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Juros na Inglaterra e fiscal no Brasil impõem cautela nos mercados


A aversão ao risco perde espaço com a recuperação nos preços do barril de petróleo, que volta a ser negociado acima de US$ 40 o barril em Nova York, mas dá lugar à cautela nos mercados financeiros, nesta véspera de divulgação do relatório oficial sobre o emprego nos Estados Unidos (payroll). A expectativa pela decisão de juros na Inglaterra (8h) também inibe os negócios no exterior, enquanto no Brasil a questão fiscal continua pesando.

Após o Banco Central inglês (BoE) surpreender no mês passado e optar pela manutenção dos juros em 0,5% ao ano, o mercado financeiro renovou as apostas e prevê novamente um corte de 0,25 ponto porcentual - o primeiro desde 2009 - para o mínimo histórico de 0,25%, e mais estímulos monetários, como o relançamento do programa de compra de bônus, a fim de conter os impactos do chamado Brexit. A questão é que novas surpresas não podem ser descartadas.

Há sinais de que o BoE deveria se preocupar mais com um “boom” econômico após a decisão britânica de sair da União Europeia (UE) do que com uma deterioração dos fundamentos, pois ainda não há qualquer evidência de que a economia do Reino Unido está em profunda desaceleração. Ao contrário, a política fiscal do governo ficou mais frouxa, elevando os gastos, e a libra esterlina perdeu cerca de 10% em valor.

Assim, qualquer decisão de lançar mais estímulos pode ser um grande erro, trazendo pressão inflacionária adicional e reduzindo ainda mais o consumo, sendo que a atividade do setor de serviços no Reino Unido já está no nível mais baixo em sete anos. À espera da decisão do BoE, a libra cai ante o dólar e a Bolsa de Londres exibe ligeiras perdas, na contramão do sinal positivo que tenta prevalecer na Europa.

As demais bolsas da região ensaiam alta, recuperando-se da queda da véspera, apoiadas nas ações de mineradoras e petrolíferas. A valorização das bolsas em Wall Street, ontem, e na Ásia, nesta madrugada também ajuda. Tóquio subiu pouco mais de 1%, enquanto na China o avanço foi mais limitado e não passou de 0,5%. Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York tentam seguir no azul, mas o fôlego é curto para seguir em frente.

Também ajuda a melhorar o sentimento nos mercados a recuperação nos preços do petróleo, que estende os ganhos hoje pelo segundo dia, após a maior queda nos estoques de gasolina nos Estados Unidos desde abril acalmar a preocupação dos investidores quanto a um excesso de oferta da commodity. Já os metais básicos recuam, diante do temor de menor demanda por insumos na China.

O dólar, por sua vez, ganha terreno ante os rivais, nesta véspera do payroll, que pode dar pistas sobre os próximos passos de política monetária do Federal Reserve. Ontem, o presidente da distrital de Chicago do Fed, Charles Evans, disse que um aumento nos juros norte-americanos "pode ser apropriado neste ano". Porém, as apostas de uma nova alta até dezembro estão abaixo de 40%, desde os dados mais fracos do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre de 2016.

Já as moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities se apoiam na recuperação do petróleo e também avançam. O destaque fica com o dólar australiano e o ringgit malaio, que interrompe quatro dias de queda. A rupia indiana também se recupera.

Na agenda econômica do dia, nos EUA, saem novos números do mercado de trabalho, como o relatório Challenger sobre o corte de vagas (8h30) e os pedidos semanais de auxílio-desemprego (9h30), além das encomendas à indústria em junho (11h). No Brasil, o calendário está mais fraco e traz apenas os dados da Anfavea sobre produção e vendas de veículos em julho (11h20).

Mas o ambiente de maior cautela no exterior encontra terreno fértil por aqui, agora que o mercado doméstico começa a perder a paciência com o governo Temer. As incertezas com o ajuste nas contas públicas parece frear o otimismo dos investidores, principalmente após o Congresso encerrar a sessão da última quarta-feira sem votar a meta fiscal de 2017 e sem avançar no debate da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita os gastos.

Em verdade, as medidas efetivas do ajuste fiscal parecem estar demorando um pouco mais do que o esperado e tampouco parecem caminhar da forma como se imaginava, diminuindo as expectativas e gerando dúvidas em relação à que veio o governo que não foi pego de surpresa quando chegou ao poder. As sucessivas concessões feitas pelo presidente interino Michel Temer mostra que o viés segue expansionista, contaminando as contas também para o ano que vem e elevando o risco de que a torneira continue aberta.

E as pressões pelas trocas de favores vão continuar enquanto o impeachment da presidente Dilma Rousseff não sai. Até por isso, Temer vem tentando acelerar a votação do processo no Senado. A questão é que nada garante que, cassados os direitos políticos de Dilma, o governo conseguirá endurecer as negociações – ou mesmo fechar a torneira, pois a base aliada é grande, mas não é sólida.

Afinal, restarão apenas três meses para aprovar as principais medidas – incluindo aí as reformas trabalhista e previdenciária – com as eleições municipais, em outubro, no meio do caminho da apreciação dessas pautas. Assim, é até possível que os mercados locais se animem um pouco com a conclusão mais acelerada do impeachment de Dilma, mas as comemorações não vão durar muito.

Nos bastidores, Temer estaria intensificando os encontros com senadores para garantir os 54 votos necessários para continuar no poder e embarcar para a reunião do G-20, no início de setembro na China, como presidente efetivo. Além disso, Temer estaria tentando antecipar a data do julgamento contra Dilma temendo ser alvo da Operação Lava Jato.

Isso porque o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha também está prestes a ser julgado no plenário da Casa. Mas, em retaliação, ele prepara um dossiê sobre seus aliados políticos, reunindo documentos sobre financiamento de campanha e cargos para uma eventual delação premiada. Cunha nega.

Diante disso, o governo Temer diz que quer adiar a cassação de Cunha para não contaminar nem tumultuar a votação do impeachment de Dilma, mas, principalmente, para que Cunha não saia fazendo delação premiada assim que for cassado. Essa questão se sobrepõe, inclusive, à votação de medidas fiscais, como a PEC do teto dos gastos ou a renegociação da dívida dos Estados.

Porém, na volta dos trabalhos legislativos, deputados de vários partidos cobraram do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a leitura em Plenário do relatório que pede a cassação de Cunha. Feito isso, inicia-se a contagem dos prazos para a votação da cassação, o que deve ocorrer em até duas sessões. Maia prometeu a leitura para a próxima segunda-feira. Agora, é esperar e ver o que será votado primeiro.

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