O simpósio econômico que acontece por lá nesta semana é famoso por trazer mensagens importantes de presidentes dos bancos centrais, como quando Ben Bernanke anunciou que o Federal Reserve lançaria uma segunda rodada de estímulos monetários nos Estados Unidos, em 2010. Mas hoje a espera é pela fala da atual presidente do Fed, Janet Yellen.

O discurso de Yellen sobre política monetária, que começa às 11h, pode agitar os negócios pelo mundo. Qualquer comentário dela sobre o cenário econômico norte-americano e sobre o plano de voo do Fed em relação ao processo de normalização dos juros nos EUA será examinado minuciosamente pelos investidores, em busca de pistas sobre se uma nova alta na taxa dos Fed Funds pode acontecer ainda neste ano.

A precificação implícita no mercado já indica 57% de chance de aperto monetário em 2016, possivelmente em dezembro. Mas a decisão do próximo encontro do Fed, em setembro, vai depender do tom do discurso de hoje. Recentemente, os mercados globais foram abalados por declarações de alguns membros votantes do colegiado do Fed, que diminuíram a percepção de que uma alta de juros nos Estados Unidos neste ano seria quase impossível.

Nesse sentido, a fala de Yellen em Jackson Hole é importante para que os investidores tenham noção de quão disseminada é essa visão mais dura (“hawkish”) dentro do Fed. Se ela manter esse tom confiante de outros diretores, a expectativa do mercado quanto a um aumento já no próximo mês tende a subir bem, dos atuais 32% de chance.

Menos de duas horas antes do tão aguardado discurso de Yellen será conhecida a leitura revisada do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre deste ano, que também pode ajuda a consolidar as apostas em relação a um aperto monetário no país. Os números serão conhecidos às 9h30 e a previsão é de uma ligeira revisão em baixa, para uma expansão de 1,1% entre abril e julho, de uma estimativa original de crescimento de 1,2%, na taxa anualizada. Ainda às 11h, sai a confiança do consumidor nos EUA em agosto.

À espera desses eventos e indicadores, o dólar perde terreno ante os rivais, zerando os ganhos acumulados nesta semana, mas com chances de ganhar vigor a depender da luz a ser lançada por Yellen sobre as perspectivas para a taxa de juros norte-americana. De qualquer forma, o ritmo do aperto monetário nos EUA deve continuar sendo lento e gradual, limitando qualquer impacto da moeda.

Entre as commodities, o petróleo se estabiliza na faixa de US$ 47, em meio às especulações de que o cartel de produtores e exportadores (Opep) deve concordar em congelar os níveis da produção, na reunião que acontece no mês que vem. Os metais básicos avançam, em meio à fraqueza do dólar.

Nas bolsas, o sinal negativo prevaleceu na Ásia - com exceção da China, ao passo que as praças europeias também exibem perdas. Destaque para a Bolsa de Londres, que cai menos que as demais bolsas da região, após a confirmação de crescimento de 0,6% do PIB no segundo trimestre deste ano, em linha com a leitura preliminar. Em Wall Street, os índices futuros estão flutuando na linha d'água, em meio à agenda carregada do dia.

No Brasil, o processo de impeachment de Dilma tem continuidade hoje no Senado, o que trava a pauta no Congresso em relação às medidas do ajuste fiscal. As testemunhas voltam a ser ouvidas nesta sexta-feira e os depoimentos das oito pessoas arroladas podem continuar até a madrugada de amanhã. O processo deve seguir até a quarta-feira da semana que vem.

São necessários 54 votos para cassar o mandato de Dilma e pelo menos 28 para evitar o impeachment. Essa segunda possibilidade já nem é mais considerada, com os mercados domésticos mais interessados no que será do governo Temer passada a interinidade e os políticos respirando aliviados de que a “sangria” da Operação Lava Jato será, enfim, estancada.

Afinal, o mês de agosto já está acabando e nenhuma novidade (ou novas fases) sobre as investigações da Polícia Federal sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Ao contrário, já foram suspensas as negociações para a delação premiada do empresário Léo Pinheiro, da OAS, que poderiam incluir o senador Aécio Neves e o ainda presidente interino Michel Temer. Da mesma forma, nada mais se ouviu sobre a delação de Marcelo Odebrecht – aquele tido como o “dono do Brasil” e que planilhava todos os valores pagos a centenas de políticos.

Mas o próprio Temer indicou estar seguro que já tem o mínimo necessário para assumir definitivamente o poder até 2018, explicitando a certeza da vitória. A partir daí, começa uma nova fase do governo e o primeiro a desembarcar da gestão-tampão do PMDB pode ser o PSDB, pois a relação já vem acumulando desgaste, cujo ápice vai depender da votação da proposta (PEC) que estabelece um teto dos gastos públicos.

Os caciques tucanos cogitam uma postura independente, tão logo o impeachment saía de cena, em meio à acusação de que Temer e a legenda dele estão fazendo um “jogo duplo”, prometendo austeridade, mas praticando benesses. Essa dinâmica de aumento de salários aos servidores em meio à necessidade de ajuste fiscal tem causado polêmica e trazido desconfianças quanto à governabilidade de Temer após o impeachment e a aprovação de medidas mais impopulares, como as reformas trabalhista e Previdenciária.

Se o PSDB pular fora do barco, pode recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e investir na ação contra a chapa Dilma-Temer. Nesta semana, técnicos do TSE apontaram suspeitas nas contas da campanha de 2014, dizendo que as empresas financiadoras não comprovaram a prestação de serviços.

Em meio a esses bastidores em Brasília e à espera de Yellen, a agenda econômica local fica em segundo plano. Até porque traz apenas dados sobre o setor da construção civil em agosto (8h). Logo cedo, a Fipe informou que o índice de preços ao consumidor (IPC) na cidade de São Paulo apagou a alta de 0,05% na prévia anterior e registrou queda de 0,03% na terceira leitura deste mês.


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