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Investidor comprou risco em julho, mas BCs frustraram expectativas


Julho foi o segundo melhor mês do ano da Bovespa, com valorização de 11,2%, atrás apenas do desempenho em março (17%), ao passo que o dólar encerrou perto da menor cotação em um ano, abaixo de R$ 3,25, acumulando um recuo mais de 15% ante o real em 2016. Trata-se apenas de um exemplo do apetite dos investidores por ativos mais arriscados ao longo do mês, em sintonia com tônica que prevaleceu entre os países emergentes.

No caso brasileiro, esse movimento reflete a expectativa mais positivas em relação ao país, diante das apostas pela definição do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Tal perspectiva determinou a reabertura do ingresso de recursos estrangeiros ao Brasil, fortalecendo o real e elevando a demanda por risco - principalmente na renda fixa, onde a taxa de juros (Selic) de 14,25% ao ano passa a ser atraente nesse cenário.

Mas esse rali foi comandado por Wall Street. Os índices Dow Jones e S&P 500 cravaram sucessivas máximas históricas em julho, com o primeiro quebrando recordes durante sete pregões seguidos e o segundo, durante seis. Ao mesmo tempo, o dólar ficou mais fraco ante os rivais globais, diante das apostas por estímulos monetários sem precedentes e uma maior cautela no processo de aumento dos juros nos Estados Unidos, após as incertezas com a decisão surpreendente do Reino Unido de sair da União Europeia (UE) – o chamado Brexit.

Porém, reiteradamente ao longo de julho, os bancos centrais mostraram pouca disposição em abrir a torneira do dinheiro, empoçando os mercados financeiros de recursos. Há apenas a sinalização de que a política monetária seguirá branda, mas sem necessariamente adotar novos estímulos. E o mês de agosto pode reservar uma correção desses exageros recentes.

A primeira surpresa ficou com o próprio Banco Central da Inglaterra (BoE), que optou pela manutenção da taxa de juros no Reino Unido em 0,5% ao ano, contrariando a expectativa por um corte de 0,25 ponto porcentual a fim de conter os impactos do Brexit. Na sequência, foi a vez do Banco Central Europeu (BCE).

Embora não se esperasse nenhuma nova ação por parte da autoridade monetária da zona do euro, a sinalização do presidente da instituição, Mario Draghi, de que as ferramentas estão disponíveis, mas só serão usadas se necessário, também turvou as expectativas por uma renovada rodada de estímulos na região da moeda única. Ainda assim, a porta ficou aberta.

Depois, foi a vez do Japão. Além de frustrar a perspectiva de lançar “dinheiro do helicóptero” – uma operação conhecida pelo financiamento dos gastos públicos através do Banco Central, o BC japonês deixou de tornar ainda mais negativa a taxa de juros no país e apenas elevou a compra de fundo de ações, na medida expansionista mínima possível.

O Federal Reserve bem que tentou realinhar as expectativas dos investidores e sinalizou que a taxa de juros nos Estados Unidos pode voltar a subir ainda este ano, o que seria uma ação agressiva (“hawkish”) frente à condução suave (“dovish”) de política monetária esperada. Porém, o crescimento menor que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo trimestre deste ano, na primeira estimativa, mostrou razões para o Fed seguir inerte.

De um modo geral, o mercado parece ter dificuldades em digerir essa inércia dos principais bancos centrais globais. Porém, as decisões de política monetária que marcaram o mês de julho pelo mundo mostram que os BCs estão, em verdade, de mãos atadas, pois suas ações já adotadas parecem ter poucos efeitos para resgatar a economia global e fazê-la reagir.

No caso brasileiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) passou a bola para Brasília, condicionando o processo de queda dos juros básicos à aprovação de medidas austeras e a um programa robusto de cortes dos gastos públicos. Sob nova direção, o Copom realçou as preocupações com os riscos fiscais, fazendo sobressair as divergências entre o Palácio do Planalto e a equipe econômica.

E as incertezas em relação à viabilidade e à aprovação das reformas econômicas no país só aumentam, em meio aos sinais de que o governo parece estar tendo dificuldades para entregar o ajuste necessário e mantendo um viés fiscal expansionista. Enquanto o presidente interino Michel Temer promove uma troca de favores, abrindo os cofres públicos para garantir a saída definitiva de Dilma, o benefício da dúvida dado pelos investidores começa a perder efeito.

Afinal, não basta apenas ter uma equipe econômica “market friendly”, é preciso ações duras e firmes – sem querer agradar a todos. Para o mercado, essa tentativa de atender a todos acaba não agradando a ninguém.

Com a virada da “folhinha”, os investidores aguardam a volta dos trabalhos no Congresso, que pode destravar o embate fiscal e encaminhar o processo de impeachment, cuja julgamento final ficou apenas para o fim do próximo mês. Na Esplanada dos Ministérios, porém, crescem as rusgas entre a Fazenda de Henrique Meirelles e o Planejamento de Dyogo Oliveira.

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