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Dia de agenda cheia


A sexta-feira está carregada, em termos de indicadores e eventos econômicos, e começa com dados piores que o esperado na China, onde a atividade desacelerou, mostrando que a recente estabilização econômica perdeu vigor. Ainda assim, os mercados financeiros caminham para uma semana de ganhos, com a falta de brilho das principais economias elevando a confiança entre os investidores de que os bancos centrais manterão estímulos sem precedentes, adiando um aperto monetário nos Estados Unidos.

No Brasil, o balanço da Petrobras divide as atenções com uma entrevista do presidente interino Michel Temer. A estatal petrolífera registrou lucro líquido de R$ 370 milhões no segundo trimestre deste ano, o que representa uma queda de 30% em relação aos ganhos obtidos em igual período do ano passado, mas também uma interrupção de três trimestres consecutivos de prejuízo.

Segundo Temer, no dia 25 de agosto será divulgada uma lista de empresas que serão privatizadas. Ele disse que concorda com a proposta de retirada da Petrobras da obrigatoriedade de participar na exploração de cada campo do pré-sal, mas discorda da total eliminação da exigência de conteúdo nacional na atividade. Para ele, é preciso ter liberdade para adotar as medidas que coloquem o país nos trilhos.

A Bovespa deve reagir à essa combinação de notícias hoje, um dia após recuperar a marca dos 58 mil pontos e fechar no maior nível desde setembro de 2014, o que abre espaço para reaver, em breve, a faixa dos 60 mil pontos. O dólar, por sua vez, deve sentir a pressão de um novo leilão de swap cambial reverso, equivalente à compra de dólares no mercado futuro, totalizando 15 mil contratos (cerca de US$ 750 milhões).

Também na entrevista, que durou uma hora e meia, Temer admitiu que a apreciação da taxa de câmbio já é uma preocupação e que a orientação do governo é de buscar um "equilíbrio", via atuação do Banco Central. Segundo ele, para ter uma produção nacional eficiente, o dólar não pode cair mais.

Os mercados domésticos, então, devem operar em cima desses dois grandes eventos, tendo como amparo o sinal positivo que prevalece entre os ativos de risco no exterior. O índice mundial do MSCI é negociado no maior nível em um ano, impulsionado pelas bolsas em Nova York. Ontem, os índices acionários norte-americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq superaram as máximas históricas, juntos, pela primeira vez desde 1999.

E, enquanto esse rali em Wall Street continuar, o otimismo nos negócios com risco tende a permanecer, diante da percepção de que as condições monetárias anormais nos BCs desde a Europa até a Ásia, chegando na Oceania, irão alimentar esse apetite por rendimentos elevados. Essa visão se equivale à tese de que quanto menos o mundo crescer, mais estímulos serão lançados.

Nem mesmo a alta de 6% da produção industrial chinesa em julho combinada com o avanço de 10,2% das vendas no varejo chinês reduzem o ímpeto das bolsas e commodities. Os números vieram piores que o previsto, assim como o aumento de 8,1% dos investimentos em ativos fixos nos sete primeiros meses de julho.

A Bolsa de Xangai fechou em alta de 1,60% hoje, apesar da redução na estimativa de crescimento da segundo maior economia do mundo neste terceiro trimestre, após os dados do mês passado. Na Europa, a expansão de 0,4% da economia alemã no segundo trimestre deste ano, desacelerando-se ante o trimestre anterior, mas menos que a previsão (+0,2%), tenta embalar as bolsas da região.

Logo mais, a zona do euro publica a leitura revisada do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano, que pode vir melhor que a prévia e apontar expansão acima de 0,3% em relação aos três primeiros meses de 2016, após os números melhores que o esperado da maior economia da região da moeda única. Também será anunciada a produção industrial em junho.

Nos Estados Unidos, às 9h30, saem as vendas no varejo no mês passado, que devem ter desacelerado o ritmo de alta, mas crescido pelo quarto mês seguido, mostrando que os consumidores seguiram comprando no início deste segundo semestre, após os gastos com consumo no país registrarem o maior avanço trimestral desde 2014.

No mesmo horário, sai o índice de preços ao produtor (PPI), que deve seguir sinalizando a ausência de pressão inflacionária no atacado. Depois, às 11h, é a vez do dado preliminar sobre a confiança do consumidor norte-americano em agosto.

O calendário doméstico traz o Banco Central em destaque. Logo cedo, a autoridade monetária informa o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que deve ter ficado estável em junho ante maio, em mais um sinal de que a economia brasileira ao menos parou de cair ao final do primeiro semestre deste ano, diante de uma redução da queda da atividade no segundo trimestre.

Na comparação com junho de 2015, porém, deve ter ocorrido uma queda de 4,5%. Os números efetivos serão conhecidos às 8h30. Pouco depois, às 9h, as atenções se voltam para o discurso do presidente do BC, Ilan Goldfajn, na abertura do seminário sobre riscos, estabilidade financeira e economia bancária, em São Paulo.

Ao final do evento, por volta das 17h, é esperado um discurso do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ambos devem mostrar um discurso alinhado, mantendo o tom duro em relação à política fiscal e às medidas de ajuste para melhorar a trajetória das contas públicas.

Mais que isso, as principais peças da equipe econômica devem reforçar as apostas de que, passada a interinidade do governo Temer, haverá uma postura mais austera. O mercado financeiro espera o fim dessas concessões às demandas políticas, tão logo seja concluído o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Resta saber como ficará a base de apoio no Congresso e nas demais esferas do Poder, caso a troca de favores acabe.


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