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Expectativas e incertezas fomentam apostas sobre juros nos EUA


A ata da reunião de julho do Federal Reserve, a ser divulgada à tarde (15h), deixa os mercados financeiros com oscilações estreitas hoje, pois o documento pode servir de lembrete quanto aos riscos de um aumento na taxa de juros norte-americana ainda em 2016. Essa possibilidade de um aperto monetário nos Estados Unidos tende a prejudicar a previsão de entrada de recursos em países emergentes, colocando em risco uma aposta que prevalece no Brasil.

As ações e moedas emergentes caem do maior nível em cerca de um ano e o petróleo é negociado em baixa pela primeira vez em uma semana, nesta manhã, após a chance de alta nos juros dos EUA antes do fim deste ano subir para mais de 50% pela primeira vez desde 23 de junho, quando o Reino Unido decidiu sair da União Europeia (UE). Essa possibilidade renova as forças do dólar, em meio à menor disposição por ativos de risco, e deixa as bolsas na Ásia, Europa e em Nova York no vermelho.

Ontem, um dos diretores votantes no Comitê do Fed (Fomc) alertou que os juros nos EUA podem subir já no mês que vem, pois o mercado de trabalho está aquecido e a economia está em boa forma. William Dudley, da distrital de Nova York, destacou que o mercado está "muito complacente" em relação ao processo de normalização monetária no país, subestimando a probabilidade de aumento no custo de empréstimos.

Essa visão foi reforçada pelo diretor de Atlanta do Fed, Dennis Lockhart, que também vê na aceleração do crescimento econômico norte-americano um espaço para ao menos uma nova alta nos juros dos EUA. Hoje, é esperada a fala de um dos diretores mais conservadores ("hawkish") do Fomc, James Bullard, que também tem direito a voto no Comitê, elevando as incertezas no mercado sobre os próximos passos do Fed.

Esses comentários de diretores do Banco Central dos EUA podem reverter a sensação de bem-estar dos investidores e recolocar as fichas por um aperto dos juros no país em setembro, novembro ou dezembro. Tais apostas tendem a elevar a expectativa pelo tradicional simpósio econômico em Jackson Hole.

A presidente do Fed, Janet Yellen, deve fazer um pronunciamento no evento na sexta-feira da semana que vem e esperam-se sinais contundentes em relação à possibilidade de uma nova alta dos juros norte-americanos ainda neste ano. É bom lembrar que, na gestão anterior, o antecessor Ben Bernanke aproveitou o simpósio na bucólica cidade do Wyoming para anunciar a terceira e última rodada de afrouxamento quantitativo, o chamado QE3.

No Brasil, logo cedo tem o primeiro IGP do mês, o IGP-10 (8h), que deve registrar deflação em agosto, refletindo a queda dos produtos agropecuários. Mas são os números semanais do fluxo cambial (12h30) que chamam a atenção na agenda doméstica do dia.

Afinal, apesar das apostas de uma enxurrada de capital externo no Brasil, o saldo entre a entrada e a saída de dólares no país está negativo em agosto e também no acumulado do ano. Esse déficit reflete o rombo de mais de US$ 40 bilhões na conta financeira (moeda, ações e títulos), que neutraliza o saldo positivo da balança comercial em 2016.

Tal comportamento põe em xeque a justificativa do mercado, de que a valorização recente do real está atrelada ao cenário externo e às políticas suaves (“dovish”) dos principais bancos centrais globais, favorecendo os emergentes. Em verdade, a depreciação do dólar está mais relacionada à posição dos bancos, que vem sendo monitorada de perto pelo Banco Central.

As instituições financeiras nacionais vêm apostando pesado na queda da moeda norte-americana em antecipação à expectativa de entrada de dólares, via investimentos produtivos e especulação nos ativos (ações e renda fixa), assim que for consolidado o impeachment da presidente Dilma Rousseff, no fim deste mês. Trata-se, portanto, de um movimento mais apoiado em expectativas do que em fundamentos econômicos.

Porém, o risco de o câmbio ser desarmado antes das políticas fiscal e monetária é grande, trazendo o dólar para níveis mais altos, ainda mais se cresceram as chances reais de uma nova alta nos juros dos EUA em 2016. Até por isso, os investidores pressionam por uma definição em Brasília, pois um encaminhamento de medidas para equilibrar as contas públicas é indispensável para o Banco Central começar a cortar o juro básico (Selic).

Contudo, as preocupações fiscais voltam a pesar nos negócios locais, em meio à pressão sobre o presidente interino Michel Temer. Afinal, na última segunda-feira teve início a campanha para as eleições de outubro, que coloca mais pedras no sapato de Temer, com deputados e senadores esvaziando o Congresso e deixando de votar a pauta fiscal do governo. Ao mesmo tempo, Estados e servidores públicos ampliam a lista de demandas para garantir o apoio político.


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